Análise de Política Externa - Inglaterra
Ao longo da história têm sido muitas as contribuições de Inglaterra para o mundo inteiro a diversos níveis. Estado unificado desde o ano 927 d.C., impulsionou toda a sua influência a partir da Era dos Descobrimentos, séc. XV, deixando um rasto do seu impacto político e cultural pelo resto do globo. Desde o seu idioma, à Igreja Anglicana, do seu sistema jurídico que serviu de base aos sistemas legais da common law, à formação do seu sistema parlamentar adoptado por inúmeros Estados, bem como a conhecida Revolução Industrial, são tudo factores e credibilizam a actuação de Inglaterra no cenário internacional.
Todos estes e muitos outros são episódios que permitiram a Inglaterra estabelecer determinados valores e princípios pelos quais se rege o interesse nacional que, por sua vez, condiciona o conjunto de acções e decisões em relação ao que, neste caso mais interessa, o domínio externo enquanto Estado. Para compreender a questão da política externa inglesa na íntegra seria necessários muitos anos de pesquisa ao mais pequeno pormenor que esclarecesse todas as linhas que conduziram a determinadas decisões e acções dos actores que interferem na mesma. Mas, duma maneira geral, basta uma introdução para situar o leitor através duma breve perspectiva histórica.
Desde o período dos Descobrimentos supra referido, Inglaterra tem-se centrado na obtenção de um equilíbrio de poder, com nenhum país a controlar o continente europeu, ao contrário duma política imperialista territorial. O principal inimigo, desde a Guerra dos Cem Anos até a derrota de Napoleão (1337-1815) foi a França, um país maior, com um exército mais poderoso do domínio terrestre, visto que os factores geográficos restringiam o seu poder militar, mas conferindo uma forte projecção do poder naval na qual era depositada a dependência da segurança nacional, procurando manter a sua Royal Navy, criada por Henrique VII, o mais poderosa possível. Os ingleses foram geralmente bem sucedidos em suas muitas guerras, com a notável exceção da Guerra da Independência Americana (1775-1783), quando, sem grandes aliados, foram derrotado pelos colonos que tiveram o apoio da França, Países Baixos e Espanha . A estratégia diplomática favorecida foi subsidiar os exércitos aliados continentais, como a Prússia, transformando, assim, o enorme poder financeiro de Londres numa vantagem militar.
Para além da guerra, outros factores históricos possuem um enorme relevo na construção da política externa concisa. O cisma religioso, por exemplo, permitiu uma aliança das ilhas do Reino Unido, apesar de a Reforma ter conferido alguma separação em relação a outras nações europeias. Em relação à tomada de decisão política, o sistema possuía características centralizadas no monarca, que realizava esta actividade por si mesmo e pelo Privy Council na maioria das questões, excepto a questão das taxações.
Até o séc. XVIII era evidente a ascensão do poder inglês. O período seguinte é marcado por uma espécie de auge da sua potência. Desde as Revoluções Francesas ao Congresso de Viena (1789-1815), Inglaterra rejeita uma divisão de poder com Napoleão, de adoptar uma política de coalizões contra a França hegemônica e de estabelecer um arranjo que propiciasse um equilíbrio internacional no Congresso de Viena (mesmo abrindo mão de ganhos territoriais) demonstrando a constante e calculada preocupação com o equilíbrio de poder por todo esse período. A adopção definitiva duma Blue Water Strategy, ou seja, do objetivo de concentrar esforços na expansão do império ultramarino e não na expansão territorial na Europa, forneceu legitimidade para a atuação das negociações do Congresso de Viena e confirmou a vocação naval da Inglaterra.
O período contemporâneo marca, de alguma forma, o declínio da potência inglesa a partir do governo New Labour que parecia apontar para uma mudança fundamental na política externa da Inglaterra. A proposta de proporcionar uma “dimensão ética” para as relações internacionais e a doutrina liberal intervencionista sugeriram uma nova estrutura teórica como base para a sua atuação internacional. As diversas intervenções podem ser consideradas um novo fator na política externa inglesa. Não há dúvida de que as mudanças advindas do 11 de setembro apresentaram à Inglaterra um novo conjunto de escolhas que a levaram a assumir um papel protagonista nas invasões do Afeganistão e do Iraque, confirmando um estatuto intervencionista.
As orientações descritas são fruto da tradição, resultado da cultura, da geografia e da história da ilha, manifesto em comportamentos recorrentes e preferências históricas. A política externa de qualquer nação será sempre a busca pelo “interesse nacional”. Contudo, é justamente a definição de “interesse nacional” e dos instrumentos considerados legítimos para alcançá-lo que distingue a atuação dos países a longo prazo. No caso da Inglaterra, foi visto que o pragmatismo limitado pela tradição instrui muito da atuação inglesa nos últimos séculos. São elementos recorrentes e a génese das orientações coerentes da política externa de Inglaterra.
João Mendes
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