terça-feira, 1 de março de 2016

Politica Externa Chinesa, “um jogo em diversos tabuleiros”

Antes de proceder a uma análise acerca da política externa do país por mim escolhido, China, é fulcral entender como se processa a política interna deste mesmo país bem como algumas das suas características.
A China insere-se no grupo dos quatro países remanescentes do socialismo(1) que ainda hoje subsistem, tratando-se do mais populoso de todos eles, sendo também o país com maior numero de habitantes em todo o mundo.(1) O seu sistema político é alvo da atenção de grande parte de investigadores uma vez que, caracterizado por "socialismo de mercado"(2) e sendo propagado por todo o país se tornou bastante controverso. (2)
Este país é governado atualmente pelo Partido Comunista da China (PCC), adquire um aspeto particular uma vez que se notabiliza pela inexistência de uma oposição ao governo. Existem outros partidos políticos, designados por partidos democráticos, no entanto, estes apenas figuram na Assembleia Popular Nacional, assim como na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC). O poder do partido predominante encontra-se legitimado pela própria Constituição chinesa. O Presidente chinês, eleito indiretamente, ocupa também o cargo de secretário-geral do Partido Comunista da China, para além do cargo de presidente da Comissão Militar Central e o de líder político do país.
A China é considerada uma das nações mais autoritárias do planeta, possui elevadas restrições no que toca à imprensa, liberdade de expressão, direitos reprodutivos, internet e liberdade de religião. Este país não se salienta apenas pela sua grandeza geográfica e demográfica, é também grandioso no que diz respeito à temática económica mostrando resultados impressionantes referentes ao crescimento económico nos últimos anos.
Após uma breve introdução sobre a política interna desta grande potência, será mais fácil a compreensão da sua política externa. A política externa é entendida como toda a atividade desenvolvida por um Estado em relação a outros Estados e entidades detentoras de relevância internacional, com vista a realizar objetivos que lhe são próprios. É indiscutível que quanto maior for a força política, económica e militar de um Estado, maior eficácia poderá exercer a sua política externa. Esta política trata dos interesses do Estado em relação a toda uma comunidade internacional. Nenhum Estado é autossuficiente, todos eles são, inclusive as superpotências, interdependentes. Cada Estado atua num determinado meio de inter-relações e influências recíprocas que os condicionam.
As prioridades da atual política externa chinesa têm sido orientadas por fortes motivações internas, em primeiro lugar está o interesse em manter a paz na esfera internacional assim como assegurar o acesso a recursos energéticos de modo a dar continuidade ao crescimento económico, em segundo lugar garantir a unidade e estabilidade de um regime autoritário inseguro: o legitimo direito de pôr fim a humilhações passadas e recuperar territórios perdidos, em terceiro lugar está um grande pragmatismo no relacionamento com os seus vizinhos India e Rússia.
No âmbito internacional, a China obtém cada vez mais força e aumenta a sua intervenção nas decisões políticas, este facto levou a que este país usufruísse do direito de ocupação de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. O seu potencial militar é em muitos casos responsável pelo incremento da sua influência no plano internacional, visto que, possui um enorme exército para além de um numeroso e diversificado arsenal bélico, como bombas atómicas e misseis. A China domina tecnologias espaciais e é uma dos principais fabricantes de satélites artificiais e de foguetões.
A política externa chinesa é esculpida por fortes motivações internas (estabilidade política e crescimento económico) e caracteriza-se por uma diplomacia económica cada vez mais ativa, quer no plano multilateral, tem-se assumido como dinamizadora nas esferas económicas e securitárias na Ásia Central e na Ásia-Pacífico, quer bilateral, tem sido particularmente entusiasta no estabelecimento de parcerias estratégicas bilaterais (União Europeia e Rússia) e tem mantido negociações no sector energético com os países da Ásia Central. Vai combinando o soft power (3) com o hard power (4) de forma a conseguir assegurar as suas prioridades. Investindo na ascensão económica como forma de atingir estabilidade interna e estatuto externo, os líderes chineses têm tentado afastar as desconfianças da comunidade internacional acerca do seu arsenal militar.
Os meios utilizados por Pequim para atingir os seus objetivos estipulados na esfera internacional têm sido variados. O recurso alternado ao bilateralismo vs. multilateralismo permite a adoção de uma estratégia mais assertiva ou mais diplomática consoante a relevância da questão. A China possui uma conceção muito própria das relações internacionais, enquanto que no Ocidente o sistema internacional é visto como um palco de competição entre Estados juridicamente iguais, a tradicional conceção chinesa da ordem internacional não é igualitária.
Trata-se então e um jogo em vários tabuleiros uma vez que a política externa da China não se aplica nem se destina a apenas um Estado, mas sim a todo um conjuntos de Estados, estando previamente estipuladas as prioridades e as estratégias de modo a que os seus objetivos consigam ser executados com sucesso. A China hoje em dia é vista como uma nação em crescimento, podendo, segundo uma perspetiva alicerçada no índice de crescimento económico, e no potencial político e militar do país ser considerada a principal potência mundial.

(1) Os quatro países remanescentes do socialismo são: Cuba, Vietname, Laos e a República Popular da China.
(2) Socialismo de mercado é um sistema político-económico que combina características socialistas na área política com princípios da economia de mercado. A China é, atualmente, o único país a seguir o socialismo de mercado.
(3) O soft power prevê a ação mediante a persuasão, o que implica a adoção de princípios estratégicos que combinam elementos simbólicos ou culturais de referência com valores políticos ou ideológicos que reforçam lideranças.
(4) O hard power consiste na capacidade, evidenciada por um país, de atingir objetivos delineados através do uso da força física ou da influência económica recorrendo, com frequência e de forma eventualmente eficaz mas não garantida, à força militar

Catarina Chão
Fontes:
Brito, Brígida (2010). "Hard, soft ou smart power: discussão conceptual ou definição estratégica?". Notas e Reflexões, JANUS.NET e-journal of International Relations, N.º 1, Outono 2010. Consultado [online] a 25/02/2016, disponível em http://janus.ual.pt/janus.net/pt/arquivo_pt/pt_vol1_n1/pt_vol1_n1_not3.html
Freitas, Eduardo de (2010, Dezembro, 21). "China: uma potência mundial?" Mundo Educação. Consultado a 26/02/2016, disponível em http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/china-uma-potencia-mundial.htm
Gomes, G. Santa Clara. "A Política Externa e a Diplomacia numa Estratégia Nacional." Consultado [online] a 28/02/2016, disponível em http://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/2669/1/NeD56_GSantaClaraGomes.pdf
N.D "Socialismo de Mercado" Sua Pesquisa.com. Consultado a 22/02/2016, disponível em http://www.suapesquisa.com/economia/socialismo_mercado.htm
Yanjiu, Zhongguo (2008). "Estudos Chineses" Revista de Estudos Chineses. Consultado [online] a 26/02/2016, disponível em  https://www.ces.uc.pt/myces/UserFiles/livros/546_2008_CAM_Pol_Externa_Ch_REVISTA_ESTUDOS_CHINESES_4.pdf

Sem comentários:

Enviar um comentário