quarta-feira, 30 de março de 2016

Violência contra a Mulher em tempo de guerra

               Infelizmente, desde que qualquer guerra tomou lugar que a Mulher foi utilizada como arma de guerra, de extorsão, de violação e de abuso sexual. Este tipo de acontecimento não tem religião ou etnia, sendo que qualquer razão é uma boa desculpa para a escravatura sexual.
                Durante a Segunda Guerra Mundial, mais de 100 000 mulheres e crianças do sexo feminino foram violadas e sexualmente abusadas por parte das tropas russas, principalmente no caminho entre a Polónia ocupada e Berlim. Nunca, nem a Rússia ou Berlim, vieram publicamente assumir o crime ou este foi punido em tribunal internacional. Durante a guerra da Independência da antiga Iugoslávia, cerca de 20 000 mulheres foram violadas pela milícia servo-bósnia com o objectivo de perpetuar o terror e de fazer uma limpeza étnica (ao engravidar várias mulheres com a “semente pura”, faz com que as próximas gerações sejam então puras também). Durante a guerra do Ruanda em 1994, em apenas três meses, entre 250 000 e 500 000 pessoas do sexo feminino foram sexualmente abusadas e torturadas. Mais de 200 000 mulheres são estimadas de terem sido violadas na Serra Leoa durante os anos noventa.
                A violação e o abuso sexual em mulheres em tempo de guerra são maneiras efectivas de criar o pânico, de humilhar tanto as mulheres como os homens, de ganhar informação e de fazer limpeza étnica.
                Com apenas um dia de diferença, chegaram á imprensa duas noticias actuais que abrangem este tema, e ambas perpetuam a escravidão sexual. A primeira, saiu dia 11 de Março, com o titulo “Pro-government militias in South Sudan are being offered women to rape in lieu of wages”. Aqui, descobrimos que no Sudão do Sul ao invés de receberem ordenados ou pagamentos em dinheiro ou comida, militares pró-governo recebem mulheres e crianças para violar em troca os seus serviços. Mais de 1300 violações foram registadas, segundo as Nações Unidas. A segunda, que saiu no dia 12 de Março, explica como certos métodos contraceptivos estão a ser utilizados no Estado Islâmico para perpetuar crimes de abuso sexual. Segundo vários testemunhos de sobreviventes, militares a favor do Daesh obrigam as mulheres que compraram a tomar a pilula e injecções contraceptivas de modo a que estas não engravidem. Tal acontece porque, segundo uma lei defendida por estes, uma mulher grávida não pode ter relações sexuais. Assim, para permitir que a escravidão sexual neste proclamado Estado Islâmico não acabe, as raparigas tomadas como reféns são obrigadas a tomar contraceptivos, enquanto são violadas dia após dia e vendidas, em média, mais de 3 vezes. Mais de 700 vítimas foram identificadas, sendo maioritariamente da etnia Yazidi, pelas Nações Unidas e apenas 5% se encontrava grávida. Este facto de inicio estranhou os médicos e investigadores do local porque, por norma e segundo vários estudos (incluindo o estudo feito pelo US National Institutes of Health), a gravidez derivada de violação em tempo de guerra costuma apresentar valores bastante altos.
                Felizmente, também com poucos dias de diferença, saíram dois artigos com notícias positivas. Ao fim de mais de 20 anos, fez-se justiça em nome de todas as mulheres que foram abusadas sexualmente durante as guerras pela independência da antiga Iugoslávia. Radovan Karadzic foi condenado no dia 24 de Março pelo Tribunal Criminal Internacional por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra, mas também foi tomado como responsável por utilizar a violação como uma arma de guerra. Três dias antes, Jean-Pierre Bemba, o antigo vice-presidente da República Democrática do Congo, foi também achado culpado por ter comandado violações em massa na Republica Centrafricana no período de 2002-03.
                O abuso sexual como arma de guerra é um crime reconhecido internacionalmente, e é um atentado á humanidade tão grande como qualquer tiroteio, bombardeamento ou atentado terrorista. Este tipo de crime não pode sair mais sem condenação. Quem os perpetua tem de ser acusado e responsabilizado por o fazer. Os países que um dia permitiram que isso acontecesse no seu território, têm também de se responsabilizar, têm também de se desculpar perante quem sofreu tal atrocidade.

 

Patrícia Silva

 

Fontes:

http://www.nytimes.com/2016/03/13/world/middleeast/to-maintain-supply-of-sex-slaves-isis-pushes-birth-control.html

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2080379/

http://www.ibtimes.co.uk/mass-rape-weapon-war-bosnia-verdict-warning-leaders-who-unbolt-heart-darkness-1551989

http://www.independent.co.uk/news/world/africa/pro-government-militias-told-to-rape-women-in-lieu-of-pay-as-war-crimes-continue-in-south-sudan-a6924956.html

http://www.dailymail.co.uk/news/article-1080493/Stalins-army-rapists-The-brutal-war-crime-Russia-Germany-tried-ignore.html

https://en.wikipedia.org/wiki/Rape_during_the_Bosnian_War 

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