sábado, 30 de abril de 2016

A procura desesperada pelo tesouro da humanidade e o crepúsculo nos acordos internacionais

Por entre guerras e acordos de paz, provocações ameaçadoras da estabilidade e tentativas amenizadoras do clima internacional, a velha preocupação climática persiste há décadas, porém é sempre relegada para segundo, terceiro ou, até mesmo, quarto plano.
 É dito e sabido que, desde a era industrial, o aumento da emissão de CO2 e de GEE’s (gases efeito de estufa), acentua significativamente a densidade atmosférica provocando o aumento da temperatura terrestre. Nisto revelam-se as subsequentes alterações e catástrofes ambientais e as dramáticas crises humanas, que lhe estão intimamente ligadas e com as quais, ano após ano, nos deparamos de forma mais desinibida.
No passado dia 20 de Abril, surge a notícia de que as elevadíssimas temperaturas sentidas em solo indiano, mais especificamente no leste, centro e sul, têm contribuído para a seca dos solos, para a morte de plantações numa sociedade onde já é difícil subsistir e, como não poderia deixar de ser, para a avassaladora morte de milhões de pessoas.
Com temperaturas acima dos 45ºC, contam-se até agora 330 fatalidades por fome, sede e insolação e está em risco quase mais um quarto da população indiana, porém salienta-se que, o verão ainda não chegou!  Pressupõe-se então que nos aguardará um exigente tempo de extremo calor, secas, e até fogos desastrosos para os povos, potenciadores de mais migrações em massa, destabilizadores das economias nacionais e subsequentemente da economia internacional e onde a entreajuda será primordial, caso queiramos superar e persistir face aos contratempos imprevisíveis e impostos pela natureza.
Na Índia, perante esta situação, o que se tem assistido é que os políticos do país revelam uma atitude de prepotência, arrogância e diria até, gozo, já que têm desperdiçado este bem vital nas deslocações feitas às zonas mais afectadas. Como exemplo salienta-se o desperdício de água efectuado por tanques que antecediam a chegada de sua excelência, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
Nesta linha de pensamento, torna-se inevitável depreciar-se também a não atitude de ajuda ou de alerta político de qualquer entidade internacional, passado tão pouco tempo após a Cimeira de Paris (Dezembro de 2015). Além de que, talvez pela falta de visibilidade mediática, se verifica a falta de disposição positiva de qualquer um dos 175 Estados que, a 22 de Abril deste ano, subscreveram oficialmente aquele que é conhecido como o Acordo de Paris.
O mundo sabe, o quão urgente é a alteração das políticas inimigas do ambiente e de todos nós, contudo, embora tenha existido ao longo dos anos tentativas de minimizar os danos de uma sociedade de índole altamente capitalista, fortemente industrializada e indiferente a este tipo preocupações, mediante várias cimeiras e acordos estabelecidos, a verdade é que poucas ou nenhumas das metas a que os países industrializados se propuseram foram efectivamente alcançadas de forma visível e sustentada.
Prevê-se que ainda demore algum tempo até que se verifique a efectiva vinculação por meio legislativo de cumprimento do acordado, principalmente para países monstro no que se refere à produção significativa de poluição (China ou EUA, por exemplo). Estes têm até 2017 para adoptarem medidas que só entrarão em vigor em 2020, tempo mais que suficiente para que ainda muito mal se possa fazer.
O esforço colectivo acordado deverá, não diminuir, mas conter a subida das temperaturas do planeta em 1,5ºC, ao que questiono então, e como será depois?
Contudo, à revanche, este acordo não tem por base metas, tem antes a apresentação de planos nacionais, de cinco em cinco anos, por meio a se traduzirem na efectiva redução ou mesmo, eliminação de emissões de gases efeito de estufa.
Então, uma vez que estabelece mecanismos de monotorização do cumprimento disto mesmo, sem que pessoalmente ainda tenha compreendido quais serão as sanções para quem não os cumpra, e estabelece ainda a ajuda das nações mais desenvolvidas aos países mais vulneráveis, persiste a questão: Porque é que a realidade vivida na India está deliberadamente a ser ignorada? A resposta pertinente parece-me prender-se com o facto de a India ser apenas um local onde se estabelecem algumas das grandes industrias produtoras de bens para o ocidente, não se nota portanto qualquer tipo de real interesse para com os povos nem para com o que lhes esta ou possa acontecer.
Refere-se então que, parece estar esquecido que estes acordos, não deveriam ter como intuito “para inglês ver”, deveriam sim ter como um dos mais importante objectivo em consequência de fenómenos a este ligados, o auxílio das nações mais pobres que pouca ou nenhuma culpa tem dos excessos ligados à produção industrial do “primeiro mundo” e que, não têm meios de combate face aos reequilíbrios encetados pela natureza. Sucintamente o que tem ocorrido, de modo transversal mas, não justo e equilibrado, é o “efeito borboleta”.
Na India prevê-se que ainda virão tempos de chuvas que ajudem a colmatar os problemas inerentes à seca, todavia nada nos dará certezas de que estas chuvas não possam ser, tal com a secura verificada, extremas. Assim, enuncia-se um outro e catastrófico problema, as cheias, já que até mesmo o problema do aumento de temperatura propicia a maior rapidez do desgelo e o consequente aumento do nível médio das águas.
Desta forma, outra questão que surge e persiste é, qual será a resposta da comunidade internacional perante a observação de uma India inundada, destruída e onde a morte de qualquer coisa viva figura uma perda insubstituível para o território e para a Humanidade? E quem diz a India, diz qualquer outra região do mundo.
Em suma, partindo do princípio que a questão ambiental é um problema sem fronteiras, por entre a dura instabilidade verificada no mundo e na Europa, enquanto campo de minas religioso, cultural e político no momento, verdade é que, não terá qualquer significado, qualquer guerra travada, nem qualquer acordo de paz assinado caso não se procure eficazmente romper com o mundo do lucro e da benesse de poderio. Primordial é sim a procura efectiva de, de uma forma conjunta e em cooperação real, reabilitar o mal que gerações tem feito ao planeta que viabiliza a execução destas mesmas guerras e “pazes”, que nos agitam paixões e espíritos. A imposição de metas objectivas é necessária e a imposição de duras sanções para quem não cumpre, imperioso.
Muito simplesmente, no que se tem que atingir, parece-me que este acordo é, apenas mais um, embora seja de notar a persistência em se encontrar consensos viabilizadores de solução aos problemas climatéricos, que diga-se, é de louvar. Provavelmente chegará o dia em que estes serão concretizados, contudo, não só temo, como me parece cada vez mais real e próximo, o dia em que será tarde de mais para reverter políticas que cortaram a linha da vida da Humanidade e, consequentemente inviabilizaram os sonhos de milhões que apenas quiseram prosperar e viver em paz e tranquilidade neste planeta privilegiado no meio de uma galáxia onde a escuridão come mundos.

Daniela Luís

Fontes:
http://economico.sapo.pt/noticias/acordo-de-paris-sobre-o-clima-assinado-amanha-na-onu_247704.html
https://www.publico.pt/ecosfera/noticia/acordo-do-clima-de-paris-subscrito-por-175-paises-nas-nacoes-unidas-1729949
https://www.publico.pt/ecosfera/noticia/acordo-climatico-de-paris-foi-aprovado-1717259
http://br.rfi.fr/mundo/20130306-pior-seca-dos-ultimos-40-anos-provoca-fome-e-doencas-india

https://www.noticiasaominuto.com/mundo/575042/seca-na-india-afeta-mais-de-330-milhoes-de-pessoas

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