terça-feira, 29 de março de 2016

A Reconquista de Palmira – A «Pérola do Deserto»

O domínio do Estado Islâmico sobre a Síria tem durado, ao mesmo tempo que instala no país o caos, o pânico e o terror. É de conhecimento geral que o grupo terrorista islâmico não olha a meios para atingir fins, e que é facto que tem uma estratégia delineada no seu processo de “conquista”. O que o auto-denominado Estado Islâmico tem gerado é destruição, e muito embora se convença a opinião pública de que o palco principal do EI é a União Europeia, a realidade é que são vários os alvos deste grupo terrorista.
A Síria é de facto uma das maiores vítimas do Estado Islâmico. Como forma de confirmar tal afirmação, lembremo-nos da ocupação e conquista da cidade de Palmira pelo Estado Islâmico há quase um ano. Palmira representava a “pérola do deserto”, pois constituía uma cidade histórica, património mundial da UNESCO, de enorme valor para os sírios. Esta cidade representava para a Síria a “prova arquitectónica da diversidade cultural e religiosa do país”, foi ocupada e, consequentemente, devastada pelo auto-denominado Estado Islâmico.
Em política externa, a acção, isto é, a execução desta política, é uma forma de comunicação do objectivo de manter ou de alterar comportamentos. É através do uso de instrumentos de execução da política externa que os Estados-nação, as organizações e outros actores internacionais tentam influenciar o comportamento de outro actor. No tema em discussão é relevante definirmos aqui “Agency” como a capacidade de um actor em influenciar o comportamento de outros actores.
Desta forma, podemos considerar a execução da política externa como uma forma de implementação dos objectivos. Aqui interessa-nos a declaração de guerra, o corte de relações diplomáticas, os boicotes e a exibição do poderio militar, que constituem exemplos de acções em política externa, obviamente assentes no conflito. E no que diz respeito à relação Estado Islâmico/Síria é exactamente disso que se trata: conflito.
Recentemente, com o objectivo basilar da defesa dos interesses nacionais, a cidade de Palmira foi finalmente reconquistada. Após quase um ano sob o domínio do grupo terrorista islâmico, o regime sírio afirmou já ter reconquistado a cidade de Palmira na sua totalidade. Contudo, não foi sozinha que o fez, o apoio da Rússia foi crucial neste processo de reconquista. Foi fundamental o apoio militar russo e o poderio económico do país para que o exército de Assad conseguisse recuperar a cidade de património. Recorrendo à aviação militar, a Rússia atacou os jihadistas que ocupavam Palmira, enquanto as tropas sírias percorriam os campos armadilhados pelo Estado Islâmico.
A Síria tinha como objectivo a reconquista desta cidade, não só pelo seu valor simbólico, mas também pelo seu valor estratégico. No entanto, a cidade de Palmira já não se apresenta como a “pérola do deserto”. Todos os seus monumentos mediáticos encontram-se destruídos, destruindo assim o valor cultural e religioso da própria cidade.
Palmira foi reconquistada. A Síria afirmou-se finalmente, e com base numa estratégia conflituosa, isto é, através da utilização de instrumentos de hardpower agiu perante os acontecimentos, por vezes imprevisíveis, que se lhe apresentavam. Neste caso podemos afirmar que a decisão teve significado no contexto do objectivo, sendo que através do uso da força, com o apoio do poderio militar russo, a Síria recuperou a sua cidade. Como todas as acções em política externa, esta acção não teve um objectivo único. Para além da afirmação da Síria perante o Estado Islâmico, note-se também a cooperação estratégica entre a Síria e a Rússia, bem como o esforço para a melhoria do estatuto, do prestígio da Síria e, obviamente, o objectivo da segurança. Foram reunidos esforços entre a Síria e a Rússia contra o Estado Islâmico. Estes dois países uniram esforços, nomeadamente militares, com o objectivo de alterar o comportamento do Estado Islâmico. Foram mortos cerca de 400 jihadistas que ocupavam a cidade de Palmira. O recurso ao hardpower “justifica” tal facto, pois este representa a capacidade de um país conseguir impor que os outros façam o que ele deseja com recurso à força.
Da cidade reconquistada sobraram maioritariamente ruínas. No entanto, o objectivo foi alcançado do ponto de vista da Síria, bem como da Rússia. A reconquista de Palmira pela Síria representou sem dúvida uma das mais consideráveis derrotas militares para o EI, desde que este proclamou o seu “califado” (Território sobre domínio do Califa, que representa um chefe de estado) na Síria e no Iraque.
Concluindo, podemos afirmar que a estratégia utilizada pelo regime sírio foi bem-sucedida, visto que o Estado Islâmico perdeu a totalidade do seu palco mediático na Síria. Na verdade, o objectivo foi cumprido, mas muito foi perdido.
Relembrando aqui as acções do Estado Islâmico, que dificilmente se apagam da memória da humanidade, é importante ter em atenção o possível contra-ataque dos terroristas islâmicos, bem como a necessidade de a Rússia e a Síria continuarem em clima de cooperação. A vingança parece ser o momento dileto do Estado Islâmico e a história tende sempre a repetir-se.

Mariana Dinis

Fontes:
- Público, “Regime sírio reconquista Palmira, a cidade milenar semidestruída pelo Estado Islâmico” (2016). Disponivel em: https://www.publico.pt/mundo/noticia/exercito-sirio-reconquista-a-cidade-de-palmira-ao-estado-islamico-1727291 (Data de Acesso: 29/03/2016)
- Jornal de Portugal, “Cidade de Palmira reconquistada ao Estado Islâmico na «totalidade» ” (2016). Disponível em: http://jornaldeportugal.pt/cidade-de-palmira-reconquistada-ao-estado-islamico-na-totalidade/ (Data de Acesso: 29/03/2016)
- Tribulaciones Metapolíticas, “Siria: Palmira es reconquistada” (2016). Disponível em: https://adversariometapolitico.wordpress.com/2016/03/28/siria-palmira-es-reconquistada/ (Data de Acesso: 29/03/2016)


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