Quando a relutância política se sobrepõe ao medo europeu
Marcava o calendário o ano de 1950, quando René Pleven,
Primeiro-Ministro francês na altura, propôs aos seus parceiros comunitários a
criação de uma Comunidade Europeia de Defesa (CED) inspirada no modelo da CECA.
Facto é que o êxito da iniciativa de Schuman fez com que os seus Estados fundadores
começassem a admitir a possibilidade de alargarem o processo e o método
comunitário a outros domínios, neste caso a tão necessária defesa, onde a
integração pudesse ser igualmente vantajosa. Desta forma, esta iniciativa
marcava uma solene e relevante tentativa de integração europeia na área da
defesa, através da criação de uma organização que englobasse um exército
europeu integrado e colocado sob uma autoridade comum. Contudo, este projecto
acabou por fracassar na sua totalidade, pois embora a ideia tenha sido bem
acolhida, uma das razões que haviam que haviam catalisado a CED para o
infortúnio prendeu-se com o facto de ainda ser demasiado cedo para um projecto
de tal natureza, uma vez que previa a criação de uma comunidade supranacional
num domínio tão sensível como o da defesa.
Neste sentido,
avançando cronologicamente para o presente ano, constatamos que a Europa tem
sido alvo de inúmeros ataques terroristas, que desbravam os alicerces
defensivos europeus sem qualquer tipo de
misericórdia . Ainda assim, Jorge Domecq, o actual director-executivo da
Agência Europeia de Defesa, veio a público afirmar que a Europa encontra-se
“confrontada como uma nova situação de segurança”. Neste cenário pouco
animador, o diplomata defende também que as fronteiras entre a segurança
interna e a segurança externa desvaceram-se de tal modo, que as as ameaças
assumem cada vez mais um carácter transnacional, fazendo com os Estados-membros
tenham em primeiro plano a cooperação necessária para enfrentar esta situação.
Situação esta, que para Domecq, vislumbrará na sua resolução a criação de um
patrulhamento armado por militares nas cidades europeias.
Numa linha de consenso
com estas palavras, Barack Obama, que acaba de visitar a Europa, não se conteve nos elogios ao “velho
continente”, como também ainda teve tempo de deixar um breve conselho à
comunidade europeia. Obama salientou, que se por um lado a União Europeia
caminha para uma luz cada vez mais próspera, assente em valores democráticos,
por outro tem assumindo uma postura tenra em relação a matérias de segurança
internacional- “Vou ser honesto: a Europa tem sido por vezes complacente com a
sua própria defesa”- disse o Presidente norte-americano. Desta forma,
Washington pediu uma acção europeia mais convicta contra os ataques terroristas
executados pelo Estado Islâmico, acrescentou ainda o papel decisivo dos países
europeus no combate contra os jihadistas na Iraque e Síria. Obama aproveitou
ainda o momento para alertar os europeus para os riscos de uma Rússia mais invasiva,
para que não se retirasse a sanções contra Moscovo.
Assim sendo, é de
conhecimento universal que a Europa comporta na sua essência uma importância
megalómana, mas que muitos tendem a subestimar, no entanto, no que se refere à
defesa, a vontade é imensa, tal como Jean Claude Junker já havia afirmado que
“um exército conjunto da União Europeia mostraria ao mundo que nunca mais
poderá haver uma guerra entre países europeus”. Esta ideia, que de nova não tem
nada, culminaria na construção de políticas externas e de segurança comuns,
permitindo assim à Europa assumir um papel de protagonista no que concerne à
questão da defesa internacional Numa primeira
perspectiva, a ideia reúne todos os elementos tentadores, ora a União Europeia
possui a maior economia do mundo, tem mais de 500 milhões de habitantes, ou
seja, recursos humanos é o que não lhe escasseia, assim como financeiros e
tecnológicos de forma a criar uma força militar de reverência. Todavia esta
ideia tem de tanto de relevante como de perigosa relativamente ao modo como
seria posta em prática, pois levantam-se questões como quem comandaria este
exército, se a composição do mesmo passaria por contingentes nacionais
destacados, tal como acontece na NATO, ou por todas as forças militares dos
países membros da União, e ainda como seria suportados os custos deste
exército.
Ainda assim, é de toda
a importância referir que esta opção política abraçaria a tese federalista, que
como se sabe é rejeitada por Londres, pois iria acrescentar à bandeira e à
moeda comum um vínculo de força militar. Um desejo que à muito que se
ambiciona, na medida em que esta não é um utopia que vem à superfície de vez em
quando, mas sim algo concreto, que poderia constituir-se como um elemento
dissuasor em muitos conflitos internacionais. Engane-se quem pensa que estas
constantes ameaças terroristas se resolveriam no seu âmago apenas com um
exército militar europeu, é preciso também uma resposta de prevenção dos serviços de informações e, posteriormente,
numa acção das unidades especiais das forças de segurança. Trata-se de um
processo altamente complexo, que não pretende de todo uma exacerbação de força,
mas sim em algo capaz de prevenir que a Europa continue a “sangrar” e a
“tremer” de medo.
De facto, não restam
dúvidas, que quando se toca no assunto da defesa, muitos países adoptam uma
postura reticente, pois a perda de controlo e soberania que implicaria na sua
defesa parece falar mais alto que uma ameaça que coloca em causa toda uma
União, que tanto lutou para por uma causa comum. A verdade, é que ainda hoje o
sonho de René Pleven ainda não se
concretizou, embora muitos Estados-membros estejam empenhados na criação de
uma. Tal só vem demonstrar a relutância dos Estados aceitarem que áreas
sensíveis do seu ponto de vista escapem ao controlo directo por parte dos
governos e instituições nacionais e sejam atribuídos a instituições
supranacionais.
Torna-se claro, que o
modo como os Estados-membros perspectivam a política de segurança europeia de
uma forma algo extremada e não consensual, pois ao que parece quando,
infelizmente, acontecem actos terroristas surgem apelos para uma maior e mais
intensa cooperação, todavia ao mesmo tempo também paira uma resistência, por
vezes incompreensível, no que se refere também a uma defesa mais integrada.
Longe vão os tempos em
que o solo europeu não se deparava com ameaças, longe vão os tempos em que
apenas se sentia o tremer do frio vindo dos nórdicos, agora treme-se por uma bomba no próximo metro. Tal como
aconteceu na área económica e política, a segurança, devia ser de uma vez por
todas, prioridade, porque quando os cidadãos receiam o governo acaba sempre por
balançar e, um governo que balança nunca estará firme.
Telma Pacheco nº216306 Fontes:
http://www.dn.pt/politica/interior/maioria-dos-paises-da-ue-rejeitam-exercito-europeu--4444154.htmlhttp://economico.sapo.pt/noticias/junker-e-o-exercito-europeu_214526.htmlhttp://observador.pt/2016/04/25/jorge-domecq-possibilidade-exercito-europeu-encarada-projeto-longo-prazo/
Sem comentários:
Enviar um comentário