terça-feira, 29 de março de 2016

“Que bolá Cuba?”

         
 Como todos nós sabemos as ações políticas internacionais/externas assumiram um carácter aberto, ou seja, as reuniões, as visitas e as negociações são feitas sob o olhar dos media e da população. Assim sendo, os cidadãos participam na formulação e execução das políticas externas dos seus Governos e os governantes dirigem-se diretamente aos cidadãos e instituições de outros países. Tendo isto em mente, vejamos o exemplo da recentíssima e épica viagem de Barack Obama a Cuba.
             Em primeiro lugar, recorde-se que a relação entre os dois países caracteriza-se por inúmeros conflitos, como por exemplo a Crise dos Mísseis que começou quando os soviéticos, em resposta à instalação dos mísseis nucleares na Turquia, Inglaterra e Itália e à invasão de Cuba pelos Estados Unidos, instalaram mísseis nucleares em Cuba. O Governo de Kennedy encarou esta situação como um ato de guerra contra os Estados Unidos. Em resposta, o Primeiro-ministro da URSS, Nikita Kruschev, declarou que os mísseis eram apenas defensivos e que a sua instalação tinha como objetivo dissuadir outra tentativa de invasão da ilha (em 1961 deu-se a invasão da Baía dos Porcos). A situação rapidamente evoluiu para um confronto aberto entre as duas potências.
         Em segundo lugar, relembre-se a Revolução Cubana que acabou com a ditadura de Fulgencio Batista e instaurou um regime comunista unipartidário que mantém os irmãos Castro no poder desde então. Cuba foi expulsa da Organização dos Estados Americanos graças à influência dos Estados Unidos, sendo readmitida 47 anos depois. Em 1961, o governo norte-americano impôs um embargo económico que perdura até os dias de hoje. Destaque-se que por influência dos Estados Unidos, Cuba aderiu ao sistema capitalista, o qual gerou “brutas” desigualdades sociais.
            Em terceiro lugar, saliente-se que a política internacional cubana deixou de ser ambiciosa e passou a ter baixo porte como consequência das dificuldades económicas enfrentadas após a queda do bloco soviético. Deste modo, Cuba ficou isolada na década de 90, mas desde então entrou num processo de cooperação bilateral com vários países sul-americanos, essencialmente com a Venezuela e Bolívia. Os Estados Unidos continuam com o embargo, afirmando que enquanto Cuba continuar a recusar em se democratizar e a respeitar os direitos humanos. A União Europeia acusa Cuba de contínua violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.
            Em quarto lugar, Cuba é membro fundador da organização antiamericana conhecida como a Aliança Bolivariana para as Américas, membro da Associação Latino-Americana de Integração, da Organização das Nações Unidas, do Movimento dos Países Não-Alinhados e da Associação dos Estados do Caribe. Desde 2004, vários líderes da América do Sul têm tornar Cuba membro pleno ou associado do bloco comercial sul-americano, conhecido como Mercosul.
            Feito este pequeno apanhado sobre Cuba vejamos com atenção um dos momentos históricos dos nossos tempos, ou seja, após os tempos hostis entre Cuba e Estados Unidos, o Presidente Barack Obama visitou Cuba, abrindo assim um novo capítulo entre estes países. Esta viagem resulta de uma abertura diplomática anunciada por Obama e Raúl Castro em 2014. Saliente-se o efeito da diplomacia religiosa, mais concretamente o papel do Papa Francisco na mediação entre estes dois países. Desde então vários progressos foram registados: embaixadas reabertas, alguns acordos comerciais celebrados, ficando por resolver a questão do embargo. Assim, Cuba e os Estados Unidos deram um passo importante em relação à reaproximação e normalização das relações bilaterais. Na rede social Twitter, Barack Obama escreveu em espanhol e usando uma expressão popular perguntou como estão os cubanos (“Que bolá Cuba?”) e mostrou-se ansioso em conhecer e ouvir o povo cubano. Em resposta, Donald Trump twittou que a visita de Obama foi um grande negócio, mas que este não tem respeito nenhum.       
            Pouco antes da chegada de Obama a Havana, 50 membros do movimento Damas de Branco foram detidas num protesto, exigindo a libertação dos presos políticos. Numa carta enviada ao movimento cubano, Barack Obama garantira que abordara a questão dos Direitos Humanos, nomeadamente a liberdade de expressão. Em Miami várias organizações manifestarem-se contra as concessões de Obama ao regime de Raul Castro. O protesto concentrou os ataques no que os participantes qualificaram de traição e de medidas nefastas de Obama, que acusam de ter claudicado (vacilar) perante o poder de Cuba.
            Obama deixou de parte a antiga política de tentar isolar Cuba. Contudo, grandes obstáculos surgirão para a normalização das relações e os críticos ditam que a visita é prematura. Os norte-americanos admitem que a viagem pode não produzir concessões imediatas sobre direitos e liberdade económica. Porém, será uma oportunidade para analisar os progressos realizados na normalização das relações, para tratar de áreas onde os governos têm sido capazes de iniciar uma cooperação bilateral e sobre as áreas de desacordo, incluindo as práticas de Direitos Humanos. O chefe da diplomacia cubana, Bruno Rodriguez, declarou que Cuba não irá negociar qualquer mudança interna com os Estados Unidos.
       Os dois lados têm restaurado laços diplomáticos e assinaram acordos sobre as telecomunicações e o serviço de companhia aérea regular. Obama usou a sua autoridade executiva para reduzir as restrições comerciais e de viagens. Cuba ainda se queixa do controlo da base naval de Guantánamo sob um contrato de arrendamento de 1934, em que Havana diz que não é válido. Cuba não aprova o apoio dos EUA para os dissidentes e programas de rádio e TV anticomunistas. Raul Castro advertiu que apesar do restabelecimento de relações diplomáticas com os Estados Unidos, Cuba não renunciará ao sistema político socialista.
            Barack Obama fez questão de sublinhar que Cuba é soberana, mas que os Estados Unidos não deixarão de falar em nome da democracia, da liberdade de expressão e dos direitos humanos, sendo que não cabe aos Estados Unidos dizer a Cuba como é que eles se devem governar. Obama elogiou o espírito de abertura de Raúl Castro, mas que a relação entre os dois governos não se vai transformar de um dia para o outro, lembrando que os dois países têm dois sistemas diferentes de governo e de economia. Quanto ao embargo, o Presidente dos Estados Unidos afirmou que este iria acabar e que o objetivo é criar várias parcerias entre os dois países, incluindo o nível comercial e até a troca de estudantes.
            Castro respondeu que nenhum país cumpre todos os direitos internacionais, relembrando que Cuba tem um forte histórico em direitos como saúde, acesso à educação e à igualdade das mulheres. Criticou os Estados Unidos acerca do racismo, violência policial e uso da tortura na base naval de Guantánamo. Castro levantou o braço de Obama como símbolo de uma saudação de vitória.
            Fidel Castrou não foi um grande apologista do discurso de Obama, sendo que para este as palavras melosas, nomeadamente para que ambos os povos esqueçam o passado, deixando para trás os vestígios da Guerra Fria e para que juntos olhem com esperança para o futuro, são impróprias para cardíacos e que os cubanos correram riscos ao ouvir o Presidente dos Estados Unidos. Fidel considera que Cuba não necessita dos presentes do Império e que a paz e a fraternidade é o único compromisso.
            Para terminar, os Rolling Stones realizaram um concerto no estádio Ciudad Deportiva de la Habana. Foi um evento marcante, visto que o governo comunista chegou a proibir a música do grupo por a considerar um desvio ideológico. A banda de Mick Jagger está na frente da iniciativa músico a músico, que tem como objetivo levar até aos músicos cubanos instrumentos e equipamentos doados por grandes empresas do setor.

Sara Correia, n.º 216287

Fontes:
http://pt.euronews.com/2014/12/21/cubaeua-e-agora/, consultado a 28 de março de 2016
http://www.politico.eu/article/fidel-castro-lectures-barack-obama-after-cuba-trip/, consultado a 28 de março de 2016
http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-03-21-Obama-vai-ser-muito-sincero-com-Castro-sobre-os-Direitos-Humanos-em-Cuba, consultado a 28 de março de 2016


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