terça-feira, 15 de março de 2016

Boko Haram, quando acaba a chacinaria?

O grupo islâmico Boko Haram surge na década de 80, do século passado, como um grupo anti-governo. O seu principal objectivo é lutar contra os falsos muçulmanos e todos os grupos não-islâmicos presentes na Nigéria, querem governar o país segundo a lei sharia, o seu recente protagonismo deve-se à ascensão do Daesh e do agravamento dos massacres que praticam.
O grupo surge no meio de vários conflitos, de origem política e religiosa, entre vários grupos: a Nigéria foi uma colónia inglesa e, como muitas colónias, após a descolonização e o processo de independência, caiu em instabilidade política, com governos a durar pouco tempo, com pouca segurança nas ruas e a corrupção a aumentar, assim como, os conflitos étnico-religiosos entre muçulmanos e populações cristãs. Para o grupo, a Nigéria está a ser governada por um grupo de falsos muçulmanos, daí o grupo ver-se como o único salvador da Nigéria, através de uma “limpeza étnica”, conseguida através de uma série de ataques contra os que são considerados falsos muçulmanos. Esta onda de ataques começou, essencialmente, em 2011, quando o Ocidente começou a dar atenção à situação que se vivia neste país africano, o próprio nome dado “boko haram” significa, em português, “a educação ocidental é proibida”, no entanto, apesar do nome, o grupo concentra-se mais em purificar, na sua visão, a Nigéria, do que em atacar o Ocidente, mas acabaram por tomar partido da ascensão e mediatismo do Daesh, o grupo islâmico bem conhecido do Ocidente, para conceber novos ataques, com mais violência e mediatismo, como o ataque que protagonizaram a um edifício das Nações Unidas, na cidade de Abuja.
Como muitos grupos fundamentalistas, o Boko Haram, também aumenta a sua visibilidade através de um líder carismático, Mohammed Ali Ndume, que após declarar a cidade de Maiduguri como corrupta, mudou-se, com os restantes membros do grupo, para o Estado nigeriano de Yobe, onde fundou uma comunidade baseada na lei sharia muçulmana, convidando os “verdadeiros” muçulmanos a juntarem-se a ele. O grupo foi desenvolvendo estratégias de limpeza dos falsos muçulmanos, até entrar em conflito com a polícia nigeriana do qual resultou na morte de diversos membros do grupo e, mais importante, resultou na morte do líder Mohamed. Porém, ao contrário do que se pensava, o grupo não perdeu influência com a morte do seu líder, conseguiu a atenção dos media nigerianos, por alguns membros serem herdeiros abastados da elite nigeriana, e de alguma media internacional pela forma como atacavam indiscriminadamente, especialmente devido aos seus ataques a igrejas. Com o desenvolver dos anos o grupo conseguiu criar um Estado, não formalmente, mas com meios para se tornar auto-suficiente alimentarmente e com a sua própria polícia religiosa, que viria a aterrorizar os nigerianos até à actualidade. O facto deste “Estado” conseguir viver tão bem atraiu mais pessoas, especialmente jovens nigerianos desempregados e refugiados de países africanos vizinhos, aos quais era dada assistência média, comida e abrigo. Em 2009, enquanto o grupo estava presente no funeral de um membro morto, dispara sobre a polícia de trânsito presente no local, este evento foi filmado pelos membros do grupo e colocado em circulação, tendo o momento se tornado “viral”. Foi a partir deste momento que o governo nigeriano decide agir, no entanto o grupo já tinha muitos membros e muitos simpatizantes, o que piorou a situação no norte da Nigéria, com o grupo a praticar massacres a cristãos e aos considerados “falsos muçulmanos”, é também, por volta de 2009/10, que muitos membros do grupo são enviados para campos de treino islâmicos. O ano de 2010 é marcado por nova onda de ataques na Nigéria, especialmente através do armamento do grupo: além de apoios de outros grupos islâmicos, os membros do Boko Haram tinham acções de disparo contra a polícia de forma a roubar as suas armas. Assim, no Natal de 2010, o grupo provocou uma série de ataques junto a igrejas católicas, usando a festividade para causar o máximo de mortos e chamar atenção à sua “causa”. Mais recentemente, o grupo foi o responsável por ataques ao jornal “this day”, a um movimentado mercado de gado e, o mais conhecido e mortífero, o ataque à universidade católica de Bayero. Outros ataques mortíferos e sangrentos incluem ataques a crianças, queimadas vivas, e raptos de jovens e mulheres: à medida que o grupo tem mais visibilidade internacional, mais ataques mortíferos pratica, ataques que desafiam o conceito de humanidade.
Este sucinto texto sobre o Boko Haram não é suficiente para descrever os horrores praticados por este dito grupo islâmico, a cada dia o mundo acorda com novas notícias de horrores praticados na Nigéria, o governo nigeriano tem conhecimento, os países vizinhos africanos têm conhecido, as Nações Unidas têm conhecimento, porém pouco ou nada é feito para proteger os nigerianos desta praga fundamentalista. Numa altura em que os fundamentalismos islâmicos ganham poder e força, o mundo tem de agir, procurando uma forma de equilibrar estes conflitos, muitos recorrentes da má colonização e divisão do continente africano, sem ter em conta as diferentes tribos presentes em cada território, estes conflitos étnico-religiosos prolongam-se desde a Conferência de Berlim de 1884/85 até aos nossos dias. A Nigéria começa a assemelhar-se a uma Ruanda que sofreu com um conflito étnico, com genocídio, daí ser essencial que os Estados-membros das Nações Unidas se unam para a resolução desta calamidade, se unam no combate aos fundamentalismos e à expansão de grupos extremistas que põem em causa os pilares básicos dos direitos do Homem, o mundo não pode caminhar para mais guerras.

Joana Bandeira dos Santos

Fontes:
http://www-dev.usip.org/sites/default/files/SR308.pdf

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