terça-feira, 29 de março de 2016

Coreia do Norte, uma política realista.

A República Popular Democrática da Coreia, conhecida por Coreia do Norte, é um Estado independente desde 1945. Porém, após esse ano, passou por uma guerra, a Guerra da Coreia, entra a Coreia do Sul e Coreia do Norte, no âmbito de controlo do território coreano, o qual as potências vencedoras da segunda guerra mundial queriam ver dividido (entre o sul e o norte), e ambas as Coreias exigiam o controlo do todo o território, o que levou à conhecida guerra, e culminou com a assinatura de um armistício em 1953.
O armistício de 1953 durou sessenta anos quando, em 2013, a política externa da Coreia do Norte alterou radicalmente. Quando se realizou um teste nuclear norte-coreano, o qual foi visto como um desafio ao Conselho de Segurança da ONU, que tinha, pouco tempo antes, ameaçado o país com novas sanções se o país não abandonasse o seu plano nuclear. O acto foi visto como uma ameaça à paz e segurança internacionais, no entanto, já desde 2006 que a Coreia do Norte praticava exercícios nucleares. O teste nuclear de 2013 assume uma importância diferente, é o primeiro teste nuclear desde a chegada ao poder de Kim Jong Un, filho de Kim Jong Il e neto do líder histórico da Coreia do Norte, Kim Il-Sung. Kim Jong Un, de trinta e três anos, estudou na Europa, nomeadamente na Suíça, porém porque não transportou com ele uma cultura mais ocidental para a Coreia do Norte? Ou pelo menos, alguma abertura ao exterior? Muito se espectava com a chegada ao poder de Kim Jong Un, porém não houve nenhuma abertura ao exterior, nem na própria Coreia do Norte houve alguma abertura: continua como um Estado socialista, fechado e rígido. Kim Jong Un reforçou a vontade da Coreia do Norte de se tornar uma potência nuclear, ou, pelo menos, de usar esta “carta” como ferramenta para a defesa do seu regime, sem influências externas. Esta política realista é disfarçada, pelo regime norte-coreano, como um desenvolvimento nuclear pacifico, no entanto, o mundo não o vê dessa forma, especialmente a vizinha Coreia do Sul e o Japão, que temem que os testes nucleares realizados pelos norte-coreanos sejam um plano de ataque. No entanto, esta ideia de regime fechado e forte não surge com Kim Jong Un, mas sim com o seu avô, que conseguiu a independência da Coreia do Norte dos japoneses, japoneses esses que tinham proibido e reprimido a cultura e identidade coreana, o que levou a um forte sentimento nacionalista norte-coreano, em 1945, aquando da independência, o que valeu a Kim Il-Sung o título de líder histórico. A posição de país fechado surge nessa altura, com o desejo de Kim Il-Sung de tornar a Coreia do Norte auto-suficiente, sem precisar de ajuda externa, no entanto, até aos dias de hoje a população norte-coreana sofre de insuficiência alimentar, dependendo de senhas fornecidas pelo governo, além de viverem num mundo aparte do tecnológico, visto que o regime norte-coreano tenta ao máximo afastar as informações vindas do exterior, numa tentativa de defender o regime a partir do interior, ou seja, garantindo que os norte-coreanos não estejam informados e, desta forma, possam defender o regime e quiçá ter “orgulho” do seu líder e das tentativas nucleares do país.
Visto através do resto do mundo e do Conselho de Segurança da ONU, Kim Jong Un tornou-se noutro líder totalitário que desafia as regras internacionais. A sua tentativa de modernizar o país assenta no plano nuclear e nas ameaças vãs a países como a Coreia do Sul ou os Estados Unidos da América, a Coreia do Norte tenta modernizar-se através da força militar, considerando o grande pilar do país o poder de ameaçar o mundo, afastando assim a possibilidade de serem invadidos, porém, a cada vez que realiza novos testes militares ou nucleares, ou que tenta por em órbita algum satélite, a Coreia depara-se com novas sanções da ONU. O regime fragiliza-se quando pensa que se torna mais forte. Além desta tentativa de se tornar uma potência importante no mundo, Kim Jong Un depara-se com a instabilidade interna norte-coreana: dentro do partido, Kim Jong Un é descredibilizado, deparando-se com muita oposição que se apresenta de forma clara e menos clara. Assim, além de não ter o apoio total do partido, o líder norte-coreano também não tem o apoio da população, que além de passar fome, começa a conscientizar-se da primazia dada à questão militar, especialmente através de alguns meios-de-informação norte-coreanos que dão conta dos falhanços militares do regime. Algo inédito, num país que tenta controlar as informações disponibilizadas à população.
Desta forma, a Coreia do Norte parece caminhar para uma nova fase da sua história: cairá o regime fruto das ameaças nucleares vãs a Estados militarmente superiores? Ou a mudança virá de dentro, da população faminta que já não revê o mítico líder norte-coreano Kim Il-Sung, no seu neto Kim Jong Un? Não é fácil prever, pois esta população faminta nunca viveu em abundância, continua sem acesso a meios-de-informação exteriores, porém os idos da mudança parecem ter atingido a Coreia do Norte e esta população saturada parece acordada e em movimento.

Joana Bandeira dos Santos

Fontes:
https://www.publico.pt/mundo/noticia/coreia-do-norte-ignora-avisos-do-conselho-de-seguranca-e-realiza-teste-nuclear-1584221 (consultado a 27/03/2016).

https://nacoesunidas.org/estrutura-totalitaria-da-coreia-do-norte-nega-direitos-em-absoluto-alerta-especialista-da-onu/ (consultado a 27/03/2016).

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