terça-feira, 29 de março de 2016

O “acordar” da Europa

No passado dia 22 de Março, o aeroporto de Zaventem e a estação de metro de Maelbeek, cuja localização assenta nas proximidades da sede da Comissão Europeia, foram palco para novos atentados terroristas. As explosões aconteceram apenas dias após Salah Abdeslam, jihadista pertencente ao autoproclamado Estado Islâmico, ter sido capturado em Bruxelas, sendo clara a ligação existente entre os acontecimentos. Abdeslam era o último homem responsável pelo ataque de Paris que ainda se encontrava em fuga. Posto isto, o Estado Islâmico, como se autodenomina, procurou uma vez mais demonstrar a sua força.
A forma solidária com que os povos alemães e suecos têm acolhido os refugiados tem gerado apoiantes e opositores. Opositores estes, que não veem de bom grado a generosidade da inclusão dos refugiados no “velho continente”, pois consideram que entre eles se encontram difusores e militantes do autoproclamado Estado Islâmico.
Devido aos atendados nas capitais europeias, despontou ascensão súbita da extrema-direita, prometendo lutar com “rédeas curtas” contra o terrorismo, a qual pretende o renascimento do espírito forte, orgulhoso, bem como nacionalista da Europa. Posto isto, os valores europeus de unificação, pacificidade e liberdade têm sido postos em causa, devido aos movimentos e partidos extremistas que atuam disfarçadamente sob signo da proteção dos cidadãos e promoção do ataque ao terrorismo e, consequentemente, ao islamismo, como acontece em França, com a Frente Nacional de Marine Le Pen, o Partido da Liberdade holandês e o Jobbik da Hungria. No passado Domingo, dia 27 de Março, um grupo de extrema-direita protestou em Bruxelas, com vista à interrupção da homenagem feita às vítimas dos atentados e, deste modo, adquirindo visibilidade, face aos media presentes no local. A “Marcha contra o Medo”, que iria realizar no mesmo dia, foi adiada por motivos de segurança, no entanto a população colocou flores, velas e mensagens no local, como gesto de defesa da paz (Lusa, 2016).
Face às ameaças e aos ataques, a passividade da América e da Europa tem sido cada vez mais posta em causa, a qual tem gerado cada vez mais apoiantes de uma força militar na Síria para pôr termo à guerra civil. Os governos da Europa precisam de deixar de lado a sua estratégia neutral e priorizar como âmago da sua política externa, a solidariedade para com as nações vizinhas, através da cooperação entre os serviços de segurança europeus e fomentação da unidade europeia, visto que “Washington tem cooperado mais estreitamente com as capitais europeias sobre a ameaça de terror do que muitos governos e isto tem que mudar” (Twining, 2016).
Segundo Twining, os movimentos contra-terroristas devem ter o seu início na origem do problema, relativamente à retirada dos soldados americanos no Iraque e à sua política de não intervenção nos assuntos da Líbia e Síria, sendo que tal decisão pode ter contribuído para o alastramento da mentalidade jihadista por todo o Médio Oriente e, por conseguinte, nos ataques ao Ocidente. Deste modo, a situação tem de ser resolvida, com recurso à intervenção militar Ocidental no Médio Oriente, para travar a guerra da Síria e do Iraque, sem ignorar o caso líbio (Twining, 2016).
Charles Michele, primeiro-ministro belga, começa a dar os primeiros passos de ataque e defesa europeia referindo que irá enviar caças F-16 [arma] ao autodenominado Estado Islâmico, declarando que “ninguém ficará impune” (Michele, cit. in Coelho, 2016). O primeiro-ministro francês, Manuel Valls sublinhou a urgência do reforço das fronteiras externas da União Europeia. Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, mostrou a sua indignação face aos atentados referindo que “o terrorismo não irá derrotar a democracia e roubar as nossas liberdades”, reforçando o nível de alerta e a monotorização da NATO (Stoltenberg, cit. in Costa 2016).
Os ataques terroristas empreendidos no “coração político” da Europa provaram que os inimigos do ocidente continuam firmes nas suas convicções, cabendo à Europa e aos seus aliados travar essa luta, não sendo permitido mais passividade.

“É hora para aqueles que acreditam na ideia europeia se levantarem e mostrarem pelo que vale a pena lutar” (Caryl, 2016).

Ivan Rodrigues de Sá, nº216290

Fontes:
Caryl, Christian (2016). “Europe’s big freedom fail”. Foreign Policy. Disponível em: http://foreignpolicy.com/2016/03/25/europes-big-freedom-fail/, consultado a 27 de Março de 2016.
Coelho, Liliana (2016). “Bélgica vai enviar caças F-16 para combater o Daesh”. Expresso. Disponível em: http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-03-25-Belgica-vai-enviar-cacas-F-16-para-combater-o-Daesh, consultado a 28 de Março de 2016.
Costa, Alexandre (2016). “NATO fala em “ataque cobarde aos nosso valores e às nossas sociedades abertas””. Expresso. Disponível em: http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-03-22-NATO-fala-em-ataque-cobarde-aos-nosso-valores-e-as-nossas-sociedades-abertas, consultado a 28 de Março de 2016.
Lusa (2016). “Confrontos em Bruxelas durante homenagem às vítimas”. Expresso. Disponível em: http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-03-27-Confrontos-em-Bruxelas-durante-homenagem-as-vitimas, consultado a 27 de Março de 2016.
Lusa (2016). “Primeiro-ministro francês diz ser “urgente” reforçar as fronteiras externas da EU”. Expresso. Disponível em: http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-03-23-Primeiro-ministro-frances-diz-ser-urgente-reforcar-as-fronteiras-externas-da-UE, consultado a 28 de Março de 2016.
Twining, Daniel (2016). “Time for a New Tack on Terror in Europe”. Foreign Policy. Disponível em: http://foreignpolicy.com/2016/03/24/time-for-a-new-tack-on-terror-in-europe/, consultado a 27 de Março de 2016.
Viana, Joana & Fábio Monteiro (2016). “Duas explosões no aeroporto de Bruxelas provocam 13 mortos e 35 feridos”. Expresso. Disponível em: http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-03-22-Duas-explosoes-no-aeroporto-de-Bruxelas-provocam-13-mortos-e-35-feridos, consultado a 26 de Março de 2016.
Fonte de imagem: “Atentados em Bruxelas expões a vulnerabilidade da Europa a terrorismo”. Época. Disponível em: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/03/atentados-em-bruxelas-expoem-vulnerabilidade-da-europa-terrorismo.html, consultado a 28 de Março de 2016. 

Sem comentários:

Enviar um comentário