Globalização do terror
Surpreendentemente
surge uma organização alegadamente religiosa, cujo sustentáculo é efetuado na
literalidade que impõe ao Alcorão, alicerçada à sua umbrella organization, al-Qaeda.
Em
meados de 2013, emerge o autodenominado Estado Islâmico, através de ataques
terroristas no médio oriente e, mais tarde, no Magrebe, sendo que adquire
notoriedade ao virar-se para o ocidente, atingindo o apogeu com o atentado ao
jornal Charlie Hebdo. Atua de um modo
tão peculiar, significando este, distinto até para a organização que lhe estava
alicerçada, tendo gerado uma cisão entre ambas. Assim, no sentido de se
“descolar” desta, impôs o seu califado, sob o comando de al-baghdadi, califa
desta parte até então. De facto, esta organização intitulada por “Estado” está
na iminência de esbater as fronteiras entre a Síria e o Iraque, devido à
ocupação de parte dos seus territórios, tendo em conta a lógica expansionista territorial
que possui, paradoxalmente aos “verdadeiros“ estados, os quais,
pejorativamente, o designam por Daesh.
À tendência expansionista juntam-se os meios, como ataques diretos a
infraestruturas dos países que pretendem conquistar ou atacar para a
notabilização da sua força, com uma diferença significativa, o ataque à maior
arma adquirida pelo povo após os totalitarismos, a liberdade!
A
liberdade, em essência, reporta-se à consciencialização do alcance do
livre-arbítrio e à ação ou inação, sendo a liberdade de expressão, a visada na
temática em abordagem, a capacidade de opinar sem censura. Posto isto, nota-se
uma imposição de medo, já não pela destruição de infraestruturas económicas,
como aconteceu no 11 de setembro de 2001, mas através do ataque a
infraestruturas sociais e lúdicas, num claro repúdio pela sociedade ocidental,
dos costumes ao estilo de vida. É claro, que o ocidente, sentindo à “flor da
pele” estas calamidades, com maior peso pelo efeito surpresa, começa a estar
mais desperto para a organização referida, bem como proactivo em erradicar com este
flagelo humano e material, de longa duração, que outrora era para nós distante,
devido à distância física, coibindo os países desenvolvidos de ações assertivas.
Desde o confronto direto à Europa, palco extrapolado para o restante Ocidente, há
exemplos explícitos da sua ação, como no caso da Rússia, a qual possui uma
estratégia ofensiva, patente nos constantes ataques aos locais dominados pelo autodenominado
Estado islâmico. Os EUA, apesar de encarnarem uma postura de protetores mundiais,
encontram-se mais pacíficos que outrora, porque a política externa é também
aprender com o passado e retirar dele as devidas lições, ou seja, os EUA, após
se terem envolvido na guerra com o Iraque, não possuem, neste momento, força
anímica e monetária para se envolverem numa guerra com a Síria, porém continuam
em conversações com os restantes países para travar a situação. Em relação à
UE, mesmo ao despender uma quantia avultada, no sentido de travar a ação da
organização, continua infrutífera na erradicação do problema. Para lhe fazer
face, a Rússia propôs a consecução de um Estado-maior conjunto, composto pela
França, Turquia e EUA. Como se encontra patente, os estados colocaram como
âmago da sua política externa, o terrorismo, assumindo este um papel relevante
na agenda internacional. Fora esta organização, existem ainda outras de cariz
terrorista, que se disseminam pelo médio oriente e Magrebe, como ansar al
islam, tigres de libertação do tâmil Eelam e Hamas, entre outras.
Neste
momento, como já foi abordado, há uma panóplia de interações entre os países
para findar com a crise que se sucede na Síria. Chamar “crise” é ser simplista,
trata-se de uma calamidade humana e material, que possui dois lados da moeda,
de um lado Bashar al-Assad que impede as relações com o ocidente, tendo este o
desejo de o depor, por outro lado, caso seja deposto, a subida ao poder do
Estado islâmico, como se autodenomina, seria axiomática. Este revés da moeda
condiciona a política de ação do ocidente.
Com
um semblante próprio e sob escudo de armas e dinheiro, adquirido pela ocupação
e venda ilegal de gás natural, a sociedade ocidental começa a amedrontar e a
condicionar as suas ações, como aconteceu, aquando do atentado em Paris, em que
as pessoas evitavam ir ou retornar à região afetada. De facto, o poder e o
dinheiro sobrepõem-se ao restante e criam espectativas acerca de um futuro mais
promissor, por conseguinte, o recrutamento ocidental é o principal meio da
organização para obter recursos humanos. Tudo deriva da questão monetária e de aquisição
de poder, no sentido de ser mais respeitado e conseguir ser bem-sucedido a
nível pessoal, através da atribuição de uma ou mais noivas, símbolo de
respeito, e social, à mercê das armas que possui. Aliás, os recrutados são
jovens, que despertos para as inovações que surgem, têm acesso à melhor
estratégia da organização, a utilização da tecnologia, porque face a esta, os
jihadistas conseguem disseminar a mensagem e atingir os alvos pretendidos, como
é o caso dos vídeos a trucidar pessoas ou a patentear as escolas jihadistas que
as crianças são alvo. A questão que tem de ser equacionada é: o que é que o
ocidente precisa de fazer para travar este flagelo? Considero que a melhor
solução é resolver a sua situação interna, quer sejam crises económicas, quer a
transmissão de maior segurança acerca dos seus valores aos cidadãos, porque só
deste modo a população conseguirá compreender o cariz da organização e, por
conseguinte, compreender que enveredar na referida não corresponde à melhor
opção.
O
ocidente não consegue negociar com quem não teme a perda da sua própria vida.
Se o problema é do Alcorão? Não creio, considero que o cerne do problema foi a
imposição dos ideais ocidentais, onde já se encontra implementado a laicização
do estado e o humanismo, paradoxalmente ao médio oriente e norte de África
orientado pelo seu livro sagrado. Digamos que são sociedades que se encontram
num estádio anterior ao nosso, porém não é taxativo, sendo possível a
ultrapassagem do mesmo.
Problemas,
muitos. Soluções, muito poucas.
Beatriz Rodrigues Charneco
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