terça-feira, 15 de março de 2016

Vinte Sete Anos passados e continuam dois mundos separados

 
  Não é novidade alguma que a Rússia e os Estados Unidos da América são os principais delineadores dos vectores pela qual se pauta a actual ordem mundial. Também não deixa de ser novidade, que as tensões entre estes dois países sempre se fizeram sentir e, que mesmo que sejam reunidos inúmeros esforços para que tal seja suavizado, a verdade é que o mundo parece caminhar para uma nova cortina de gelo, cujos principais protagonistas são estas duas potências, as do costume portanto.

    Este novo rumo de medidas que ambos os países estão a aplicar, e que aos olhos de muitos passa desapercebido, sendo que quando não passa parece apenas mais uma exacerbação de forças por parte da Rússia ou dos EUA, merece de facto a nossa maior atenção, com um olhar cada vez mais observador e crítico. Neste sentido, no passado mês de Fevereiro, o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, fez-se ouvir ao afirmar que as relações entre a Rússia e o Ocidente entraram numa “nova Guerra-Fria”.

    “Podemos dizer as coisas claramente: deslizámos para um período de uma nova Guerra Fria”. Estas palavras foram proferidas por Medvedev aquando de uma conferência acerca da temática de segurança, que decorreu em Munique. Contudo, o primeiro-ministro da Rússia não se ficou por aqui, aproveitando para realçar que “o que resta é uma política de inimizade da NATO em relação à Rússia”. Estas declarações, certamente, que terão sido feitas com base no contexto das tensões sentidas pelo conflito na Ucrânia, que deu muito que falar, e ainda do alegado apoio de Moscovo ao regime sírio.

    A verdade é que mesmo quase trinta anos depois da queda do Muro de Berlim, que colocou um ponto final à divisão do mundo em dois blocos, repleto de tensões políticas e militares, parece que a paz nunca chegou a reinar, especialmente, no que toca à acção da NATO. Reflexo perfeito disso, foram mais uma vez as palavras do Medvedev, “Quase todos os dias, somos acusados de fazer novas ameaças terríveis contra a NATO como um todo, contra a Europa ou contra os Estados Unidos ou outros países”, criticando ainda fortemente a constante influência da União Europeia nos países que outrora pertenceram à União Soviética. De notar, que desde a crise da Ucrânia, as relações entre a Moscovo e o Ocidente deterioraram-se significativamente, relembrando que existiram demonstrações de força por parte dos russos perto da fronteira ucraniana. As respostas foram e têm sido de ambos os lados, pois a NATO também criou seis centros de comando na Europa de Leste como “contra-ataque” às acções da Rússia na Ucrânia.

    Nos dias de hoje, embora os noticiários já não abram com manchetes acerca da crise da Ucrânia, a provocação de ambas as potências é uma constante e, acaba por estar patente nos actos mais simbólicos, como foi o caso na celebração dos 25 anos da independência da Estónia, onde dois blindados norte-americanos Stryker desfilaram lado a lado com as forças armadas na Estónia. Aparentemente, este cenário não causa grande indignação, porém se formos ao âmago da questão, percebemos que estão duas forças em confrontação e que a influência exercida em determinados locais ou matérias, não passam de um jogo de xadrez, cujo tabuleiro parece ser feito de gelo, e as peças encontram-se imaculadas, tal como estavam em 1989.

    Todavia, esta guerra-fria versão mais moderna, começa a fazer-se sentir até nos países mais neutros, como é o exemplo da Finlândia, que chega a partilhar cerca de 1300 Km com a Rússia. Tal realidade, leva o executivo finlandês a ponderar seriamente a possibilidade de pedir adesão à NATO. Mergulhando em profundidade neste cenário alarmante, a verdade é que não se trata apenas de dois países muito poderosos que discordam em determinados assuntos, é muitos mais para além disso. Existem tratados a cumprir, promessas a não quebrar, acordos a seguir, direitos a garantir e segurança a não descartar, assim como povos defender. Nesta ordem exacta, compreendemos que o mundo em que vivemos está de tal forma interdependente, na medida em os países partilham políticas comuns no espaço internacional, sendo que um pequeno ataque num local sem importância poderá vir a tornar-se numa avalanche de tensões e conflitos.

    Assim, mais recentemente, Mikhail Lesin, ex ministro da informação da Rússia e colaborador do Presidente Putin foi encontrado morto num hotel em Washington, sendo que foi alvo de brutais agressões na cabeça, desmanchando assim a afirmação inicial de que se deveu a um infeliz ataque cardíaco. Obviamente, que o Kremlin apressou-se em pedir mais detalhes acerca de tal incidente misterioso. Neste sentido e, tal como era de esperar, esta morte súbita de Lesin significou um profundo catalisador para que imensas teorias da conspiração emergissem no seio da Fundação Russa. Mais uma vez, Moscovo e Washington distanciam-se, especialmente quando em 2014, um senador norte-americano, Roger Wicker, fez crer que era necessária e urgente a realização de uma investigação a Lesin por suspeitas de corrupção.

    Quando se pensa que o panorama não consegue ficar mais negro, eis que surge outra “bomba”, reafirmando o facto de que o Ocidente, liderado pelos EUA, representa uma das faces da moeda, a outra face fica a cargo dos russos. Ambos não se deixam iludir pela curva da indiferença, pois há certos interesses que falam mais alto que valores, e há determinados valores que caem no poço da hipocrisia.


Telma Pacheco nº216306


Fontes:

http://observador.pt/2016/03/12/ex-ministro-russo-colaborador-putin-morto-circunstancias-misteriosas-nos-eua/

http://pt.euronews.com/2015/03/11/nato-russia-guerra-fria-versao-seculo-xxi/

http://observador.pt/2015/02/05/nato-anuncia-o-maior-reforco-militar-desde-o-fim-da-guerra-fria-para-responder-russia/

http://www.dn.pt/mundo/interior/nasceu-uma-nova-guerra-fria-avisa-a-medvedev-5028196.html

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