A
situação de embargo económico imposta pelos EUA a Cuba que se verificou entre
1961 e 2014 constituiu um sério obstáculo ao desenvolvimento social e humano
neste país, com efeitos na produção de bens de primeira necessidade. Nos anos
60, este justificou-se pela revolução nacionalista de 1959, liderada por Fidel
Castro e na qual se verificou uma aproximação dos líderes políticos cubanos à
União Soviética, o que implicou o corte de relações entre os dois países.
Na
prática, o embargo económico imposto pelo presidente Eisenhower em 1960
resultou numa redução de um terço da importação de açúcar cubano e provocou
sérias dificuldades económicas a este país, num processo contínuo de agravamento
das dificuldades nas relações diplomáticas entre os dois países que culminou
com a crise dos mísseis em 1962, que colocou o mundo na eminencia de uma guerra
nuclear entre os dois países e foi o resultado da cooperação militar entre Cuba
e a URSS que permitiu a instalação de mísseis neste país.
Esta
situação de bloqueio económico foi evoluindo ao longo do tempo e assumiu um
contorne cada vez mais profundo com a proibição imposta às companhias filiais
estrangeiras de empresas americanas de realizarem comércio em Cuba e a
implementação de restrições à exportação de alimentos e limitação dos fluxos de
capital para esse país, que se verificou em 1999 e foi implementada pelo
presidente Bill Clinton. O clima de tensão foi atenuado devido a uma conjuntura
internacional favorável que alterou completamente as bases da política externa
dos EUA, tendo essa conjuntura surgido no final da década de 1980, altura que
coincidiu com o fim da guerra fria. Nesta fase, a política externa americana
tornou-se menos agressiva, no sentido da redução da intervenção militar que
tido ocorrido nos anos 80 em vários países da américa latina que possuíam
forças políticas consideradas como simpatizantes do regime Cubano, procurando
isolar politicamente o mesmo.
Apesar
destas alterações, o objectivo de isolamento comercial manteve-se na política
dos governos americanos que se seguiram, como se pode verificar no período do
governo de George Bush que aprovou legislação que mantinha firmes restrições ao
livre comércio cubano, como por exemplo a “ Ata para a Democracia Cubana” que
impunha sanções contra empresas americanas e governos estrangeiros que
prestassem assistência financeira ao governo cubano, apesar de já não existir
um inimigo em comum como acontecia no período da guerra fria, sendo este tipo
de políticas agora justificadas com base na defesa dos direitos humanos e a
imposição de uma alteração de regime político em Cuba no sentido de uma maior
democratização das instituições políticas, numa clara tentativa de ingerência
nos assuntos externos de outro país.
Todas
estas manobras estratégicas da parte dos EUA foram feitas á margem do direito
internacional e revelam que o interesse dos estados continua a prevalecer na
forma como se relacionam na sociedade internacional.
Em
Dezembro de 2014, os dois países começaram a encetar um acordo que visa a
reactivação das relações diplomáticas entre estes, situação que vai abrir
oportunidades para uma maior integração da economia cubana na senda da
globalização, permitindo o consequente desenvolvimento tecnológico e
melhoramento dos níveis de vida das populações.
O
grau de sucesso desta operação permanece indefinido, sendo que até agora o
presidente Obama tem demonstrado uma posição tímida em relação a um possível
fim do embargo económico cubano, tendo-se limitado ao encerramento da prisão de
Guantánamo, após elevada pressão por parte da comunidade internacional.
Esta
posição está bem patente no voto contra o fim do mesmo embargo expresso em
plenário da ONU em 2015, no qual 191 países votaram a favor e apenas os EUA e
Israel votaram contra. As dificuldades que estão na base deste possível acordo
centram-se em algumas questões que não chegaram a ser resolvidas, como algumas
acusações de espionagem e sabotagens e a exclusão de Cuba de algumas
organizações internacionais.
Talvez
a visita histórica de Obama a Cuba que se irá realizar na próxima semana
represente um passo neste sentido, naquela que vai ser a primeira visita de um
presidente americano a Cuba desde 1928.
Tomás
Simão
Sem comentários:
Enviar um comentário