A política externa brasileira já foi considerada uma das mais
influentes do hemisfério sul, principalmente pela sua aproximação estratégica
aos países africanos e latino americanos, a chamada Cooperação Sul-Sul. No
entanto, hoje testemunhamos que os bons anos de política externa brasileira
estagnaram, e podem mesmo sofrer um intenso retrocesso que poderá ter
consequências ao nível das relações do Brasil com os seus parceiros económicos,
e com a confiança das organizações que integra.
Apesar de já fazer parte integrante da Organização das Nações Unidas
(ONU) desde 1945, a política externa brasileira ganha relevância durante o
governo de Fernando Henriques Cardoso que durou cerca de 8 anos de 1995 a 2003.
O Presidente foi o grande impulsionador da participação brasileira no cenário
internacional, numa busca de credibilidade e integração do país.
Lula da Silva continuou como os esforços iniciados pelo anterior
Presidente, e teve um papel fundamental no desenvolvimento das relações entre
os países do hemisfério sul, caracterizando a sua atuação externa como “activa
e altiva”, segundo o ministro Celso Amorim: “Altiva pois não devemos nos
submeter a outras potências mais numerosas, mas sim lutar pelos nossos pontos
de vista. E activa porque a política externa não se resume a ficar reagindo
diante de situações, mas promover assuntos e agendas novas”. O facto é que foi
Lula da Silva a trazer para a agenda internacional assuntos fracturantes, que a
própria sociedade brasileira enfrentava, como a pobreza, a fome, educação e
saúde. Assuntos que integravam uma nova agenda, a social. Foi através deste
mesmos assuntos e aliados a uma cooperação económica que surgiram novas
alianças como a China, India e Rússia, os chamados BRIC. E ainda o desenvolver
cada vez mais efectivo das relações com o próprio continente africano, e a
América Latina, impulsionou cada vez mais a importância dos países mais ao sul,
conseguindo mesmo uma alteração positiva ao nível do poder e das negociações.
O grande momento de afirmação do Brasil foi sem dúvida o envolvimento
deste na missão da ONU que pretendia a Estabilização do Haiti, destacando-se na
área humanitária que tem vindo a defender desde Fernando Henriques Cardoso. O
Brasil acompanhou a China e a India nos processos de hegemonia, que ficou claro
devido à crise financeira de 2008, que atingiu principalmente os grandes focos
de poder os Estados Unidos e a Zona euro. O Brasil procurava então assumir uma
autonomia perante forças hegemónicas, principalmente aos EUA, do qual muitas
vezes discordou em questões fracturantes como a reinserção da Cuba, na
Organização do Estado Americanos (OEA), um dos principais fóruns de discussão
política de todo o continente americano. A verdade é que conseguiu-o através
das parcerias que até então encontrara, obrigando os outros atores
internacionais a partilharem o poder até então na mão das potências do
hemisfério norte.
Quando chegou ao poder Dilma Rousseff continuou a empreender a política
de cooperação Sul-Sul, ponto estruturante da política externa brasileira, e
prosseguiu ainda com a integração da América Latina, promovendo a crescente
redução das assimetrias económicas, e nas relações externas, capacitando também
estes países para a negociação na arena internacional.
Durante o segundo mandato o papel da presidente na política externa
tem vindo a esbater-se, principalmente na área da cooperação sul-sul,
verdadeiro triunfo da política externa brasileira. Aliado a este esbatimento
surge também uma aproximação aos EUA, até agora quase que ignorado pelo Brasil,
com o surgimento de um possível acordo de Livre-comércio entre os dois países.
Estas duas atitudes do governo brasileiro surgem da clara crise política que o
país enfrenta, associada aos crescentes casos de corrupção, dentro do governo
que descredibilizam a atuação deste dentro e fora do país. Mas será que esta
aproximação aos EUA não poderá por fim ao caminho até aqui percorrido pelo
Brasil, como potência? E os países do hemisfério sul que contavam com o Brasil
para conseguirem uma voz contra o norte, como ficará a relação entre estes
atores? E a relação com o MERCOSUL, ou os BRICS?
Apesar destes problemas agora levantados a política externa
brasileira, ainda hoje não conseguiu ultrapassar o seu verdadeiro obstáculo de
levar este debate de política externa para o interior da sociedade brasileira.
A política externa do Brasil era aplicada e discutida apenas pelo Presidente e
pelo Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, contudo hoje já conseguimos
observar uma ligeira mudança que integra outros ministérios, e alguns atores.
Mas não é possível aproxima-la a política externa realizada pelos demais
estados.
Esta são todas questões que devem ser tidas em conta pelo Brasil, de
forma a definir que rumo deve seguir na sua política internacional, mas terá
sempre um risco a correr.
Fontes:
http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-grri/a-crise-politica-e-a-politica-externa-saida-pela-direita-1366.html
[visitado em 28/03/2016]
http://www.cartacapital.com.br/internacional/desafios-da-politica-externa-brasileira-em-relacao-a-cooperacao-sul-sul-5416.html
[visitado em 28/03/2016]
http://www.acaoeducativa.org.br/index.php/em-acao/52-acao-em-rede/10004746-conferencia-nacional-debate-os-desafios-da-politica-externa-brasileira [visitado
em 28/03/2016]
Karen Ferreira
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