terça-feira, 15 de março de 2016

Burundi: A crise sem direito a holofotes

    Vivendo numa era que se poderá chamar de digital, onde impera o poder das novas tecnologias de comunicação, informação e da importância da opinião pública, facilmente somos remetidos para os grandes problemas da agenda internacional. Uma vez que os media fazem questão de nos assombrar 24 horas diárias apenas com questões de “primeira importância”, segundo o patronato e a sua agenda de prioridades, questões criticas como é a da crise política no Burundi, pequeno país Africano, facilmente são deixadas de lado.
    Situado entre o Ruanda, a República Democrática do Congo e a Tanzânia, o Burundi é um país, como tantos outros da África, com história assente no colonato que como sabemos, por muitas vezes, potenciou o agravamento de antigos problemas étnicos entre populações divergentes, e o Burundi, não é excepção. Hutus, cerca de 85% da população do país, e portanto a maioria, e Tutsis, a minoria historicamente dominante no que se refere política do país, chocam desde o período colonial, que entre várias rebeliões e golpes de Estado de ambos os lados (dos vários grupos de guerrilha Hutus e entre as forças governativas do exercito Tutsi), apenas se contam mortos aos milhares.
    Em concreto, a guerra civil no Burundi irrompeu em 1993, sendo que o conflicto tem como génese a exigência Hutu de se ver mais representada nas estruturas estatais do país. Salienta-se que entre o período de 1993 a 2006 se contam, tragicamente, cerca de 300.000 vítimas mortais deste confronto.
    Daqui, compreendendo-se a imperativa necessidade de paz, surgiram esforços como o Acordo de Paz assinado em 2000 em Arusha, Tanzânia, que teve como intermediários Nelson Mandela, que dispensa apresentações, e Juluis Nyerere, ex presidente da Tanzânia, e em 2006 o assinar do cessar-fogo entre o governo burundiano e as Forças Nacionais de Libertação (FNL), de maioria hútu, porém a guerra civil não viu, na realidade, o desejado fim já que nem hútus nem tutsis o subscreveram.
    Presentemente (Abril de 2015) voltamos a constactar o reemergir agravado da violência e da intimidação no país. A causa tem que ver, principalmente, com a inconstitucionalidade de uma possível terceira reeleição do actual presidente, Pierre Nkurunziza, do partido político Conselho Nacional para a Defesa da Democracia – Forças de Defesa da Democracia (CNDD-FDD) (antes um grupo de rebeldes hutu).
    Neste seguimento, denota-se que estas perturbações políticas, militares e sociais, estão, sem dúvida, a “teletransportar” o Burundi para o seu passado terrivelmente conflictuoso entre as etnias já citadas, que na realidade nunca terminou. A verdade é que, como resultado deste contexto, contam-se já, entre Novembro e Dezembro de 2015, centenas de mortes, já para não falar dos milhares de pessoas que tem sido presas. A isto, alia-se a alarmante fuga de milhares de pessoas (cerca de 220.000 registadas até agora), principalmente em direcção à Tanzânia e outros países vizinhos, como resultante.
    Face a tudo isto, Zeid Ra’ad Al Hussein, o alto comissário dos Direitos Humanos da ONU, denunciou a situação perante o conselho dos Direitos Humanos da ONU, mas facto é que, embora faça vários avisos perspectivantes da evolução preocupante da situação no Burundi e da evolução e expansão consequente desta crise aos países vizinhos, numa zona, já por si, historicamente problemática quando se fala em confronto étnicos, denota-se a inercia da organização que representam bem como da comunidade internacional, perante a situação.
Zeid Ra’ad Al Hussein advoga que esta é uma situação que necessita de algo mais concreto do que a diplomacia, alegando que até mesmo os países vizinhos do Burundi são, também eles, causadores da problemática. Estes fornecem armas numa perspectiva apenas de ganho próprio. Nisto, afirma que será crucial a monotorização, por exemplo através de drones, das fronteiras destes países de modo a cortar com esta transação irresponsável, e recomenda paralelamente que o governo do Burundi desarme as milícias da ala jovem ligadas ao partido do governo, de nome Imbonerakure. Esta ala poderá levar a uma catastrófica mobilização de indivíduos que só acentuará a crise étnica.
    Em contraponto com a UE, a UA (União Africana), num comunicado que fez através de um meio de comunicação, na minha opinião algo insólito, o twitter, diz que não permitirá que ocorra outro genocídio dentro do seu território e que para isso será urgente acção imediata. Porém tal como a UE, fala-se da necessidade de travar esta violação aos direitos humanos e da necessidade de arranjar um solução justa e estabilizadora da sua situação politica e social, ou melhor dizendo, da situação emergente de conflicto étnico, mas ainda não foram tomadas qualquer tipo de medidas.
    Na minha opinião, tal como é de conhecimento comum, e talvez por não ser uma prioridade da agenda internacional, a não ser que o problema se propague rapidamente a zonas de interesse e que possa resultar em problemas graves tanto para a UE como para a UA, nada ou muito pouco será feito.
    Poderia ser que a opinião pública internacional, conseguisse exercer pressão sobre os actores internacionais para uma palpável tentativa de resolução caso, não permanecesse na quase-escuridão em relação ao problema, isto porque se trata de um problema que se relaciona e, vai contra aquilo que a Humanidade tem de mais precioso, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Mas, como de costume, a violação dos direitos humanos, apenas se demonstra da máxima importância quando é efectuada em regiões “civilizadas” e de mínimo interesse económico. Assim sendo, uns continuam a ser filhos e os outros, indefinidamente, enteados.

Daniela Luís, nº 216282

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