terça-feira, 1 de março de 2016

Israel: um Estado que não o é

 

O dia 14 de Maio de 1948 marca a fundação do Estado de Israel, num território que após a queda do império Otomano no término da 1ª Guerra Mundial havia estado sobre administração britânica. Fruto da pressão sionista este território situado na costa do Mediterrâneo com fronteiras geográficas com Egipto, Líbano, Cisjordânia e Síria foi entregue na data supracitada para que, segundo o plano original, tal território fosse partilhado entre Israelitas e Palestinianos mas desde logo se percebeu que tal plano não correria tão bem quanto se tinha projectado. O território atribuído aos judeus não foi propriamente o indicado pois para além de todos os conflitos culturais, ou tribais, que já o afectavam o inserir de um Estado apoiado pelo Ocidente (de notar que geograficamente, sobretudo nas últimas décadas, os territórios adjacentes contêm em si algumas das maiores potências anti-ocidente) numa terra sagrada para muçulmanos, judeus e católicos. Assim, potenciada pela religião (historicamente a diferente cultural mais conflitos tem gerado) começou uma das maiores disputas no que diz respeito às relações internacionais na segunda metade do século XX e inicio do século XXI. Por todas as desculpas que se possam arranjar (religião, cultura, etc.) maior parte dos conflitos em torno do Estado de Israel têm girado à volta da ocidentalização do mundo moderno e, sobretudo, por uma anti-americanização do mundo árabe, que tem uma influência enorme em toda a economia mundial pela sua influência no mercado dos combustíveis. Sendo os Estados Unidos da América autoproclamados lideres da onda de ocidentalização inserida na nova era da globalização tem todo o interesse ter um estado aliado num território que não vê com boa cara esta onda, pois os princípios basilares desta onda vão contra a austera cultura muçulmana, xiita ou sunita, daqueles estados. Mas tudo isto traz um enorme problema ao panorama de toda a região, pois com toda esta perspetiva excessivamente politizada e focada no controlo geopolítico de um dos pontos vitais no plano internacional todo o lado humano acaba por ser deixado para trás e quem acaba por sofrer são todos aqueles que apesar de não fazerem por isso são discriminados pela sua etnia, cultura ou religião, vejamos o caso dos cidadãos de origem palestiniana.A questão israelita não pode somente ser abordada como uma questão de política externa de um Estado, ou uma questão governamental, toda a sua postura diplomática é alicerçada numa questão cultural que não permite a formação de uma nação em torno de um Estado, a rivalidade que se afigura eterna entre as elites culturais, ou tribais, impossibilita a união dos cidadãos em torno do Estado. Israel, mesmo sendo “patrocinado” pelo ocidente, não é um Estado à imagem dos Estados europeus, por exemplo, com uma identidade cultural definida e baseada no seu percurso histórico, assim, Israel torna-se apenas num agrupamento de várias elites culturais num só espaço fronteiriço, elites essas que se defrontam continuamente pelo controlo da região que lhes é afeta e para que esse contronto se torne favorável à sua causa é necessário apoio externo, não só em termos diplomáticos como em termos financeiros.Depois de centenas de anos em disputa pelo espaço geográfico onde se situa Israel por questões meramente religiosas hoje em dia o Israel torna-se muito mais apelativo à interferência externa por questões geopolíticas, Israel é dos Estados mais desenvolvidos tecnologicamente fora do mundo ocidental, Israel apresenta-se como a possibilidade do Ocidente controlar e estancar um avanço árabe anti-ocidental, Israel é a melhor hipótese do ocidente face a uma ameaça iraniana, por entre outras vicissitudes.Israel é portanto um Estado fantasma que no seu todo não existe, não há cultura nacional, não existe uma nação e acaba por não ser independente na sua política externa, e só assim o é porque, graças a todos os motivos abordados anteriormente, não interessa às grandes potências mundiais o desmantelar de um Estado que uns criaram e outros outros podem usar para afrontar os seus rivais. Nestas circunstâncias é possível sugerir que Israel é um dos capítulos desta nova guerra diplomática pós-Guerra Fria, onde o confronto deixou de ser bipartido e entraram novos actores e novas influências, especialmente do mundo árabe.Concluindo, os problemas israelitas surgem do seu interior pela sua multiculturalidade étnica impossível de conciliar mas por tudo isso torna-se um alvo à influência externa o que eleva e potencia todos os problemas internos ao ponto de se tornarem problemas internacionais. Israel enquanto Estado é apenas mais uma vítima da globalização que permite a penetração de influências externas no comando de um Estado e acabam por minar a possibilidade da criação de uma unidade nacional, sendo que esta é a única possibilidade para uma paz duradoura a nível interno o que, no fundo, é apenas o que interessa aos cidadãos de nacionalidade israelita. 

Pedro Lopes

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