terça-feira, 15 de março de 2016

A Saúde no seio Internacional

O Zika vírus pertence à mesma família dos vírus que provocam doenças bastante conhecidas tais como a dengue e a febre amarela, doenças estas que conseguem devastar uma grande quantidade de indivíduos caso não sejam controladas. Este vírus provoca uma doença conhecida como a febre Zika e a sua transmissão é feita através da picada de um mosquito infetado com o vírus. Recentemente, estudos comprovaram que a transmissão do vírus nos seres humanos pode ser concretizada por relações sexuais desprotegidas.
O primeiro caso de febre Zika conhecido no Brasil ocorreu em Maio de 2015 na Bahia e no Rio Grande do Norte, porém o número de infetados aumentou de forma drástica tendo sido registrados casos da doença em 22 países.
Recentes descobertas cientificas relacionam o vírus com uma doença rara designada de Microcefalia (1), esta informação alarmou a população não apenas no Brasil mas no mundo.
Efetivamente, este vírus tem vindo a ser considerado uma doença infeciosa emergente, isto é, cuja incidência tem potencial para aumentar e dissipar para novas áreas.  A propagação no âmbito internacional de doenças infeciosas traduz-se num enorme desafio para a Saúde Global, considerando que cada vez mais as matérias transfronteiriças de saúde procuram diferentes formas de governança nacional e internacional que englobam novos atores que irão compartir responsabilidades globais pela saúde. Este tema tem vindo a ultrapassar o âmbito técnico, estando atualmente ligado, essencialmente a políticas externas e de segurança de muitos Estados.
Segundo David Held (2000), a propagação internacional de doenças infeciosas configura os chamados boundary problems, ou seja, existem fatores que ultrapassam as barreiras entre a politica doméstica e a internacional, assim como a barreira entre a soberania de um Estado-Nação e o internacional. O campo da Saúde tem vindo cada vez mais a ser um elo de ligação na agenda global, não só porque existe um pavor popular no que toca á propagação de novas epidemias mas também porque existe uma nova abordagem no que toca à segurança internacional, entende-se portanto "uma mudança de abordagem onde a saúde internacional deixa de ser considerada principalmente no contexto da política de desenvolvimento para uma perspetiva em que a saúde global transcende fronteiras e se caracteriza pelo sentido da responsabilidade coletiva pela saúde”. (KICKBUSCH e BERGER, 2010, p.19).
A OMS tomou medidas preventivas aquando se tornou publico o avanço da microcefalia ligada ao Zika vírus, porém não tornou esta doença numa ESPII (2), visto que com a declaração de emergência internacional surge a possibilidade de instaurar pânico desnecessário e podem resultar inúmeros prejuízos económicos provenientes de áreas turísticas e comerciais. A OMS solicitou ainda assim a ajuda externa dos Estados na medida em que seja possível combater a doença, para além de que aconselhou a utilização de preservativo nas relações sexuais de modo a que os bebés não pudessem ser contagiados.  
A religião foi um dos intervenientes externos que mais surpreendeu, nomeadamente o Papa, a mais alta entidade, viva, da religião católica, que tendo conhecimento das consequências da Zika vírus autorizou a utilização do preservativo como meio contracetivo, algo que esta religião não permitia.
Com o objetivo de tratar do combate unificado à doença foi efetuado o primeiro acordo internacional entre o governo brasileiro e a Universidade do Texas Medical Branch dos Estados Unidos para desenvolver uma vacina contra o vírus da Zika, bem como o encontro de emergência na sede do MERCOSUL para tentar pôr fim à doença.
A identificação de um problema de saúde é entendida hoje em dia como uma questão de política externa ou de segurança e até mesmo dos dois. Em suma, o alastramento do vírus Zika, tal como outras doenças, pode-se rapidamente transformar numa pandemia que exige uma resposta urgente, articulada e coordenada da comunidade internacional. É desta forma imprescindível o estudo da saúde, derrubar as barreiras dos Estados nacionais e reconhecer a importância da intervenção de vários atores não-estatais que desempenham um papel de relevo na definição do acesso à saúde bem como na resolução de problemas.
(1) A microcefalia é uma doença em que a cabeça e o cérebro das crianças são mais pequenas que o normal para a sua idade, o que prejudica o seu desenvolvimento mental, uma vez que os ossos da cabeça que durante o nascimento estão separados, se unem muito cedo, impedindo desta forma que o cérebro cresça e desenvolva as suas capacidades normalmente.

(2) Emergência de Saúde Publica de Importância Internacional, é de considerar que o Regulamento Sanitário Internacional (RSI) utiliza esta classificação para uma doença que constitua risco para a saúde pública de outros Estados, baseia-se segundo os critérios de potencial propagação transfronteiriça e não propriamente na gravidade/letalidade da doença.

Catarina Chão

 Bibliografia
BELTRAME, Beatriz (2016, Março, 10). "Entenda o que é Microcefalia e quais são as consequências para o bebê" TUASAUDE. Consultado a 13/03/2016, disponível em http://www.saudemedicina.com/zika-virus-e-microcefalia/
FEDATTO, Maira (2016, Março, 13). "Zika Vírus e a efetivação da saúde na agenda global" Mundorama. Consultado a 14/03/2016, disponível em http://www.mundorama.net/2016/03/13/zika-virus-e-a-efetivacao-da-saude-na-agenda-global-por-maira-s-fedatto/
HELD, David. Regulating Globalization? The Reinvention of Politics. International Sociology. London, 2000.
KICKBUSCH, Ilona e BERGER, Chantal. Diplomacia da Saúde Global. RECIIS – Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde. Rio de Janeiro, 2010.
S.A (2016, Março, 14). "OMS é "prudente" sobre possível ligação de zika e microcefalia, diz ministro" Terra. Consultado a 14/03/2016, disponível em http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/oms-e-prudente-sobre-possivel-ligacao-de-zika-e-microcefalia-diz-ministro,961504cc5a2104f3eba4cf460e897739qe6i1u9k.html

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