terça-feira, 15 de março de 2016

Quando o Bluff é a melhor arma

    Bluff, um estrangeirismo que entrou no quotidiano do cidadão comum trazido do Poker mas que depressa ganhou uma abrangência de uso muito maior, tornando-se hoje num termo usado para descrever qualquer dissimulação com o objectivo de ludibriar o “adversário” com o objectivo de o intimidar, ou atemorizar conforme os casos, para que este não se aperceba que se encontra em vantagem nítida e leve de vencida a sua disputa.

    Se tal acto se revela de extrema importância num mero jogo de Poker (mesmo que o jogo movimente fortunas), revela-se ainda mais importante no que à estratégia da disputa entre Estados diz respeito, sobretudo quando se tratam de “Jogos de Guerra”. Poder-se-ia analisar inúmeros casos marcantes ao longo da história, desde os mais antigos a alguns que se passaram no século passado e que fizeram Generais passar a figuras da história mas por agora trataremos apenas de um caso bastante actual, e que a confirmar-se tal teoria terá, certamente, que ser eleito como uma das maiores ilusões da história.

    Falemos então da ameaça nuclear norte-coreana. A Coreia do Norte (mais uma das “cicatrizes” geopolíticas deixadas pela Guerra Fria) anunciou em 2006 que tinha iniciado testes nucleares, com o intuito de produzir ogivas nucleares, mas mais recentemente, nos finais do ano transacto, anunciou na sua rede de comunicação nacional (totalmente controlada pelo Estado e a única permitida no país) o ultimar do projecto nuclear que consistia na capacitação de armar misseis de longo alcance com ogivas de hidrogénio (cujo grau de devastação é superior àquele que as bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki causaram). 

    A lógica por trás deste progressivo armamento é a mesma usada ao longo da Guerra Fria, que acabou por levar à “Teoria do Armamento Crescente”, ou seja, face à pressão internacional ao regime ditatorial norte-coreano o líder Kim Jong-Il e, posteriormente, o seu filho Kim Jong-Un decidiram que a melhor forma de travar esta tendencia ocidental de desmantelar um regime outrora apoiado pela “falecida” União Soviética seria a de obter um escudo de defesa que impedisse a invasão do território por tropas inimigas ao mesmo tempo que pode ser usado como ofensiva caso as sanções ao regime se continuem a agravar. A lógica do armamento (apesar de imoral e bastante perigosa) não apresenta falhas, uma vez que é das poucas coisas que as sanções internacionais não conseguem afectar, pois mesmo que haja um embargo total às trocas internacionais com a Coreia do Norte este embargo irá apenas afectar os cidadãos norte coreanos, que já vivem em parcas condições, e não a estrutura do Estado e aqueles que a controlam, visto que vivem num estrato social isolado das restante sociedade no que diz respeito às condições de vida.

    Assim, não há nada que a comunidade internacional indirectamente possa fazer quanto às armas nucleares que o Estado norte coreano detém, ou alega deter, restando apenas a acção directa, que passaria por uma manobra militar que derrubasse a ditadura norte coreana, sendo que tal seria feito possivelmente de duas formas. 

    A primeira seria através do financiamento de um golpe militar interno, mas tendo em conta o resultado de tais conflitos na Guerra Fria e a dificuldade de penetração na sociedade norte coreana (marcada pelo culto do líder) tal não se afigura como uma opção viável, a segunda passaria por uma invasão por parte das tropas internacionais, mas o fantasma da invasão no Iraque onde se veio a descobrir à custa de milhares de milhões de dólares e muitas vidas humanas que não existiam armas nucleares, afasta para já esta hipótese. 

    Tudo isto partindo do principio que a existência de armas nucleares na Coreia do Norte é falsa e que tudo não passa de um bluff, porque caso o anúncio seja verdadeiro qualquer passo em falso na direcção de um Estado governado por um líder egocêntrico pode levar a repercussões gigantescas, não só em termos políticos mas termos da vida humana como a conhecemos hoje.

    Podemos então continuar a fazer as piadas que quisermos sobre as notícias veiculadas pela comunicação social norte coreana sobre a existência de unicórnios nas suas montanhas que enquanto subsistir a dúvida sobre o projecto nuclear a República Popular Democrática da Coreia manter-se-á de pé assim como a conhecemos hoje, isolada e ditatorial.


Pedro Lopes

Fontes:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=5077354&page=2

http://www.mirror.co.uk/news/world-news/north-koreas-nuclear-test-site-6970396

http://pt.euronews.com/2016/03/15/coreia-do-norte-anuncia-testes-com-ogiva-nuclear/

https://www.publico.pt/mundo/noticia/coreia-do-norte-anuncia-ter-detonado-a-sua-primeira-bomba-de-hidrogenio-1719298
http://www.ippinheiros.org.br/wp-

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