Violência contra a Mulher em tempo de guerra
Infelizmente, desde que qualquer guerra tomou lugar que a
Mulher foi utilizada como arma de guerra, de extorsão, de violação e de abuso
sexual. Este tipo de acontecimento não tem religião ou etnia, sendo que
qualquer razão é uma boa desculpa para a escravatura sexual.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, mais de 100 000 mulheres e crianças do sexo feminino
foram violadas e sexualmente abusadas por parte das tropas russas,
principalmente no caminho entre a Polónia ocupada e Berlim. Nunca, nem a Rússia
ou Berlim, vieram publicamente assumir o crime ou este foi punido em tribunal
internacional. Durante a guerra da Independência da antiga Iugoslávia, cerca de
20 000 mulheres foram violadas pela milícia servo-bósnia com o objectivo de
perpetuar o terror e de fazer uma limpeza étnica (ao engravidar várias mulheres
com a “semente pura”, faz com que as próximas gerações sejam então puras
também). Durante a guerra do Ruanda em 1994, em apenas três meses, entre 250
000 e 500 000 pessoas do sexo feminino foram sexualmente abusadas e torturadas.
Mais de 200 000 mulheres são estimadas de terem sido violadas na Serra Leoa
durante os anos noventa.
A
violação e o abuso sexual em mulheres em tempo de guerra são maneiras efectivas
de criar o pânico, de humilhar tanto as mulheres como os homens, de ganhar
informação e de fazer limpeza étnica.
Com
apenas um dia de diferença, chegaram á imprensa duas noticias actuais que
abrangem este tema, e ambas perpetuam a escravidão sexual. A primeira, saiu dia 11 de Março, com o titulo
“Pro-government militias in South Sudan are being offered women to rape in lieu
of wages”. Aqui, descobrimos que no Sudão do Sul ao invés de receberem
ordenados ou pagamentos em dinheiro ou comida, militares pró-governo recebem
mulheres e crianças para violar em troca os seus serviços. Mais de 1300
violações foram registadas, segundo as Nações Unidas. A segunda, que saiu no
dia 12 de Março, explica como certos métodos contraceptivos estão a ser
utilizados no Estado Islâmico para perpetuar crimes de abuso sexual. Segundo
vários testemunhos de sobreviventes, militares a favor do Daesh obrigam as
mulheres que compraram a tomar a pilula e injecções contraceptivas de modo a
que estas não engravidem. Tal acontece porque, segundo uma lei defendida por
estes, uma mulher grávida não pode ter relações sexuais. Assim, para permitir
que a escravidão sexual neste proclamado Estado Islâmico não acabe, as
raparigas tomadas como reféns são obrigadas a tomar contraceptivos, enquanto
são violadas dia após dia e vendidas, em média, mais de 3 vezes. Mais de 700
vítimas foram identificadas, sendo maioritariamente da etnia Yazidi, pelas
Nações Unidas e apenas 5% se encontrava grávida. Este facto de inicio estranhou
os médicos e investigadores do local porque, por norma e segundo vários estudos
(incluindo o estudo feito pelo US National Institutes of Health), a gravidez
derivada de violação em tempo de guerra costuma apresentar valores bastante
altos.
Felizmente,
também com poucos dias de diferença, saíram dois artigos com notícias positivas.
Ao fim de mais de 20 anos, fez-se justiça em nome de todas as mulheres que
foram abusadas sexualmente durante as guerras pela independência da antiga
Iugoslávia. Radovan Karadzic foi condenado no dia 24 de Março pelo Tribunal
Criminal Internacional por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de
guerra, mas também foi tomado como responsável por utilizar a violação como uma
arma de guerra. Três dias antes, Jean-Pierre Bemba, o antigo vice-presidente da
República Democrática do Congo, foi também achado culpado por ter comandado
violações em massa na Republica Centrafricana no período de 2002-03.
O abuso
sexual como arma de guerra é um crime reconhecido internacionalmente, e é um
atentado á humanidade tão grande como qualquer tiroteio, bombardeamento ou
atentado terrorista. Este tipo de crime não pode sair mais sem condenação. Quem
os perpetua tem de ser acusado e responsabilizado por o fazer. Os países que um
dia permitiram que isso acontecesse no seu território, têm também de se
responsabilizar, têm também de se desculpar perante quem sofreu tal atrocidade.
Patrícia Silva
Fontes:
Sem comentários:
Enviar um comentário