Durante os
últimos dois anos, e principalmente desde o ataque á redacção da revista
Charlie Hebdo, que o terrorismo perpetuado pelo Estado Islâmico tem vindo a
fazer parte da vida e atitude perante actores externos por parte dos Estados
ditos ocidentais.No
dia 11 de Setembro de 2001 aconteceu o que ninguém estava á espera quando
quatro aviões foram sequestrados, tendo dois mandado a baixo as “Torres
Gémeas”, um chocado contra o Pentágono e outro caído numa zona livre, mas com o
objectivo de ir contra a Casa Branca em Washington DC. Foi a partir daqui que
os Estados Unidos da América, na altura a maior potência mundial, declarou “War
on Terror”, manipulando a sua politica externa de modo a conseguir fazer frente
à entidade terrorista Al-Qaeda. A ideia de que o perigo destas organizações
apenas se cinge á fronteira delimitada pelo Médio Oriente acabou, abrindo
espaço a uma nova maneira de lidar com a situação. Passados quase 15 anos desde
estes acontecimentos fatais, a Europa lida hoje com as mesmas preocupações.Como já referi, os Estados Unidos da
América mudaram a sua política externa de moda a fazer frente a Al-Qaeda, após
a declaração de guerra efectuada por estes, mudando então o pensamento ao criar
a nova realidade onde se passa a defender um país, não de outro país, mas sim
de um grupo de indivíduos com bastantes recursos. Hoje passa-se o mesmo, sendo
que os atentados em Paris, na Tunísia, em Beirut e em Istanbul são provas
disso, mas no entanto esta nova organização terrorista desenvolveu outras
técnicas onde cidadãos de Estados ocidentais são também envolvidos: o
recrutamento. O facto de uma organização feita por “meia dúzia” de homens
conseguir chegar a um país dentro da Europa ou dentro da América e recrutar
para o seu seio milhares de jovens e adultos, demonstra a fragilidade que
existe para com o inimigo externo.Ao analisarmos a política externa e
a política interna de um país, conseguimos rapidamente perceber que se
interligam. Ao sofrer um atentado de um actor externo, muda-se a política
interna de modo a lidar com as consequências (caso de Paris que declarou estado
de emergência) e muda-se a política externa, fechando fronteiras e declarando
guerra (bombardeando a Síria como aconteceu neste caso). A ISIS ao perpetuar
atentados em Estados aliados, ao decapitar cidadãos Americanos e Britânicos, ao
declarar guerra através de vários vídeos postados no Youtube com oradores de
nacionalidades ocidentais e ao conseguir recrutar jovens menores e jovens
adultos por toda a parte do globo, não só demonstra como está infiltrado na
sociedade europeia e norte-americana como também ataca indirectamente o “1º
mundo”, levando a que acabe por se tornar um vector importantíssimo na
construção de uma nova política externa.
Segundo o relatório das Nações
Unidas de Novembro de 2014, estimou-se que cerca de 15 000 soldados do exército
da ISIS seriam estrangeiros de mais de 80 nacionalidades. Mais tarde, em
Fevereiro de 2015, segundo um relatório da Inteligência dos Estados Unidos,
estimou-se que o número anterior teria aumentado 5 000 soldados, passando a 20
000. Dos países com mais cidadãos presumidamente parte da ISIS temos a Tunísia
(3000), a Rússia (1700) e a França (1200); dos países com menos temos a Suíça
(40), a India (18) e Portugal (10-12). Hoje, em Março de 2016, ainda não se têm
a certeza quantos estrangeiros lutam ao lado da organização terrorista mas sabe-se
que o recrutamento continua activo, principalmente á “caça” de jovens entre os
16 e os 22 anos (sendo que a idade mais baixa relatada foi de 13 anos). Este
tipo de recrutamento foi o que levou a que a política externa de guerra contra
o Estado Islâmico se torna-se também a política interna de muitos países, sendo
que agora o escrutínio de redes sociais como o Facebook, o Twitter e o Ask.fm
está muito mais ligado a jovens do que a adultos formados, levando a que a
segurança e, por vezes, a falta de privacidade permita aniquilar um
recrutamento antes de este começar. A verdade é que a migração entre países
ocidentais e a Síria ocupada tem diminuído bastante no último ano, tendo
atingido o seu pico em 2013-2014 quando a propaganda do Daesh nas redes sociais
quase não encontrava desafios e as viagens, tanto do país de origem para a
Turquia de avião ou de outro transporte como a que atravessa a fronteira turca
com a siria não eram tão vigiadas como hoje.
Dos casos mais infames de
recrutamento temos o das três raparigas britânicas, duas com 15 anos e uma com
16, que viajaram para a Turquia e de lá atravessaram a fronteira para se
juntarem á organização em 2015. As três amigas seguiram o exemplo de uma quarta
rapariga que já se teria juntado á ISIS um ano antes após ter sido contactada
através da rede social Twitter por Aqsa Mahmood, uma rapariga de Glasgow com 21
anos que fugiu do país em 2013 e é considerada culpada por uma grande parte dos
recrutamentos femininos que aconteceram desde então. Aqsa, até ao verão de
2015, geria uma conta no Twitter e uma no Tumblr, onde partilhava e interagia
com várias raparigas de modo a tentar chama-las para fazerem o “bem maior” ao
lado dela no Estado Islâmico. Ao mesmo tempo, fornecia conselhos, como uma
lista que publicou no seu perfil no Tumblr de coisas necessárias a levar para
Raqqa, a capital declarada da ISIS e onde presumidamente se encontra; fornecia
informações de como organizar as viagens, como fazer para ninguém próximo
suspeitar da intenção de fugir; e, aquando do contacto, oferecia-se para pagar
os custos das viagens se necessário ou para arranjar algum contacto no país de
origem para ajudar a preparar tudo. Outro caso que se tornou também conhecido
foi o do casal de jovens americanos que tentou apanhar um avião com a intenção
de se juntarem á organização mas foram impedidos pela segurança
norte-americana. Jaelyn Young, uma jovem afro-americana com 19 anos e o
namorado Muhammad Dakhlalla, com 22 anos tentaram em Agosto de 2015 apanhar um
avião de Mississípi para Amesterdão e mais tarde Istanbul, mas após uma
investigação anteriormente começada, onde agentes do FBI contactaram Jaelyn e
souberam dos seus objectivos de se juntar á “causa islâmica”, estes foram
interceptados e estão hoje á espera da sentença.
Existem muitos mais exemplos, como
dois rapazes e duas raparigas australianas que depois de se juntarem
tornaram-se símbolos de propaganda em 2015, ou como mais de 200 jovens entre os
16 e os 35 anos que saíram de Kosovo para se juntarem á ISIS. O recrutamento é
um mundo negro onde os membros do Daesh aprenderam a manipular e a utilizar
todos os meios ao seu dispor para conseguir cumprir a sua missão. As técnicas
em si não são nada de especial. Até ao ano passado, principalmente até aos
atentados de Paris em Novembro de 2015, a utilização do Twitter era das mais
eficazes, sendo o contacto feito através de mensagens privadas que depois de
quem recruta ter a certeza que não estava a ser enganado passavam para o
Telegram, uma aplicação de mensagens instantâneas encriptadas e mais tarde para
o Skype, onde finalmente se conheciam “cara-a-cara”. Após o acontecimento acima
descrito, o Twitter tomou medidas e fechou várias contas que se encontravam
associadas á ISIS e a organização de hacktivismo
conhecida como Anonymous tratou
igualmente de fechar contas do Twitter e do Tumblr tal como vários sites associados ao terrorismo, levando a
que o recrutamento passasse para a Deep Web. Outra rede social bastante
utilizada para um primeiro contacto foi o Ask.fm, uma espécie de blog onde se
pode fazer perguntas anonimamente. Um dos principais, antes de ser apagado, foi
tornado público o seu conteúdo e onde podíamos encontrar perguntas tais como
“se me juntar á ISIS vou poder disparar armas?” ou “o que tenho de fazer para
ser um soldado?”. O tipo de discurso utilizado é bastante moderno, tentando
sempre a que os jovens adiram á conversa e se sintam confortáveis, e são feitas
promessas de vida eterna e aos rapazes de mulheres que os esperarão mal
cheguem.
No passado dia 11 de Março foram
publicados documentos obtidos pela imprensa alemã, britânica e síria que
continha os nomes, moradas, pseudónimos e números de telefone de cerca de 22
000 pessoas que fazem parte do Estado Islâmico, com cerca de 40 nacionalidades
diferentes. Apesar de ainda estarem a ser investigados, são tomados como
verdadeiros e legítimos.
Em resumo, o recrutamento de
cidadãos pertencentes a Estados do mundo ocidental demonstra a fragilidade com
que os países se deparam, não conseguindo conter este tipo de problema;
demonstra o poder da organização terrorista ao conseguir converter jovens
menores a enfrentarem o medo de ir para uma zona de guerra e a lutarem em nome
de uma doutrina extremista, incluindo raparigas e mulheres que deparadas com
este tipo de manipulação, metem de lado os direitos e o tipo de vida a que
sempre estiveram habituadas para se tornarem mulheres de um soldado e perderem
a liberdade. Um dos discursos mais conhecidos de recrutamento, diz a estas
jovens mulheres que se quiserem casar casam mas se não quiserem poderão
desempenhar outras tarefas, o que na verdade acaba por ser mentira e muitas se
deparam com abusos sexuais constantes. A manipulação é tão eficaz que convencem
que as notícias da comunicação social ocidental são falsas e criam uma realidade
ilusória oposta. Infelizmente, como todos os jovens que conseguiram regressar
acabaram por ser acusados e muitos presos, a vontade de querer voltar é
aniquilada pelo medo do que pode acontecer. A política externa dos países que
fazem frente á ISIS muda para tentar combater esta situação, em conjunto com a
política interna de contenção. O recrutamento é um problema sério e um ataque
terrorista constante, abusando e manipulando de mentes jovens e facilmente
fascinadas, acabando por depois cometer crimes contra a Humanidade e a Nação,
qualquer que ela seja. Um Estado que não
consegue proteger uma criança deste tipo de pressão é, a meu ver, um Estado
frágil.
Patrícia
Silva
Fontes:
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http://www.mirror.co.uk/news/uk-news/runaway-british-jihadi-bride-writes-6179441
http://www.dailymail.co.uk/news/article-2985239/Baby-faced-jihadi-Australian-teenager-called-Jake-good-maths-converted-Islam-fled-Middle-East-join-Islamic-State-fighters.html
http://www.dailymail.co.uk/news/article-3331846/Teenage-Islamist-poster-girl-fled-Austria-join-ISIS-beaten-death-terror-group-trying-escape-Syria.html
http://www.nytimes.com/2015/06/28/world/americas/isis-online-recruiting-american.htm
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http://www.bbc.com/news/world-middle-east-35706764
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https://en.wikipedia.org/wiki/Islamic_State_of_Iraq_and_the_Levant#As_Islamic_State.2C_2014.E2.80.93present
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http://www.teenvogue.com/story/isis-recruits-american-teens
http://www.belfasttelegraph.co.uk/sunday-life/us-woman-attempts-to-lure-northern-ireland-schoolgirls-into-joining-isis-34537328.html
http://time.com/3276567/how-isis-is-recruiting-women-from-around-the-world/
http://www.inquisitr.com/2871179/a-list-of-isis-fighters-has-been-captured-now-for-the-terrorists/
http://www.belfasttelegraph.co.uk/sunday-life/us-woman-attempts-to-lure-northern-ireland-schoolgirls-into-joining-isis-34537328.html
http://time.com/3276567/how-isis-is-recruiting-women-from-around-the-world/
http://www.inquisitr.com/2871179/a-list-of-isis-fighters-has-been-captured-now-for-the-terrorists/
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