Hungria de costas viradas para a Europa, e de portas abertas para a Rússia
A
dependência energética da Hungria face à Rússia sempre foi um factor de peso
dentro dos processos de tomadas de decisões por esta, mesmo quando se tratou de
impor sanções à sua vizinha, opondo-se sempre à posição da União Europeia.
O Primeiro-ministro Húngaro, Viktor
Órban foi em tempos um grande defensor do projecto europeu, tendo estado a
frente das negociações para a adesão do seu país à União Europeia, o que
aconteceu a 1 de Maio de 2004. No entanto, Órban viu na crescente desilusão da
população húngara face à integração europeia e à globalização, uma oportunidade
para assumir o seu eurocepticismo e com isto ganhar votos para a sua reeleição
em 2010. Rapidamente espalhou a confusão entre os líderes europeus após revelar
as suas intensões de “ (…) construir um estado-nação não liberal”, valorizando
exemplos como a China, ou a Rússia.
As políticas que levou a cabo, desde
que subiu novamente ao poder, rapidamente são identificáveis como de extrema-direita,
quebrando com muitos dos ideais defendidos pela União Europeia, afastando a
Hungria do caminho europeu, e dos seus parceiros. O caso mais visível acontece
com a recente crise de refugiados, quando a Hungria mostra o seu lado mais
radical, através da construção, ao longo da sua fronteira de vedação, na tentativa
de impedir os refugiados de passar pelo seu território. Promoveu internamente uma
consulta pública, através de inquéritos, para saber o que a sua população
sentia sobre a imigração, impondo nas próprias perguntas a xenofobia e duras
regras sobre a imigração.
Mas o ministro Húngaro e o seu
governo não ficaram por aqui. Desde a sua ascensão ao poder a liberdade de
imprensa tem sofrido graves ataques e restrições, o mesmo acontece com a
justiça e conseguiu mesmo alterar as leis eleitorais a favor do seu partido.
Mostrando um verdadeiro retrocesso dentro da sua democracia.
Os parceiros europeus, mais atentos
ao Reino Unido, e à sua possível saída da União, não tem prestado atenção à
Hungria, e ao seu relacionamento cada vez mais próximo da Rússia. O que tem
permitido à própria Hungria uma maior liberdade de actuação na sua política
externa sem supervisão da união em assuntos regulados por esta.
O mesmo pode dizer a Rússia, que
apesar das sanções económicas sofridas pelo anexação da Crimeia, tem conseguido
manter-se à par da situação europeia, e tem conseguido exercer influência directamente
à Hungria. Tendo mesmo renegociado um fornecimento de petróleo e gás, e fechado
um acordo para a construção de dois reactores atómicos na Hungria, com um
financiamento da própria Rússia. A dependência energética da Hungria, tal como
o eurocepticismo dos dois líderes, tem aproximado os dois países.
O caminho da Hungria esta cada vez
mais separado do caminho dos seus parceiros europeus, e consequentemente mais
próximo do caminho da vizinha Rússia, mas será suficiente para a Hungria sair
definitivamente da União Europeia? Dificilmente. Um processo de saída da União
deixaria Órban e o seu partido em baixos níveis de popularidade, o que levaria
a uma possível perda do seu poder. Neste momento, a proximidade de Órban à
Rússia é meramente oportunista, procurando através da ajuda desta um
afastamento de Bruxelas e das suas políticas. O papel que procura representar é
o de ponte de negociações entre a Rússia e o Ocidente, e tirar proveito dos
dois lados para si, e para a Hungria.
Karen Ferreira
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