Por
entre guerras e acordos de paz, provocações ameaçadoras da estabilidade e
tentativas amenizadoras do clima internacional, a velha preocupação climática
persiste há décadas, porém é sempre relegada para segundo, terceiro ou, até
mesmo, quarto plano.
É dito e sabido que, desde a era industrial, o
aumento da emissão de CO2 e de GEE’s (gases efeito de estufa), acentua
significativamente a densidade atmosférica provocando o aumento da temperatura
terrestre. Nisto revelam-se as subsequentes alterações e catástrofes ambientais
e as dramáticas crises humanas, que lhe estão intimamente ligadas e com as
quais, ano após ano, nos deparamos de forma mais desinibida.
No
passado dia 20 de Abril, surge a notícia de que as elevadíssimas temperaturas
sentidas em solo indiano, mais especificamente no leste, centro e sul, têm
contribuído para a seca dos solos, para a morte de plantações numa sociedade
onde já é difícil subsistir e, como não poderia deixar de ser, para a
avassaladora morte de milhões de pessoas.
Com
temperaturas acima dos 45ºC, contam-se até agora 330 fatalidades por fome, sede
e insolação e está em risco quase mais um quarto da população indiana, porém
salienta-se que, o verão ainda não chegou!
Pressupõe-se então que nos aguardará um exigente tempo de extremo calor,
secas, e até fogos desastrosos para os povos, potenciadores de mais migrações
em massa, destabilizadores das economias nacionais e subsequentemente da
economia internacional e onde a entreajuda será primordial, caso queiramos
superar e persistir face aos contratempos imprevisíveis e impostos pela
natureza.
Na
Índia, perante esta situação, o que se tem assistido é que os políticos do país
revelam uma atitude de prepotência, arrogância e diria até, gozo, já que têm
desperdiçado este bem vital nas deslocações feitas às zonas mais afectadas.
Como exemplo salienta-se o desperdício de água efectuado por tanques que
antecediam a chegada de sua excelência, o primeiro-ministro indiano, Narendra
Modi.
Nesta
linha de pensamento, torna-se inevitável depreciar-se também a não atitude de
ajuda ou de alerta político de qualquer entidade internacional, passado tão
pouco tempo após a Cimeira de Paris (Dezembro de 2015). Além de que, talvez
pela falta de visibilidade mediática, se verifica a falta de disposição positiva
de qualquer um dos 175 Estados que, a 22 de Abril deste ano, subscreveram
oficialmente aquele que é conhecido como o Acordo de Paris.
O
mundo sabe, o quão urgente é a alteração das políticas inimigas do ambiente e
de todos nós, contudo, embora tenha existido ao longo dos anos tentativas de
minimizar os danos de uma sociedade de índole altamente capitalista, fortemente
industrializada e indiferente a este tipo preocupações, mediante várias
cimeiras e acordos estabelecidos, a verdade é que poucas ou nenhumas das metas
a que os países industrializados se propuseram foram efectivamente alcançadas de
forma visível e sustentada.
Prevê-se
que ainda demore algum tempo até que se verifique a efectiva vinculação por
meio legislativo de cumprimento do acordado, principalmente para países monstro
no que se refere à produção significativa de poluição (China ou EUA, por
exemplo). Estes têm até 2017 para adoptarem medidas que só entrarão em vigor em
2020, tempo mais que suficiente para que ainda muito mal se possa fazer.
O
esforço colectivo acordado deverá, não diminuir, mas conter a subida das
temperaturas do planeta em 1,5ºC, ao que questiono então, e como será depois?
Contudo,
à revanche, este acordo não tem por base metas, tem antes a apresentação de
planos nacionais, de cinco em cinco anos, por meio a se traduzirem na efectiva
redução ou mesmo, eliminação de emissões de gases efeito de estufa.
Então,
uma vez que estabelece mecanismos de monotorização do cumprimento disto mesmo,
sem que pessoalmente ainda tenha compreendido quais serão as sanções para quem
não os cumpra, e estabelece ainda a ajuda das nações mais desenvolvidas aos
países mais vulneráveis, persiste a questão: Porque é que a realidade vivida na
India está deliberadamente a ser ignorada? A resposta pertinente parece-me
prender-se com o facto de a India ser apenas um local onde se estabelecem
algumas das grandes industrias produtoras de bens para o ocidente, não se nota
portanto qualquer tipo de real interesse para com os povos nem para com o que
lhes esta ou possa acontecer.
Refere-se
então que, parece estar esquecido que estes acordos, não deveriam ter como
intuito “para inglês ver”, deveriam sim ter como um dos mais importante
objectivo em consequência de fenómenos a este ligados, o auxílio das nações
mais pobres que pouca ou nenhuma culpa tem dos excessos ligados à produção
industrial do “primeiro mundo” e que, não têm meios de combate face aos
reequilíbrios encetados pela natureza. Sucintamente o que tem ocorrido, de modo
transversal mas, não justo e equilibrado, é o “efeito borboleta”.
Na
India prevê-se que ainda virão tempos de chuvas que ajudem a colmatar os
problemas inerentes à seca, todavia nada nos dará certezas de que estas chuvas
não possam ser, tal com a secura verificada, extremas. Assim, enuncia-se um
outro e catastrófico problema, as cheias, já que até mesmo o problema do
aumento de temperatura propicia a maior rapidez do desgelo e o consequente aumento
do nível médio das águas.
Desta
forma, outra questão que surge e persiste é, qual será a resposta da comunidade
internacional perante a observação de uma India inundada, destruída e onde a
morte de qualquer coisa viva figura uma perda insubstituível para o território
e para a Humanidade? E quem diz a India, diz qualquer outra região do mundo.
Em
suma, partindo do princípio que a questão ambiental é um problema sem
fronteiras, por entre a dura instabilidade verificada no mundo e na Europa,
enquanto campo de minas religioso, cultural e político no momento, verdade é
que, não terá qualquer significado, qualquer guerra travada, nem qualquer
acordo de paz assinado caso não se procure eficazmente romper com o mundo do
lucro e da benesse de poderio. Primordial é sim a procura efectiva de, de uma
forma conjunta e em cooperação real, reabilitar o mal que gerações tem feito ao
planeta que viabiliza a execução destas mesmas guerras e “pazes”, que nos
agitam paixões e espíritos. A imposição de metas objectivas é necessária e a
imposição de duras sanções para quem não cumpre, imperioso.
Muito
simplesmente, no que se tem que atingir, parece-me que este acordo é, apenas
mais um, embora seja de notar a persistência em se encontrar consensos
viabilizadores de solução aos problemas climatéricos, que diga-se, é de louvar.
Provavelmente chegará o dia em que estes serão concretizados, contudo, não só
temo, como me parece cada vez mais real e próximo, o dia em que será tarde de
mais para reverter políticas que cortaram a linha da vida da Humanidade e,
consequentemente inviabilizaram os sonhos de milhões que apenas quiseram
prosperar e viver em paz e tranquilidade neste planeta privilegiado no meio de
uma galáxia onde a escuridão come mundos.
Daniela
Luís
Fontes:
http://economico.sapo.pt/noticias/acordo-de-paris-sobre-o-clima-assinado-amanha-na-onu_247704.html
https://www.publico.pt/ecosfera/noticia/acordo-do-clima-de-paris-subscrito-por-175-paises-nas-nacoes-unidas-1729949
https://www.publico.pt/ecosfera/noticia/acordo-climatico-de-paris-foi-aprovado-1717259
http://br.rfi.fr/mundo/20130306-pior-seca-dos-ultimos-40-anos-provoca-fome-e-doencas-india
https://www.noticiasaominuto.com/mundo/575042/seca-na-india-afeta-mais-de-330-milhoes-de-pessoas
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