terça-feira, 29 de março de 2016

Pacifismo Nipónico Reformado

É um marco notável a mudança de atitude do Japão como ator internacional pacifista, uma referência que perdura há 69 anos, após a formulação em 1947 do seu texto constitucional no qual explicita o “uso da força ou à sua ameaça na resolução dos conflitos entre nações".
Em 2014, o governo japonês de Shinzo Abe decidiu efetuar uma "reinterpretação" da sua constituição pacifista, para permitir que as forças de autodefesa japonesas consigam efetuar e participar em missões fora do arquipélago, de modo a ajudar ou proteger os seus aliados. Esta medida foi claramente apoiada pelos EUA que visam proteger os seus interesses e, como consequência, deter mais influência internacional através do uso das suas soft skills, pois o Japão atualmente possui uma política externa e económica que favorece as suas trocas comerciais com os americanos, sobrepondo-se aos países territorialmente próximos.
Apesar de Shinzo Abe referir que o Japão não entrará numa guerra para defender um país estrangeiro, é certo que possuí o sexto maior exército do mundo, constituído através de vários programas de rearmamento efetuados e que recentemente enviou um batalhão de apoio aos EUA no Afeganistão (missão de paz), a sua intervenção militar ativa ainda carecia de pedido de 2 terços do parlamento e aprovada em referendo.
Tudo mudou, quando este ano o parlamento nipónico aprovou na sua câmara baixa o envio de militares para o exterior, algo que não acontecia desde a segunda guerra mundial, apesar de constantes manifestações de desagrado com esta postura " mais agressiva. O governo Japonês refere que esta medida é essencial para o seu país enfrentar os novos desafios mundiais, como uma China mais imponente internacionalmente.
Este último ponto é deveras o mais importante. Esta mudança de posição política do Japão irá agitar o clima geoestratégico daquele território, onde é visível a ambição de conter a potência vizinha (China) que tem vindo a aumentar o seu poder marítimo em águas tradicionalmente nipónicas. Também se observa um objetivo muito claro com esta mudança, o reforço com o seu parceiro geoestratégico, principalmente com os EUA, os quais partilham tradicionalmente o "controlo" ardiloso do Pacífico. Esta aliança é tanto indispensável para estes atores políticos como difícil, pois os japoneses não querem perder o seu aliado se acontecer uma guerra sino-japonesa, onde se o seu país não se tornar indispensável poderá perder o precioso apoio americano, ficando sozinho ao lado de potenciais “perigos” a nível económico e militar, como a China ou as Coreias.

Roberto Vieira

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