O grupo islâmico Boko Haram surge na
década de 80, do século passado, como um grupo anti-governo. O seu principal
objectivo é lutar contra os falsos muçulmanos e todos os grupos não-islâmicos
presentes na Nigéria, querem governar o país segundo a lei sharia, o seu recente protagonismo deve-se à ascensão do Daesh e do agravamento dos massacres que
praticam.
O grupo surge no meio de vários conflitos,
de origem política e religiosa, entre vários grupos: a Nigéria foi uma colónia
inglesa e, como muitas colónias, após a descolonização e o processo de
independência, caiu em instabilidade política, com governos a durar pouco
tempo, com pouca segurança nas ruas e a corrupção a aumentar, assim como, os
conflitos étnico-religiosos entre muçulmanos e populações cristãs. Para o
grupo, a Nigéria está a ser governada por um grupo de falsos muçulmanos, daí o
grupo ver-se como o único salvador da Nigéria, através de uma “limpeza étnica”,
conseguida através de uma série de ataques contra os que são considerados
falsos muçulmanos. Esta onda de ataques começou, essencialmente, em 2011,
quando o Ocidente começou a dar atenção à situação que se vivia neste país
africano, o próprio nome dado “boko haram” significa, em português, “a educação
ocidental é proibida”, no entanto, apesar do nome, o grupo concentra-se mais em
purificar, na sua visão, a Nigéria, do que em atacar o Ocidente, mas acabaram
por tomar partido da ascensão e mediatismo do Daesh, o grupo islâmico bem
conhecido do Ocidente, para conceber novos ataques, com mais violência e
mediatismo, como o ataque que protagonizaram a um edifício das Nações Unidas,
na cidade de Abuja.
Como muitos grupos fundamentalistas, o
Boko Haram, também aumenta a sua visibilidade através de um líder carismático,
Mohammed Ali Ndume, que após declarar a cidade de Maiduguri como corrupta,
mudou-se, com os restantes membros do grupo, para o Estado nigeriano de Yobe,
onde fundou uma comunidade baseada na lei sharia muçulmana, convidando os
“verdadeiros” muçulmanos a juntarem-se a ele. O grupo foi desenvolvendo
estratégias de limpeza dos falsos muçulmanos, até entrar em conflito com a
polícia nigeriana do qual resultou na morte de diversos membros do grupo e,
mais importante, resultou na morte do líder Mohamed. Porém, ao contrário do que
se pensava, o grupo não perdeu influência com a morte do seu líder, conseguiu a
atenção dos media nigerianos, por alguns membros serem herdeiros abastados da
elite nigeriana, e de alguma media internacional pela forma como atacavam
indiscriminadamente, especialmente devido aos seus ataques a igrejas. Com o
desenvolver dos anos o grupo conseguiu criar um Estado, não formalmente, mas
com meios para se tornar auto-suficiente alimentarmente e com a sua própria
polícia religiosa, que viria a aterrorizar os nigerianos até à actualidade. O
facto deste “Estado” conseguir viver tão bem atraiu mais pessoas, especialmente
jovens nigerianos desempregados e refugiados de países africanos vizinhos, aos
quais era dada assistência média, comida e abrigo. Em 2009, enquanto o grupo
estava presente no funeral de um membro morto, dispara sobre a polícia de
trânsito presente no local, este evento foi filmado pelos membros do grupo e
colocado em circulação, tendo o momento se tornado “viral”. Foi a partir deste
momento que o governo nigeriano decide agir, no entanto o grupo já tinha muitos
membros e muitos simpatizantes, o que piorou a situação no norte da Nigéria,
com o grupo a praticar massacres a cristãos e aos considerados “falsos
muçulmanos”, é também, por volta de 2009/10, que muitos membros do grupo são
enviados para campos de treino islâmicos. O ano de 2010 é marcado por nova onda
de ataques na Nigéria, especialmente através do armamento do grupo: além de
apoios de outros grupos islâmicos, os membros do Boko Haram tinham acções de
disparo contra a polícia de forma a roubar as suas armas. Assim, no Natal de
2010, o grupo provocou uma série de ataques junto a igrejas católicas, usando a
festividade para causar o máximo de mortos e chamar atenção à sua “causa”. Mais
recentemente, o grupo foi o responsável por ataques ao jornal “this day”, a um movimentado mercado de
gado e, o mais conhecido e mortífero, o ataque à universidade católica de
Bayero. Outros ataques mortíferos e sangrentos incluem ataques a crianças,
queimadas vivas, e raptos de jovens e mulheres: à medida que o grupo tem mais
visibilidade internacional, mais ataques mortíferos pratica, ataques que
desafiam o conceito de humanidade.
Este sucinto texto sobre o Boko Haram não
é suficiente para descrever os horrores praticados por este dito grupo
islâmico, a cada dia o mundo acorda com novas notícias de horrores praticados
na Nigéria, o governo nigeriano tem conhecimento, os países vizinhos africanos
têm conhecido, as Nações Unidas têm conhecimento, porém pouco ou nada é feito
para proteger os nigerianos desta praga fundamentalista. Numa altura em que os
fundamentalismos islâmicos ganham poder e força, o mundo tem de agir,
procurando uma forma de equilibrar estes conflitos, muitos recorrentes da má
colonização e divisão do continente africano, sem ter em conta as diferentes
tribos presentes em cada território, estes conflitos étnico-religiosos
prolongam-se desde a Conferência de Berlim de 1884/85 até aos nossos dias. A
Nigéria começa a assemelhar-se a uma Ruanda que sofreu com um conflito étnico, com
genocídio, daí ser essencial que os Estados-membros das Nações Unidas se unam
para a resolução desta calamidade, se unam no combate aos fundamentalismos e à
expansão de grupos extremistas que põem em causa os pilares básicos dos
direitos do Homem, o mundo não pode caminhar para mais guerras.
Joana Bandeira dos Santos
Fontes:
http://www-dev.usip.org/sites/default/files/SR308.pdf
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