terça-feira, 1 de março de 2016

A eminente queda da Política Externa Brasileira

A política externa brasileira já foi considerada uma das mais influentes do hemisfério sul, principalmente pela sua aproximação estratégica aos países africanos e latino americanos, a chamada Cooperação Sul-Sul. No entanto, hoje testemunhamos que os bons anos de política externa brasileira estagnaram, e podem mesmo sofrer um intenso retrocesso que poderá ter consequências ao nível das relações do Brasil com os seus parceiros económicos, e com a confiança das organizações que integra.
Apesar de já fazer parte integrante da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1945, a política externa brasileira ganha relevância durante o governo de Fernando Henriques Cardoso que durou cerca de 8 anos de 1995 a 2003. O Presidente foi o grande impulsionador da participação brasileira no cenário internacional, numa busca de credibilidade e integração do país.
Lula da Silva continuou como os esforços iniciados pelo anterior Presidente, e teve um papel fundamental no desenvolvimento das relações entre os países do hemisfério sul, caracterizando a sua atuação externa como “activa e altiva”, segundo o ministro Celso Amorim: “Altiva pois não devemos nos submeter a outras potências mais numerosas, mas sim lutar pelos nossos pontos de vista. E activa porque a política externa não se resume a ficar reagindo diante de situações, mas promover assuntos e agendas novas”. O facto é que foi Lula da Silva a trazer para a agenda internacional assuntos fracturantes, que a própria sociedade brasileira enfrentava, como a pobreza, a fome, educação e saúde. Assuntos que integravam uma nova agenda, a social. Foi através deste mesmos assuntos e aliados a uma cooperação económica que surgiram novas alianças como a China, India e Rússia, os chamados BRIC. E ainda o desenvolver cada vez mais efectivo das relações com o próprio continente africano, e a América Latina, impulsionou cada vez mais a importância dos países mais ao sul, conseguindo mesmo uma alteração positiva ao nível do poder e das negociações.
O grande momento de afirmação do Brasil foi sem dúvida o envolvimento deste na missão da ONU que pretendia a Estabilização do Haiti, destacando-se na área humanitária que tem vindo a defender desde Fernando Henriques Cardoso. O Brasil acompanhou a China e a India nos processos de hegemonia, que ficou claro devido à crise financeira de 2008, que atingiu principalmente os grandes focos de poder os Estados Unidos e a Zona euro. O Brasil procurava então assumir uma autonomia perante forças hegemónicas, principalmente aos EUA, do qual muitas vezes discordou em questões fracturantes como a reinserção da Cuba, na Organização do Estado Americanos (OEA), um dos principais fóruns de discussão política de todo o continente americano. A verdade é que conseguiu-o através das parcerias que até então encontrara, obrigando os outros atores internacionais a partilharem o poder até então na mão das potências do hemisfério norte.
Quando chegou ao poder Dilma Rousseff continuou a empreender a política de cooperação Sul-Sul, ponto estruturante da política externa brasileira, e prosseguiu ainda com a integração da América Latina, promovendo a crescente redução das assimetrias económicas, e nas relações externas, capacitando também estes países para a negociação na arena internacional.
Durante o segundo mandato o papel da presidente na política externa tem vindo a esbater-se, principalmente na área da cooperação sul-sul, verdadeiro triunfo da política externa brasileira. Aliado a este esbatimento surge também uma aproximação aos EUA, até agora quase que ignorado pelo Brasil, com o surgimento de um possível acordo de Livre-comércio entre os dois países. Estas duas atitudes do governo brasileiro surgem da clara crise política que o país enfrenta, associada aos crescentes casos de corrupção, dentro do governo que descredibilizam a atuação deste dentro e fora do país. Mas será que esta aproximação aos EUA não poderá por fim ao caminho até aqui percorrido pelo Brasil, como potência? E os países do hemisfério sul que contavam com o Brasil para conseguirem uma voz contra o norte, como ficará a relação entre estes atores? E a relação com o MERCOSUL, ou os BRICS?
Apesar destes problemas agora levantados a política externa brasileira, ainda hoje não conseguiu ultrapassar o seu verdadeiro obstáculo de levar este debate de política externa para o interior da sociedade brasileira. A política externa do Brasil era aplicada e discutida apenas pelo Presidente e pelo Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, contudo hoje já conseguimos observar uma ligeira mudança que integra outros ministérios, e alguns atores. Mas não é possível aproxima-la a política externa realizada pelos demais estados.
Esta são todas questões que devem ser tidas em conta pelo Brasil, de forma a definir que rumo deve seguir na sua política internacional, mas terá sempre um risco a correr.


Fontes:


 Karen Ferreira

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