Na
Ucrânia, tem estado em vigor um cessar-fogo desde 12 de Fevereiro de 2015. Esse
cessar-fogo foi apenas alguns minutos depois da entrada em vigor, violado pelas
forças separatistas de Donestk e Lugansk, apoiadas pela Federação Russa, que
consideravam um “imperativo moral” a continuação da ofensiva sobre a cidade de
Debaltseve, independentemente do cessar-fogo. A cidade foi conquistada poucos
dias depois e desde então que a Ucrânia vive, oficialmente, com uma cessação de
hostilidades.
É
interessante começar por realçar que a Rússia está cercada por cessar-fogos em
conflictos onde se envolveu directa ou indirectamente. São os chamados
“conflictos gelados”, onde se verifica apenas uma “pausa” nas hostilidades e
falta chegar a um acordo de paz duradouro.
Temos como exemplos o conflicto na Transnístria (Moldávia), os
conflictos na Abecásia e Ossétia do Sul (ambos na Geórgia) e claro, a questão
da Crimeia e de Donbass na Ucrânia. Outra curiosidade é a aparente inabilidade
da Rússia “gerir” mais que um conflicto ao mesmo tempo. Para isso temos como
exemplo, a Ucrânia e a Síria. Por volta de Junho de 2015, a Rússia começou a
preparar (enviando armas de última geração aos Sírios, preparando bases aéreas,
etc) a intervenção que teria início a 30 de Setembro de 2015. É curioso como
durante esse tempo em que a Rússia estava “distraída” os separatistas e a
Ucrânia chegaram a um “novo” cessar-fogo que entrou em vigor a 1 de Setembro de
2015, numa tentativa de aproximação e de cessação das hostilidades que nunca
deixaram de acontecer. Ora, no passado dia 14 de Março a Rússia anunciou que
iria “retirar as suas forças principais” da Síria e focar-se no processo de paz
Sírio, isto após ter colocado as forças governamentais Sírias na ofensiva. E
não é curioso que após isto, a intensidade dos combates na Ucrânia disparou
para níveis que já não eram vistos há muito, levando alguns a questionarem-se
sobre se a guerra irá começar de novo?
A
Rússia não admite, mas a verdade é que invadiu a Ucrânia em Agosto de 2014,
numa altura em que os separatistas estavam na defensiva, progressivamente a
serem derrotados e com alguns líderes separatistas a falar na necessidade de
paz com a Ucrânia. Essa paz não foi necessária pois a intervenção Russa, tal
como na Síria com Assad, colocou os separatistas na ofensiva, até finalmente
ter-se chegado a um acordo de cessar fogo em Setembro, numa “proposta” de
Sergei Lavrov, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, algo que não era
nada mais, nada menos, que uma versão reciclada do plano de paz de 15-pontos
que Petro Poroshenko tinha proposto em Junho de 2014, após vencer as eleições
presidenciais Ucranianas. Ou seja, meses de combates e milhares de mortos para
se chegar ao acordo que já tinha sido proposto mas recusado pela Rússia e
separatistas.
Finais
de Março de 2016, é preocupante ver violações do cessar-fogo tão mais gravosas
do que o “normal”. É difícil dizer se a guerra vai recomeçar – há sinais de
descontentamento por parte da população de Donestk e Lugansk devido à ruína em
que vivem, à “total ausência de lei e ordem, detenções arbitrárias e tortura e
raptos" que a ONU diz existir e inclusivamente ao pedido dos cidadãos para
que os separatistas parem de atacar os Ucranianos e especialmente que parem de
o fazer a partir de zonas residenciais. O próprio “fundador” da Nova Rússia
(Novorossya), Igor Girkin (cidadão Russo que iniciou as hostilidades na Crimeia
e mais tarde no leste da Ucrânia, a tal Novorossya), diz que as Repúblicas de
Donestk e Lugansk só trouxeram pobreza e ruína. Não seria de todo, improvável,
que os separatistas fomentassem os combates, para poderem dizer que os
“fascistas” estão a atacá-los e assim unir a população em torno deles. Mas,
isso é especulação – para já não será expectável que o cessar-fogo colapse
totalmente. Já o Verão poderá trazer surpresas desagradáveis...
Gustavo
Gomes Nº216302
Fontes:
Sem comentários:
Enviar um comentário