terça-feira, 29 de março de 2016

Hoje o luto pela Europa, Amanhã o luto pela Humanidade

O tema é batido e rebatido, mas continua dramaticamente actual e relevante. O terrorismo é um dos maiores flagelos do século XXI e, por isso mesmo, não poderia deixar de lado este assunto. Qualquer contributo no sentido de estimular o pensamento por meio a se valorizar a urgência em se encontrar soluções que efectivamente contribuam para a pacificação e para a minimização do sofrimento das populações sujeitas, directa e indirectamente, a estas situações dramáticas, é muitíssimo importante.
2015 conta com danos psicológicos, humanos e materiais ainda muito frescos nas nossas memórias. Locais tão distantes e tão próximos como a Tunísia, Mali, Turquia, Quénia, França, Dinamarca, Estados Unidos, Kuwait, Líbano e Nigéria, foram alguns dos palcos da barbárie de ataques contra Humanidade, já para não falar na Síria, Paquistão, entre tantos outros.
De modo ainda mais actual salienta-se que, 2016 ainda ia no começo, quando já se contava com o agravamento desta realidade que num curtíssimo espaço temporal (se contarmos desde 2001, aquando dos atentados à torres gémeas, fenómeno embora não novo, torna-se “novidade” em solo ocidental) se transforma, ano após ano, numa constante, mais frequente e agravada, consolidando uma verdadeira cultura do medo, de desconfiança e de consequências conservadoras e restritivas a todos os incluídos no instituído espaço de comuns “valores ocidentais”.
Desta vez, regista-se o ataque à bomba à capital belga. Esta remete-nos para uma mensagem clara por parte dos seus perpetradores sendo que, está invariavelmente associada à simbologia do local geográfico escolhido - o coração político da Europa e a sede da NATO, Bruxelas.
O ataque registado a 22 de Março do presente ano teve como foco as principais artérias de comunicação física de qualquer grande capital europeia – neste caso específico, o metro na estação metropolitana de Maelbeek (centro do “bairro europeu”) e o aeroporto de Zaventem.
 Os ataques reivindicados pelo auto-proclamado Estado Islâmico, foram efectuados pelos irmãos el-Bakraoui, ambos de nacionalidade de belga, por Najim Laachraoui e, embora não se tenha feito explodir, por um outro radical islâmico, que se pôs em fuga. Ou seja, participou deixando apenas no local uma mala cheia de explosivos.
Contudo regista-se que, o “homem do chapéu”, tal como registaram as câmaras de segurança do aeroporto, foi efectivamente apanhado. O seu nome, Fayçal Cheffou.
Nisto, salienta-se ainda que esta foi, tanto para a polícia belga como para a polícia francesa, uma semana muito produtiva no que toca a operações anti-terroristas, sendo que uns outros tantos indivíduos, pertencentes à rede jihadista, foram capturados. Nesta sequência, conforme nos informam os meios de comunicação, estes ataques contam, até agora, 31 vítimas fatais e cerca de 300 feridos no total.
Já há muito que a Europa, enquanto orquestra de Estados que cooperam entre si, não só a nível económico como também no sentido de uma segurança e defesa comum, ensaiam a música contra o terrorismo. São acordadas linhas de orientação e medidas, mas ainda não se verificou acções concretas e efectivas. Acções propriamente ditas, apenas podemos contar com as realizadas individualmente por cada Estado, que diga-se apresentam também significativas nuances de terrorista já que, maioritariamente atingem, tal como se verifica sempre, as populações inocentes residentes nos territórios do médio oriente. Como lembra o ditado, “ amor com amor se paga” e como sabemos, por uns pagam todos. Afinal de contas, estas manobras de “defesa” apenas zelam pela paz, ou pelo menos assim o advogam os ocidentais.
Verdade é que, depreende-se que a situação delicada carece de soluções muitíssimo complexas. Por exemplo, o controlo da entrada e saída das fronteiras europeias, de acordo com o acordado em Shengen, torna-se difícil. Muitos dos indivíduos radicalizados são até mesmo cidadãos europeus.
O terrorismo actua principalmente contra inocentes de, e em qualquer parte do mundo, tocando todas as diferentes culturas e religiões. A resposta individualizada dos Estados do bloco ocidental têm, sem dúvida, seguido na íntegra a premissa “olho por olho, dente por dente”. Verifica assim que o terrorismo é efectivamente um instrumento importante na política internacional, que passou dos objectivos locais e regionais para os mundiais, embora condenável.
 A conquista de poder económico que, depende fundamentalmente do controlo da produção e comercialização de petróleo extraído, principalmente, do médio oriente explica de forma pouco ou nada conspiratória, na minha opinião, a formulação das políticas externas dos vários actores internacionais, explicando neste caso específico, as políticas externas adoptadas pelos Estados do Hemisfério-Norte face ao Médio Oriente.
Por outras palavras, actos terroristas são efectuados de ambas as partes e para ambas as partes. O único objectivo é ver na sua política externa mascarada, de um lado, da promoção de valores de liberdade e democracia e, de outro, de valores religiosos, os vários objectivos das suas políticas internas que assentam fundamentalmente na conquista e manutenção do seu próprio poder.
Refere-se ainda que, nesta dialéctica entre escolha das prioridades da política externa mediante os interesses económicos da política interna, a posse ilegal de armas é outra questão pertinente. Nota-se que, por interesse ou por descuido propositado, a posse e venda de armas, mesmo que feita de maneira legal, não tem de todo em vista os propósitos anti-terroristas advogados pelo ocidente, tornando esta questão, numa de primeiríssima importância no combate ao crime dos radicalizados. Porém, por poder deixar os bolsos dos grandes capitalistas produtores de armamento mais vazios, talvez não seja assim tão importante…
Estando então cientes de tudo o citado, é marcada uma reunião extraordinária a 24 de Março, a pedido da Bélgica, com ministros da Justiça e da Administração Interna da UE. Parece que, o meio-termo na actuação, não é suficiente e o não saber, torna-se a esta altura do campeonato, inadmissível, já que a europa tem sido constantemente acordada por este gigante que põe em risco o seu poder económico e os seus cidadãos, que vão sendo, uma e outra vez, fatalmente penalizados por actuações carente de compaixão. Decidem por em prática, de uma vez por todas, dois elementos - as boas práticas de troca de informação, de forma a que esta flua de maneira mais eficiente (já que, alegadamente, os ataques a Bruxelas teriam sido avisados pela Turquia) e, em segundo lugar, pôr de facto em prática o que já foi politicamente acordado aquando de outros ataques. Consideram por isso urgente a votação, por parte do parlamento europeu, de modo a que a acção seja executada a uma única voz que espelhe a cooperação numa estratégia anti-terrorista coerente por parte da União Europeia.
Em suma, acrescento que, há quem afirme que esta necessária passagem das palavras à acção do já acordado no combate ao terrorismo, deverá ser implacável. Compreendo portanto que, as medidas a ser tomadas deverão partir, como sempre partiram, de uma perspectiva realista onde a guerra, utilizando todos e quaisquer meios que estiverem ao seu dispor, é rainha. Mais uma vez, parece-me que UE se apoia na ideia de que o sucesso de uma qualquer medida não passa pela sua qualidade, mas sim pela sua eficácia, mesmo que, a curto prazo.
Posto isto, termino apenas dizendo que, esta não será nem de perto nem de longe uma solução verdadeiramente imbuída de eficácia e eficiência. O problema irá agravar-se e fazer ressurgir muitos outros que lhe estão inerentes. Temo que este seja apenas o começo de uma humanidade condenada e de uma realidade assobrada pelo vermelho que corre das nossas veias, perdurando este momento na história, como um dos mais negros deste novo século. 

Daniela Luís

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