O
domínio do Estado Islâmico sobre a Síria tem durado, ao mesmo tempo que instala
no país o caos, o pânico e o terror. É de conhecimento geral que o grupo
terrorista islâmico não olha a meios para atingir fins, e que é facto que tem
uma estratégia delineada no seu processo de “conquista”. O que o
auto-denominado Estado Islâmico tem gerado é destruição, e muito embora se convença
a opinião pública de que o palco principal do EI é a União Europeia, a
realidade é que são vários os alvos deste grupo terrorista.
A
Síria é de facto uma das maiores vítimas do Estado Islâmico. Como forma de
confirmar tal afirmação, lembremo-nos da ocupação e conquista da cidade de
Palmira pelo Estado Islâmico há quase um ano. Palmira representava a “pérola do
deserto”, pois constituía uma cidade histórica, património mundial da UNESCO, de
enorme valor para os sírios. Esta cidade representava para a Síria a “prova
arquitectónica da diversidade cultural e religiosa do país”, foi ocupada e, consequentemente,
devastada pelo auto-denominado Estado Islâmico.
Em
política externa, a acção, isto é, a execução desta política, é uma forma de
comunicação do objectivo de manter ou de alterar comportamentos. É através do
uso de instrumentos de execução da política externa que os Estados-nação, as
organizações e outros actores internacionais tentam influenciar o comportamento
de outro actor. No tema em discussão é relevante definirmos aqui “Agency” como a capacidade de um actor em
influenciar o comportamento de outros actores.
Desta
forma, podemos considerar a execução da política externa como uma forma de
implementação dos objectivos. Aqui interessa-nos a declaração de guerra, o
corte de relações diplomáticas, os boicotes e a exibição do poderio militar,
que constituem exemplos de acções em política externa, obviamente assentes no
conflito. E no que diz respeito à relação Estado Islâmico/Síria é exactamente
disso que se trata: conflito.
Recentemente,
com o objectivo basilar da defesa dos interesses nacionais, a cidade de Palmira
foi finalmente reconquistada. Após quase um ano sob o domínio do grupo
terrorista islâmico, o regime sírio afirmou já ter reconquistado a cidade de
Palmira na sua totalidade. Contudo, não foi sozinha que o fez, o apoio da
Rússia foi crucial neste processo de reconquista. Foi fundamental o apoio
militar russo e o poderio económico do país para que o exército de Assad conseguisse
recuperar a cidade de património. Recorrendo à aviação militar, a Rússia atacou
os jihadistas que ocupavam Palmira, enquanto as tropas sírias percorriam os
campos armadilhados pelo Estado Islâmico.
A
Síria tinha como objectivo a reconquista desta cidade, não só pelo seu valor
simbólico, mas também pelo seu valor estratégico. No entanto, a cidade de
Palmira já não se apresenta como a “pérola do deserto”. Todos os seus
monumentos mediáticos encontram-se destruídos, destruindo assim o valor
cultural e religioso da própria cidade.
Palmira
foi reconquistada. A Síria afirmou-se finalmente, e com base numa estratégia
conflituosa, isto é, através da utilização de instrumentos de hardpower agiu perante os
acontecimentos, por vezes imprevisíveis, que se lhe apresentavam. Neste caso
podemos afirmar que a decisão teve significado no contexto do objectivo, sendo
que através do uso da força, com o apoio do poderio militar russo, a Síria recuperou
a sua cidade. Como todas as acções em política externa, esta acção não teve um
objectivo único. Para além da afirmação da Síria perante o Estado Islâmico,
note-se também a cooperação estratégica entre a Síria e a Rússia, bem como o
esforço para a melhoria do estatuto, do prestígio da Síria e, obviamente, o
objectivo da segurança. Foram reunidos esforços entre a Síria e a Rússia contra
o Estado Islâmico. Estes dois países uniram esforços, nomeadamente militares,
com o objectivo de alterar o comportamento do Estado Islâmico. Foram mortos
cerca de 400 jihadistas que ocupavam a cidade de Palmira. O recurso ao hardpower “justifica” tal facto, pois
este representa a capacidade de um país conseguir impor que os outros façam o
que ele deseja com recurso à força.
Da
cidade reconquistada sobraram maioritariamente ruínas. No entanto, o objectivo
foi alcançado do ponto de vista da Síria, bem como da Rússia. A reconquista de
Palmira pela Síria representou sem dúvida uma das mais consideráveis derrotas
militares para o EI, desde que este proclamou o seu “califado” (Território
sobre domínio do Califa, que representa um chefe de estado) na Síria e no
Iraque.
Concluindo,
podemos afirmar que a estratégia utilizada pelo regime sírio foi bem-sucedida,
visto que o Estado Islâmico perdeu a totalidade do seu palco mediático na
Síria. Na verdade, o objectivo foi cumprido, mas muito foi perdido.
Relembrando
aqui as acções do Estado Islâmico, que dificilmente se apagam da memória da
humanidade, é importante ter em atenção o possível contra-ataque dos
terroristas islâmicos, bem como a necessidade de a Rússia e a Síria continuarem
em clima de cooperação. A vingança parece ser o momento dileto do Estado
Islâmico e a história tende sempre a repetir-se.
Mariana
Dinis
Fontes:
-
Público, “Regime sírio reconquista Palmira, a cidade milenar semidestruída pelo
Estado Islâmico” (2016). Disponivel em: https://www.publico.pt/mundo/noticia/exercito-sirio-reconquista-a-cidade-de-palmira-ao-estado-islamico-1727291
(Data de Acesso: 29/03/2016)
-
Jornal de Portugal, “Cidade de Palmira reconquistada ao Estado Islâmico na «totalidade»
” (2016). Disponível em: http://jornaldeportugal.pt/cidade-de-palmira-reconquistada-ao-estado-islamico-na-totalidade/
(Data de Acesso: 29/03/2016)
-
Tribulaciones Metapolíticas, “Siria: Palmira es reconquistada” (2016).
Disponível em: https://adversariometapolitico.wordpress.com/2016/03/28/siria-palmira-es-reconquistada/
(Data de Acesso: 29/03/2016)
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