terça-feira, 15 de março de 2016

Globalização do terror

   
    Surpreendentemente surge uma organização alegadamente religiosa, cujo sustentáculo é efetuado na literalidade que impõe ao Alcorão, alicerçada à sua umbrella organization, al-Qaeda.
    Em meados de 2013, emerge o autodenominado Estado Islâmico, através de ataques terroristas no médio oriente e, mais tarde, no Magrebe, sendo que adquire notoriedade ao virar-se para o ocidente, atingindo o apogeu com o atentado ao jornal Charlie Hebdo. Atua de um modo tão peculiar, significando este, distinto até para a organização que lhe estava alicerçada, tendo gerado uma cisão entre ambas. Assim, no sentido de se “descolar” desta, impôs o seu califado, sob o comando de al-baghdadi, califa desta parte até então. De facto, esta organização intitulada por “Estado” está na iminência de esbater as fronteiras entre a Síria e o Iraque, devido à ocupação de parte dos seus territórios, tendo em conta a lógica expansionista territorial que possui, paradoxalmente aos “verdadeiros“ estados, os quais, pejorativamente, o designam por Daesh. À tendência expansionista juntam-se os meios, como ataques diretos a infraestruturas dos países que pretendem conquistar ou atacar para a notabilização da sua força, com uma diferença significativa, o ataque à maior arma adquirida pelo povo após os totalitarismos, a liberdade!
     A liberdade, em essência, reporta-se à consciencialização do alcance do livre-arbítrio e à ação ou inação, sendo a liberdade de expressão, a visada na temática em abordagem, a capacidade de opinar sem censura. Posto isto, nota-se uma imposição de medo, já não pela destruição de infraestruturas económicas, como aconteceu no 11 de setembro de 2001, mas através do ataque a infraestruturas sociais e lúdicas, num claro repúdio pela sociedade ocidental, dos costumes ao estilo de vida. É claro, que o ocidente, sentindo à “flor da pele” estas calamidades, com maior peso pelo efeito surpresa, começa a estar mais desperto para a organização referida, bem como proactivo em erradicar com este flagelo humano e material, de longa duração, que outrora era para nós distante, devido à distância física, coibindo os países desenvolvidos de ações assertivas. Desde o confronto direto à Europa, palco extrapolado para o restante Ocidente, há exemplos explícitos da sua ação, como no caso da Rússia, a qual possui uma estratégia ofensiva, patente nos constantes ataques aos locais dominados pelo autodenominado Estado islâmico. Os EUA, apesar de encarnarem uma postura de protetores mundiais, encontram-se mais pacíficos que outrora, porque a política externa é também aprender com o passado e retirar dele as devidas lições, ou seja, os EUA, após se terem envolvido na guerra com o Iraque, não possuem, neste momento, força anímica e monetária para se envolverem numa guerra com a Síria, porém continuam em conversações com os restantes países para travar a situação. Em relação à UE, mesmo ao despender uma quantia avultada, no sentido de travar a ação da organização, continua infrutífera na erradicação do problema. Para lhe fazer face, a Rússia propôs a consecução de um Estado-maior conjunto, composto pela França, Turquia e EUA. Como se encontra patente, os estados colocaram como âmago da sua política externa, o terrorismo, assumindo este um papel relevante na agenda internacional. Fora esta organização, existem ainda outras de cariz terrorista, que se disseminam pelo médio oriente e Magrebe, como ansar al islam, tigres de libertação do tâmil Eelam e Hamas, entre outras.
    Neste momento, como já foi abordado, há uma panóplia de interações entre os países para findar com a crise que se sucede na Síria. Chamar “crise” é ser simplista, trata-se de uma calamidade humana e material, que possui dois lados da moeda, de um lado Bashar al-Assad que impede as relações com o ocidente, tendo este o desejo de o depor, por outro lado, caso seja deposto, a subida ao poder do Estado islâmico, como se autodenomina, seria axiomática. Este revés da moeda condiciona a política de ação do ocidente.
     Com um semblante próprio e sob escudo de armas e dinheiro, adquirido pela ocupação e venda ilegal de gás natural, a sociedade ocidental começa a amedrontar e a condicionar as suas ações, como aconteceu, aquando do atentado em Paris, em que as pessoas evitavam ir ou retornar à região afetada. De facto, o poder e o dinheiro sobrepõem-se ao restante e criam espectativas acerca de um futuro mais promissor, por conseguinte, o recrutamento ocidental é o principal meio da organização para obter recursos humanos. Tudo deriva da questão monetária e de aquisição de poder, no sentido de ser mais respeitado e conseguir ser bem-sucedido a nível pessoal, através da atribuição de uma ou mais noivas, símbolo de respeito, e social, à mercê das armas que possui. Aliás, os recrutados são jovens, que despertos para as inovações que surgem, têm acesso à melhor estratégia da organização, a utilização da tecnologia, porque face a esta, os jihadistas conseguem disseminar a mensagem e atingir os alvos pretendidos, como é o caso dos vídeos a trucidar pessoas ou a patentear as escolas jihadistas que as crianças são alvo. A questão que tem de ser equacionada é: o que é que o ocidente precisa de fazer para travar este flagelo? Considero que a melhor solução é resolver a sua situação interna, quer sejam crises económicas, quer a transmissão de maior segurança acerca dos seus valores aos cidadãos, porque só deste modo a população conseguirá compreender o cariz da organização e, por conseguinte, compreender que enveredar na referida não corresponde à melhor opção.
    O ocidente não consegue negociar com quem não teme a perda da sua própria vida. Se o problema é do Alcorão? Não creio, considero que o cerne do problema foi a imposição dos ideais ocidentais, onde já se encontra implementado a laicização do estado e o humanismo, paradoxalmente ao médio oriente e norte de África orientado pelo seu livro sagrado. Digamos que são sociedades que se encontram num estádio anterior ao nosso, porém não é taxativo, sendo possível a ultrapassagem do mesmo.
Problemas, muitos. Soluções, muito poucas.


 Beatriz Rodrigues Charneco


Fontes:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/01/paises-se-reunem-em-paris-para-discutir-combate-ao-estado-islamico.html, 13 de março de 2016
http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2016-01/obama-diz-que-combatera-estado-islamico-em-outros-paises-alem-da-siria, 14 de março de 2016
http://www.tsf.pt/internacional/interior/estado-islamico-e-financiado-a-partir-de-40-paises-alguns-sao-do-g20-acusa-putin-4888254.html, 13 de março de 2016
http://br.blastingnews.com/mundo/2015/11/inicio-do-fim-para-o-estado-islamico-russia-destroi-centenas-de-alvos-na-siria-00675593.html, 15 de março de 2016
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/11/russia-quer-estado-maior-conjunto-contra-o-estado-islamico.html, 11 de março de 2016
http://www.dn.pt/globo/interior/uniao-europeia-vai-dar-mil-milhoes-de-euros-para-combater-o-estado-islamico-na-siria-e-iraque-4385605.html, 13 de março de 2016


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