terça-feira, 15 de março de 2016

A Quebra do Poder da Política Externa Britânica

    Após praticamente 500 anos detentora de um papel fulcral no cenário internacional, actualmente o Reino Unido parece ter renunciado todo o seu grandioso caminho percorrido. Contudo, este não é um aspecto que tenha sido alcançado do dia para a noite. Muitos apontam a génese desta situação ao mandato da controversa ex-Primeira-Ministra Margaret Thatcher, acusando-a da sistemática degradação do UK Foreign Office e do Commonwealth Office que representam uma das principais forças na execução e decisão da política externa britânica. O poder destas instituições foi gradualmente transferido e concentrado no Downing Street Office do Primeiro-Ministro, sob a criação do No. 10, com o pretexto de se considerar o Foreign Office um departamente determinado a desaproveitar os interesses vitais do Reino Unido.
    Posteriormente ao seu mandato, o novo P.M. Tony Blair deu continuidade à estratégica da sua antecessora, criando um círculo próximo de assessores com o objectivo da pré-decisão de matéria de política externa em reuniões particulares antes de serem apresentadas no Conselho de Ministros. Também o tradicional hábito da circulação de briefings detalhados do departamento de política externa foi acabando durante o seu mandato.
     O actual P.M. David Cameron atingiu um novo patamar na recessão desta específica crise. No seu primeiro mandado, os cortes orçamentais ao departamento foram superiores a 25%, e o BBC World Service, talvez o maior alicerce da diplomacia britânica no mundo, parou a transmissão de cinco dos seus serviços, também devido a cortes financeiros. Esta renuncia de poder também é visível noutras importantes áreas, como por exemplo o facto do exército britânico ter encolhido para cerca de 80000 unidades, tento como previsão final a meta de 50000 unidades, valor que se aproxima ao período de 1770, sendo este o tamanho do departamento policial da cidade de Nova Iorque, para termos um termo de comparação. É uma situação incontornável perante os sistemáticos cortes financeiros que agora chegam aos 20 e 30%.
    No campo da intervenção internacional, o país é suspeito de uma política externa robusta, incluindo sanções graves contra a Rússia, dificultando as negociações comerciais com a China, o uso da força no Oriente Médio e uma relação comprometida com o resto da Europa. Apesar da indiscutível tradição democrática britânica, a vertente externa começa a tomar proporções fora de controlo partindo do défice de concordância entre a opinião pública e as decisões políticas, como se podem ir observando através de sondagens nacionais. A explicação deste fenómeno poderá estar no exercício de lobbys.
    Concluindo, a actualidade da política externa britânica deixa um pouco a desejar tendo em conta o seu percurso histórico, uma vez que em muitos episódios, o Reino Unido tinha a capacidade de contribuir de uma forma inteligente, coesa e em prol global, o que com certeza faz falta num período em que nos confrontamos com diversos desafios sem limites de fronteiras.


João Mendes


Fontes:
http://www.theguardian.com/commentisfree/2009/dec/21/british-foreign-policy-democratic-deficit

https://www.washingtonpost.com/opinions/britain-resigns-as-a-world-power/

http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2015/11/blundering-british-foreign-policy-151126125606015.html

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