segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A política do possível

A história está na base da política externa francesa, a qual rege-se por valores fundamentais, como a paz e a segurança, o respeito e a defesa dos direitos humanos, a organização multilateral num mundo multipolar (sem sacrificar a sua soberania e autonomia), a proteção do ambiente e o fim das desigualdades entre os Estados.
Vejamos algumas estratégias da política externa francesa. Em relação à paz e segurança internacional, a luta contra a proliferação nuclear, proteção dos cidadãos e expansão do CSNU. Quanto à defesa e promoção dos direitos humanos, a França apoia instituições que promovam os direitos humanos, como por exemplo o Conselho dos Direitos Humanos, opera exteriormente para salvaguardar o direito à vida, liberdade e segurança, como para proteger e prevenir crimes contra a humanidade. Relativamente à regulamentação internacional, apoia as empresas francesas no estrangeiro. A nível europeu, pretende simplificar as instituições e o funcionamento da UE através da harmonização das regulamentações, ir mais longe na integração dos membros, providenciar esclarecimentos sobre a União e dar flexibilidade aos Estados que queiram avançar mais rapidamente e criar cooperações mais estreitas entre os membros.
A França conta com o apoio de uma organização que administra a ajuda francesa no exterior - a Agência Francesa de Desenvolvimento, sendo os principais objetivos o desenvolvimento de infraestruturas, o acesso a assistência médica e educação, a implementação de políticas económicas e a consolidação da democracia. Sendo o único país a exercer a sua soberania sobre vários territórios a sua presença geopolítica é importante a nível global, sendo que conta com o auxílio de uma rede enorme de embaixadas e consulados.
A nível de organizações, a França é membro da ONU e um dos membros permanentes do Conselho de Segurança. É membro do G8, da OMC, do Secretariado da Comunidade do Pacífico e da Comissão do Oceano Índico. Além de ser membro fundador da NATO, é membro da Associação dos Estados das Caraíbas e da Organização Internacional da Francofonia
O desejo de contrariar o poder alemão e de contrabalançar a influência inglesa e americana estão na base do estabelecimento das alianças, as quais caracterizam-se pelo facto de a França aliar-se a países vizinhos ou que se encontrem no lado oposto do inimigo – alliance de revers. Algumas dessas alianças foram a aliança franco-americana (contra a Grã-Bretanha) e a aliança franco-russa (contra a Alemanha).
Tendo tudo isto em mente vejamos algumas concretizações da política externa francesa. Após a II Guerra Mundial, Charles de Gaulle tentou obter um assento no Conselho de Segurança da ONU e distanciar-se da hegemonia americana. Robert Schuman propôs que se colocasse a produção franco-alemã de carvão e do aço sob a alçada de uma Alta Autoridade comum (CECA), cujo objetivo era reforçar a solidariedade franco-alemã, afastar a guerra e abrir caminho para a integração europeia. Surgiu a discussão da CED, sendo que esta nunca foi ratificada devido à posição gaulista. De Gaulle reivindicou a reorganização das relações externas, reequilibrando assim as relações francesas, inglesas e norte-americanas acerca da gestão das crises internacionais e nucleares. Outra orientação da política externa foi a política pró-árabe francesa, a qual começou com a Guerra dos Seis Dias aquando a França era um dos apoiantes de Israel.  
François Mitterrand interveio na operação no Chade contra as tropas de Gaddaf e apoiou os EUA na guerra do Kuwait, recuperando as boas relações com Washington. Jacques Chirac reabilitou a vontade política (posição firme contra a Sérvia) e desenvolveu políticas quanto ao ambiente, fornecimento de medicamentos, luta contra a desigualdade e diversificação cultural. Da mesma forma que apoiou os EUA na Operação Enduring Freedom marcou diferença quanto à Operação Raposa do Deserto. O resultado foi uma das piores crises entre os dois países desde a década de 60 - rutura de contatos.
Nicolas Sarkozy defendeu a rutura da política externa francesa. Iniciou a reforma do capitalismo global, reforçou o contingente no Afeganistão mais fracamente do que o desejado pelos EUA e recusou a entrada da Turquia na UE. Nota-se a reaproximação da França aos EUA, sendo que François Hollande é o principal interlocutor europeu com Washington.
Mais recentemente, face à crise económica a França desenvolveu uma política externa assente no apoio das empresas em mercados estrangeiros, atração de investimentos estrangeiros e adaptação do quadro de regulamentação europeia e internacional. Destaque-se o reforço das relações económicas com a Rússia, México, Japão e a China e a missão de promover contatos entre as regiões e as empresas francesas por parte dos embaixadores. Perante os atentados terroristas, a França e a Alemanha formaram uma aliança contra o Estado Islâmico. Acrescente-se a extensão do período do Estado-de-emergência, a alteração da Constituição Francesa, a qual permitia a França proteger qualquer cidadão e o aumento dos ataques contra o Estado Islâmico. Por fim, quanto à crise dos refugiados, a França e Alemanha apresentaram uma imposição de quotas para o acolhimento de refugiados e uma série de medidas sobre a organização do acolhimento de refugiados, a justa repartição pelos países europeus e a harmonização das normas para reforçar o sistema de asilo europeu.

Sara Correia, Nº 216287
Fontes:
http://politique-du-possible.org/?p=771

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