terça-feira, 15 de março de 2016

Angola, o paraíso do Ouro Negro

        Angola até há bem pouco tempo era considerada um dos paraísos do petróleo mundial. Segundo informações da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), depois da Nigéria, Angola é o segundo produtor de petróleo do continente africano, com uma produção diária de 1,62 milhões de barris. Em 2014, 70 por cento das receitas fiscais de Angola tiveram por base o petróleo. Um ano depois, em 2015, estes números não terão ido além dos 36,5 por cento. É uma projecção do próprio Governo que tem por base a quebra continuada da cotação internacional do crude.

        Segundo o Ministério Angolano das Finanças, mede-se o abalo da crise do petróleo em Angola no ano passado, tendo em conta, uma quebra de mais de 50 por cento em receitas fiscais, um rombo de 8,5 mil milhões de euros nos cofres públicos e um corte para metade nos lucros das exportações da Sonangol.

           Segundo números avançados pela agência Lusa, no conjunto de 2015, os cofres de Angola encaixaram 8,2 mil milhões de euros (aproximadamente 1,4 biliões de kwanzas), com actividades ligadas directa e indirectamente à exportação de petróleo. Comparativamente ao conjunto de 2014, Angola havia obtido o equivalente a 16,7 mil milhões de euros (aproximadamente 2,9 biliões de kwanzas). Há a considerar ainda que a exportação angolana de petróleo bruto cresceu de 599.111.030 barris, em 2014, para 645.104.720 barris, no ano passado. Ou seja, um aumento significativo de 45.993.690 barris. Deste modo, o regime de Luanda confrontou-se com um recuo homólogo de 50,7 por cento: uma ruptura nas receitas que ascendeu, assim, a 8,5 mil milhões de euros, tendo em conta as actuais taxas de câmbio – 03 de Fevereiro de 2016. Recuo este que teve um impacto brutal ao nível do Orçamento Geral do Estado de Angola para 2015, ao abrigo do qual o Governo angolano esperava obter até 14,7 mil milhões de euros (aproximadamente, 2,5 biliões de kwanzas) em receitas oriundas dos impostos sobre os produtos petrolíferos - do Imposto sobre o Rendimento do Petróleo, do Imposto sobre a Produção de Petróleo, do Imposto sobre a Transacção de Petróleo e da concessionária angolana, a estatal Sonangol. No entanto, em março de 2015, uma correcção orçamental faria cair essa estimativa em 59,3 por cento, para 6,1 mil milhões de euros (aproximadamente 1.039 milhões de kwanzas). Ainda assim, Luanda ainda arrecadou mais dois mil milhões de euros, face à estimativa para 2015.

            Em relação à petrolífera angolana, a estatal Sonangol, deste país africano viu reduzir para mais de metade a receita de 2015 com as exportações, relativamente a 2014. As vendas para o estrangeiro renderam à Sonangol 5,4 mil milhões de euros (aproximadamente 918 mil milhões de kwanzas). Face a 2014, a queda de receitas da Sonangol foi de 50,9 por cento. Em outubro de 2015, perante a Assembleia Nacional pelo vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, o regime anunciou a criação de uma “comissão de avaliação para estudar a situação da Sonangol e do sector dos petróleos e propor as bases da sua reestruturação”. Daí a existência do Comité de Avaliação e Análise para o Aumento da Eficiência do Sector Petrolífero e a Comissão de Reajustamento da Organização do Sector dos Petróleos.

            Como referido anteriormente, devido à quebra das receitas com a exportação de petróleo, que levou à diminuição da entrada de divisas no país, Angola, o segundo maior produtor da África subsaariana, está mergulhada há mais de um ano numa crescente crise financeira, económica e cambial, que tem vindo a afectar gradualmente a sua política externa.
           O Banco Nacional de Angola (BNA) tem adoptado estratégias de promoção da economia interna angolana, ou seja, a priorização do acesso a divisas para os sectores produtivos nacionais em detrimento dos sectores internacionais. Estas medidas têm afectado,em larga escala, empresas multinacionais, que se têm visto obrigadas a reduzir os seus investimentos no país, a sua mão-de-obra e a mudança de políticas de actuação no mesmo. Desta forma, esta crise tem contribuído para a diminuição de trabalhadores estrangeiros no país, ou seja, diminuição da mão-de-obra proveniente de emigrantes. Há a acrescer o facto de já se terem registado situações de atrasos de alguns meses nas transferências para o estrangeiro, por exemplo de trabalhadores expatriados, como o próprio governador do BNA admite, referindo-se às "filas de espera nas operações cambiais no sistema bancário". De acordo com o governador do BNA, a reservas internacionais líquidas de Angola cifravam-se em dezembro de 2015 nos 22,1 mil milhões de euros (22,4 mil milhões de dólares), uma quebra de 11,53% face a 2014, mas ainda suficientes para garantir necessidades de seis meses de importações. No entanto, os últimos números avançados pelo mesmo, constatam uma diminuição abrupta ao nível das importações, o que tem posto em causa inúmeros acordos e contratos efectuados entre o Governo angolano e os Governos de outros países do Mundo e, consequentemente, entre empresas angolanas e empresas multinacionais.

            Contudo, o Governo angolano delineou um plano de acção estratégico com o propósito de contrariar a crise instaurada derivada da queda acentuada do preço do petróleo no mercado internacional cujas suas linhas mestras incidem sobre: iniciar um novo ciclo económico de estabilidade não dependente do petróleo (assente no pressuposto da substituição do petróleo como principal fonte de receita fiscal e de exportações de Angola); em curto prazo, recorrer ao endividamento para aumentar a produção interna, sobretudo dos produtos da cesta básica e de amplo consumo interno e para exportação, de modo a gerar divisas para o país; a utilização de saldos de linhas de crédito existentes, antes contraídas internacionalmente para "fins públicos"; selecção criteriosa de parceiros internacionais por empresários angolanos, que serão os agentes de implementação fundamental dos programas de investimento dirigidos e de arranjos produtivos, tais como contratos de partilha de produção para rápida obtenção de know-how e ganhos de eficiência e economias de escala; medidas para aumentar a receita tributária não-petrolífera e a optimização da receita pública, reduzindo-a para sustentar as finanças públicas; a racionalização da estrutura da administração central e local do Estado e monitorização dos investimentos públicos; a priorização para a manutenção do emprego e no domínio da educação da saúde da população; a racionalização da importação de bens e serviços, devendo-se desincentivar a importação de bens e serviços não prioritários por parte dos grandes consumidores públicos; melhorar a competitividade do país internacionalmente e aumentar a produção interna em vários sectores.

            Em suma, o Governo angolano está a focar-se prioritariamente na política interna em detrimento da política externa. Apesar de surgirem algumas medidas relacionadas com a política externa, nomeadamente: a implementação de programas para captar investimento estrangeiro; medidas para melhorar a imagem do país com o intuito de gerar reconhecimento e visibilidade para recuperar a sua credibilidade perante os outros actores internacionais; e promover a autonomia do país que se revela alta e maioritariamente dependente de um único recurso, o petróleo, ou seja, surge a necessidade de implementar medidas para contrariar esta dependência através da diversificação das suas fontes e dos seus recursos.


Bernardo Gonçalves


Fontes:

http://www.dn.pt/dinheiro/interior/banco-nacional-angolano-racionaliza-divisas-devido-a-crise-do-petroleo-5003224.html - acedido a 04/03/2016;

http://www.tsf.pt/internacional/interior/as-medidas-de-angola-para-responder-a-crise-5002448.html - acedido a 04/03/2016;

http://www.rtp.pt/noticias/economia/o-impacto-angolano-da-crise-do-petroleo-em-numeros_n893278 - acedido a 04/03/2016;

http://www.dw.com/pt/angola-para%C3%ADso-do-petr%C3%B3leo-e-dos-bairros-de-lata/a-16468718 - acedido a 04/03/2016;

http://www6.rel-uita.org/internacional/fotos/africa-petroleo-3-230.JPG - acedido a 09/03/2015 (recolha de imagem);

Apontamentos recolhidos em aula.

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