domingo, 28 de fevereiro de 2016

No centro de dois mundos

A Turquia localiza-se na fronteira Este da Europa, separando o velho continente do médio oriente, tornando o país num ponto estratégico geograficamente. Este facto acaba por ter influência na política externa da Turquia, nomeadamente em termos militares e económicos.
A política externa turca está a entregue ao ministro dos Negócios Estrangeiros, que neste momento é Mevlut Çavusoglu, e no âmbito das relações com a União Europeia (UE), a cargo do ministro dos Assuntos da UE, cargo actualmente ocupado por Volkan Boskir. O pedido de adesão que se arrasta há vários anos (convém frisar que em 2005 foram iniciadas as negociações formais para a adesão plena e desde então o processo tem decorrido com alguns entraves colocados por ministros de outros países da União) leva a que este ministro seja responsável também por essas negociações de adesão. É certo que no entender dos turcos, a adesão à UE se apresenta como um passo fundamental para a consolidação da economia turca, para o crescimento do país e para vincarem uma posição no mundo global.
Em termos diplomáticos e de proximidade com os cidadãos, a Turquia aposta numa representação alargada no mundo inteiro, com destaque para a Europa. Países como a Alemanha possuem uma rede mais alargada dada a vasta comunidade de cidadãos turcos presentes no país.
É importante referir que num mundo cada vez mais globalizado, e onde predomina a interdependência entre as nações, a Turquia acompanha essa evolução atribuindo um papel à política externa cada vez maior. Para ajudar nesta conclusão, podemos observar no orçamento de 2014 que a soma do investimento em dois ministérios importantes para a política externa turca, o ministério dos Negócios Estrangeiros e o dos Assuntos da União, totalizam um investimento nesse ano de aproximadamente 2 355 000 milhões de liras. Comparando assim com o orçamento de 2015 para os mesmos dois ministérios, a soma fixa-se aproximadamente em 3 151 000 milhões. Nota-se portanto um crescimento do investimento e da aposta na política externa, sendo quase certo que em 2016 o crescimento do investimento deverá ser ainda maior. Apesar deste crescimento estes valores ainda não representam uma fatia muito significativa do orçamento, se nos limitarmos apenas a estes ministérios. Como é evidente se tivermos em conta os valores do ministério da Defesa que também assume parte importante na política externa, nomeadamente no que diz respeito ao cumprimento das missões previstas nos acordos com a NATO, então o investimento já é uma grande parte do orçamento.
A Turquia mostra-se como um país ligado com o mundo e com os que o rodeiam. Prova disso é o facto de pertencer a uma série de organizações situando os seus interesses em todos os pontos cardeias do mapa. Sendo a fronteira oriental da NATO, tem particular interesse para as potências ocidentais, acabando por estar equipada com material militar de primeira categoria. Nesse sentido é membro da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e do Conselho da Europa. É também membro da Organização da Conferência Islâmica (OCI), Organização de Cooperação Económica do Mar Negro (OCEMN) e ainda da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Historicamente a Turquia teve tensões com alguns países como é o caso da Grécia e da Rússia. Mais recentemente, o clima entre a Turquia e a Rússia aqueceu um pouco devido ao caça F-24 russo que foi abatido pelo exército turco quando este atravessava o espaço aéreo da Turquia sem autorização. Gerou-se em volta do acontecimento uma certa polémica, o que deixou os membros da NATO em aparente sobressalto dado que a Turquia é membro da organização e estes seriam obrigados a prestar auxilio caso houvesse um conflito com os russos, o que não seria de todo apelativo dado o poderio militar que poderia gerar uma guerra à escala mundial.
A política externa turca tem-se centrado nos últimos tempos no conflito sírio, onde o problema que acaba por ocupar a agenda internacional, já provocou uma crise de refugiados que está a assolar a europa. O território da Turquia tem sido o primeiro abrigo dos refugiados após a fuga da Síria e do Iraque e tem sofrido inclusivamente atentados por parte do autoproclamado Estado Islâmico.
Baseando-se em Mustafa Kemal Atatürk fundador da República da Turquia, o país assume o seu lema “Paz em casa, paz no Mundo” na política externa, baseando aí toda a sua actuação. Torna-se cada vez mais evidente que esta estratégia externa tem como objectivo manter boas relações com os seus vizinhos, e ao longo do tempo a Turquia foi capaz de o fazer. Podemos considerar este país como uma ponte entre o Ocidente e o Oriente, capaz de primar pela diplomacia e pela moderação na defesa da democracia e da paz.
Vejo na Turquia um actor político em ascensão, que necessitará de prudência na actuação na arena internacional, e que do ponto de vista dos interesses económicos e sociais e de missão de paz que a UE tem, será por ventura muito importante contar com este país a bordo dessa missão. É do interesse dos turcos e é do interesse dos Estados-Membros.
A Turquia tem uma vista privilegiada para a separação entre as grandes religiões, para a divisão das grandes áreas comerciais, mas sobretudo para a divisão de dois grandes mundos: Ocidente e Oriente.

João Cunha

Fontes:

Sítio do Ministério dos Negócios Estrangeiros - http://www.mfa.gov.tr/synopsis-of-the-turkish-foreign-policy.en.mfa;
Sítio do Ministério dos Assuntos da UE - http://www.ab.gov.tr/?l=2;
Sítio do Ministério das Finanças -https://portal.muhasebat.gov.tr/mgmportal/faces/khbDetail?birimDizini=General+Budget+Institutions&_afrLoop=3829461676607800&_afrWindowMode=0&_adf.ctrl-state=mnp574mhk_29;

Mustafa Kemal Atatürk - http://www.mfa.gov.tr/turkish-foreign-policy-during-ataturks-era.en.mfa

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