segunda-feira, 14 de março de 2016

BREXIT: O impacto da imprevisibilidade

Assumimos como facto, que as decisões que são tomadas no campo da política externa, influenciam intimamente toda a política interna de um Estado ou de outro qualquer ator, assim como, vice-versa. A questão dos conflitos já duradouros, que se têm travado entre a União Europeia e o Reino Unido, e que apesar de se ter chegado a "acordo", só a 23 de junho do presente ano é que os Britânicos poderão por o ponto final, é uma das provas mais recentes e indubitáveis, de como a política interna e externa, de um ator, e neste caso, do Estado, estão quase que umbilicalmente interligadas. Ou seja, as ações (ou não ações) que são feitas numa destas políticas, traduzem-se em automáticas consequências (quer estas sejam positivas ou negativas) na outra política.
Desde cedo, que o Reino Unido, pela sua história, pelo seu imperialismo económico, por ser enfrentado enquanto uma das grandes potências mundiais, foi revelando o seu valor enquanto importante aliado estratégico. Talvez por isso, assumiu sempre uma posição firme, relativamente a este projeto, denominado agora, de União Europeia. Assumiu-se constantemente enquanto "awkward partner" no meio dos atuais 28 Estados-Membros, afincando o pé, relativamente à salvaguarda da sua soberania, ficando por isso de fora, de acordos tão relevantes e que distinguiam a União Europeia de qualquer outro projeto, como é o caso da introdução da política da moeda única (o euro), ou da livre circulação de pessoas dentro dos países signatários, sem a necessidade de mostrar passaporte nas fronteiras, denominado de Espaço Schengen. Contudo, apesar de todas os confrontos que opõem o Reino Unido à UE, foi a mais recente crise dos refugiados, que acento-ou esta clivagem entre ambos os atores, levando o Reino-Unido a por um ponto final nas crescentes e sucessivas imposições feitas pela UE, e que aos olhos de muitos Britânicos destroem aquilo que é a sua identidade e interfere com a soberania do Estado, a segurança e bem-estar dos cidadãos. 
      Apesar dos acordos feitos entre David Cameron, o primeiro-ministro britânico, e os líderes dos restantes 27 Estados-Membros, que garantem ao Reino Unido um estatuto especial em matérias mais conflituosas, a decisão acerca da saída ou permanência do Reino Unido enquanto Estado-Membro da UE, está nas mãos dos Britânicos, que o irão decidir do dia 23 de junho do presente ano, como já foi acima referido. No entanto, inúmeras questões se levantam agora. Questões essas que vão influenciar diretamente a decisão da saída ou permanência. Essas questões prendem-se fundamentalmente com o "E depois?". Inúmeras especulações se fazem, de como a saída ou permanência podem afetar o dia-a-dia do Reino Unido nos mais diversos campos, como por exemplo: desporto e cultura, as pesquisas cientificas, consumidores e turismo, o nível de educação, a agricultura, a segurança e defesa, as questões ambientais, toda a esfera económico-financeira (questões como o PIB, ou o comércio), o choque político, as relações com a Europa, e a imagem/credibilidade para o restante mundo. A realidade é que todas estas questões são fundamentais de se avaliar, para se fazer uma escolha com consciência, evitando o máximo possível de repercussões negativas, neste que vai ser um referendo histórico, na história da UE.
            Contudo, desengane-se quem pensa que caso o "Brexit" se concretize, que as consequências irão apenas recair sobre o Reino Unido. Sendo este, a quinta maior potência mundial, e uma das maiores, senão a maior da Europa, claramente que a sua saída da União Europeia, irá afetar quer o funcionamento e imagem da União Europeia, quer as políticas internas de cada Estado-Membro. A sua saída, tal como já veio o ministro das finanças Alemão, Wolfgang Schaeuble, afirmar publicamente, irá "envenenar" não só a economia do Reino-Unido, como, as economias dos restantes 27 estados signatários da UE. Os longos anos que irão demorar as difíceis negociações para a efetiva saída do Reino Unido, vai criar um clima de grande instabilidade política e económica que irá, consequentemente, afetar negativamente não só o Reino Unido em si, como os restantes membros, pondo até em risco, as instituições europeias, que durante anos trabalharam para assegurar a convergência de interesses e objetivos comuns, tendo como pedra basilar, a cooperação entre Estados, que tornava este "projeto de paz" único. 
A saída do Reino Unido, irá abalar cada segmento da vida comunitária da União Europeia, obrigando esta a repensar-se, caso o "Brexit" seja a escolha final. 
A pergunta que fica no ar será "O que saíra mais afetado?". A política externa do Reino Unido ou as políticas internas dos Estados-Membros da UE?
O certo é que em tempo de referendo é a incerteza paira no ar, quer antes, quer depois. 


Ana Carolina Mendes, nº216299

Fontes:
http://www.ionline.pt/500170 - consultado a 12 de março de 2016




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