domingo, 28 de fevereiro de 2016

De Potência Imperial a Parte da União

As relações externas portuguesas, ao longo da história, podem definir-se em três grandes momentos, a viragem para o Atlântico, e consequente relacionamento com as províncias ultramarinas; o relacionamento ibérico; a democratização e consequente adesão às comunidades europeias.
O oceano Atlântico sempre marcou a identidade portuguesa, além de ter impacto na cultura nacional, reforçou a mais antiga aliança do mundo: a aliança luso-britânica, em que ambos tinham uma forte orientação marítima, mas, mais importante que esta aliança, foi a expansão portuguesa através deste oceano. O Atlântico tornou-se a porta de Portugal para o mundo, tornou-se o ponto de navegação para o descobrimento de novos mundos e culturas, levou Portugal de país pequeno para o maior império europeu à data. Além da importância geopolítica, o Atlântico teve uma importância económica enorme: tornou-se no novo caminho para o comércio, além de permitir a comercialização de novos tipos de bens e produtos.
Desde o inicio dos descobrimentos, até ao fim do Estado-Novo, que a política externa portuguesa se concentrou no Atlântico e na relação com as colónias portuguesas, nomeadamente em três frentes: o Império da Índia, o Império do Brasil e o Império Africano. O início da expansão, a partir do século XIV, tinha como principal objectivo a chegada à Índia, via marítima, para Portugal obter o controlo do comércio das especiarias, através de uma rota mais rápida, nomeadamente através dos oceanos. A Índia pode ser considerada a primeira frente de relações, ou seja, o primeiro império, por permitir um controlo económico importante para Portugal, que definiria a posição de Portugal no panorama europeu. Porém, o facto de o comércio das especiarias ser tão invejado por outras potências europeias, levou a um aumento da competição entre europeus, como os ingleses e holandeses, que tentavam disputar o lugar de Portugal na Índia, facto é que Portugal orientou a sua política para outra colónia: o Brasil. O Brasil faz parte do segundo império português, o mais duradouro, que se tornou a base de Portugal, especialmente através da descoberta de ouro e de outras pedras preciosas, além de outras matérias-primas, algumas novas para os europeus. As relações externas portuguesas dependiam muito desta colónia, assim como a posição de reino absoluto e rico, no entanto, quando em 1822 o Brasil se torna independente, Portugal encontra uma alternativa à colónia brasileira, é assim que se desenvolvem as colónias africanas. A terceira frente são as colónias africanas portuguesas, também elas muito disputadas por países europeus, devido à sua riqueza em matérias-primas e posições estratégicas, são nova linha de defesa no que toca à política externa portuguesa, especialmente porque, Portugal, tinha que defender as suas colónias e fazer valer a sua diplomacia: caso disso acontece na conferência de Berlim (1884/85) e com o ultimatum inglês de 1890. A principal estratégia da política externa portuguesa, nesta fase, era salvaguardar o império português.
Outro importante momento da política externa portuguesa ocorre entre 1945 e 1949, com a candidatura de Portugal à Organização das Nações Unidas (ONU). Portugal queria entrar na ONU sem perder a coesão do império, para tal consagrou-se uma aliança entre Portugal e os Estados Unidos da América, em 1948, com a assinatura do acordo das Lajes, do qual demarca-se um novo posicionamento da política externa portuguesa, com um afastamento dos tradicionais aliados, os britânicos, e uma aproximação aos Estados Unidos. Em 1949, Portugal participa nas resoluções para a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), marco importante para a política externa portuguesa onde Portugal tenta negociar a inclusão das suas colónias como áreas abrangidas pela protecção da NATO e tenta a inclusão de Espanha como membro fundador, embora ambas as pretensões terem sido negadas, marca a importância da relação de Portugal com as colónias e com Espanha. Finalmente, em 1955, Portugal é admitido na ONU, porém no mesmo ano dá-se a Conferência de Bandung, onde o contexto era a descolonização e o não-alinhamento tanto para Ocidente como para a URSS, o chamado terceiro mundo organiza-se contra os colonizadores. Torna-se cada vez mais difícil a Portugal conseguir apoio para a defesa das suas colónias a nível internacional, tanto que, são aprovadas três resoluções na Assembleia das Nações Unidas que prejudicam Portugal e as suas pretensões: a concessão do direito à autodeterminação, estabelecia-se os princípios sobre as medidas tomadas para a autodeterminação e identificava a lista de territórios não-autónomos, dos quais incluíram as colónias portuguesas. É neste contexto que a política externa portuguesa se concentra em fazer crer aos seus aliados, assim como aos restantes membros das Nações Unidas, que as colónias portuguesas não são colónias, mas sim províncias de Portugal descontínuas ao seu território. Dai que uma das medidas tomadas passou pela alteração do nome “colónias” para “províncias ultramarinas”, outra medida foi a abolição do estatuto do indigenato, que acabava com a diferença entre um cidadão português e um indígena. Embora a aplicação destas medidas tenha de facto acontecido, os movimentos nacionalistas africanos começam a surgir e a tornarem-se visíveis, com bastantes apoios, mesmo internacionais.
A mudança da política externa portuguesa ocorre a par com o processo de democratização nacional, onde um dos grandes pilares é a descolonização africana. O processo de autodeterminação das colónias portuguesas só se dá após 1974, após a guerra colónia que se prolongava.
A adesão portuguesa às comunidades europeias é outro marco na política externa portuguesa, marca uma viragem de política assente no Atlântico, que durou séculos, para uma nova política virada para o continente europeu. Esta nova política externa tinha como objectivo a adesão às comunidades europeias como forma de modernizar o país, assim como afirmar perante a comunidade internacional que Portugal era uma democracia consolidada. Foi a partir deste momento que houve uma mudança de estilo na política externa portuguesa, que passou de relações unilaterais para relações multilaterais, com um novo grau de exigência que também implicou alguma perda de soberania na política externa portuguesa.
Concluindo, embora Portugal tenha passado de uma política externa assente no seu vasto império, para uma política externa assente em directrizes da União Europeia, não compromete as suas relações externas com antigos aliados, como Inglaterra, com aliados tradicionais como Espanha e com países pertencentes a ex-colónias portuguesas, como o Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Timor e a região administrativa de Macau. No entanto, é importante fazer uma breve referência às relações luso-espanholas, que sempre assentaram no risco de uma evasão espanhola e na defesa contra esse risco.

Joana Bandeira dos Santos 

Referências bibliográficas:
- Sá, Tiago Moreira de (2015) – Política Externa Portuguesa. Fundação Francisco Manuel dos Santos

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