A
Europa não passava por uma crise humanitária desta dimensão desde o século
passado. De facto, a instabilidade vivida na Síria provocada pelas constantes
guerras civis e pela acção do auto-denominado Estado Islâmico têm obrigado
muitos muçulmanos a fugirem da sua terra para encontrarem melhores condições na
Europa. Muitos têm sido os esforços dos países da União Europeia para
controlarem a chegada intensiva de refugiados ao território europeu. No
entanto, não tem sido suficientemente bem pensada e estruturada a solução para
esta problemática por parte da União Europeia. Neste sentido, a U.E. chegou a
um acordo com a Turquia que visa que todos os refugiados que entrarem
ilegalmente na Grécia - um dos países que mais tem sofrido com o cenário
estonteante de migrações - sejam enviados para a Turquia.
Esta
“solução” apresenta-se para muitos críticos como uma solução a curto prazo, que
realça as fragilidades da União Europeia, constituindo desta forma uma
alternativa que poderá ter graves repercussões tanto para os refugiados como
para a própria União Europeia. O acordo com a Turquia não passa, à vista de
muitos críticos, de um plano de última hora que futuramente se pode apresentar
perigoso.
Contudo,
o presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, elogiou a chanceler
alemã, Angela Merkel, por esta ter conseguido enfrentar a maior crise
humanitária da Europa desde a II Guerra Mundial. É certo que houve por parte da
chanceler alemã um esforço para encontrar a melhor solução para o problema em
causa. Mas a discrepância de opiniões entre os países membros da União Europeia
perante esta problemática causou dificuldades no encontro de uma posição comum.
Em primeiro lugar, porque alguns países da União Europeia, dos qual se destacam
a Grécia e Portugal, ultrapassam actualmente uma grave crise
económico-financeira; em segundo lugar, as diferenças culturais entre
muçulmanos e europeus e em terceiro lugar o medo das possíveis ligações que os
migrantes possam ter com o grupo terrorista que tem devastado a Síria.
O
acordo realizado com a Turquia por parte da U.E. pode ser visto como uma forma
de recambiar o problema para a Turquia, mesmo tendo em conta o sentido de
compromisso assumido por ambas as partes. A realidade é que a União Europeia
não conseguiu responder às necessidades de uma vaga tão grande de migrantes,
pois teve como impulso reagir e não agir. Isto é, ao invés de construir uma
solução válida e duradoura para o problema, antecipou-se e tentou responder a
todos aqueles que apelavam pela sua ajuda, fora das suas possibilidades.
Desta
forma, o elogio de Barack Obama ao comportamento de Angela Merkel relativamente
à questão da Crise dos Refugiados, afirmando que esta dá “voz aos princípios
que aproximam as pessoas em vez de as dividir” e que “Num mundo global, a
solução não é construir muros” surge talvez como um mero elogio resultante das
necessárias políticas diplomáticas, tendo como objectivo a manutenção das
relações entre os Estados Unidos da América e a União Europeia. Isto porque, de
facto, por mais esforços que se tenham reunido em torno da crise dos
refugiados, a resposta da U.E. ao problema tem-se apresentado muito pouco
consistente.
É
certo que o acordo realizado com a Turquia, hoje, pode ter sido a melhor
decisão a tomar. No entanto, melhor teria sido pensar e estruturar-se uma
solução sólida e viável antes de se começar a abrir os braços aos milhares de
refugiados. Assim, o elogio de Obama surge como uma “obrigação” assente nas
relações diplomáticas, tendo como objectivo enaltecer o papel da União
Europeia, que curiosamente, ou não, é uma das maiores potências comerciais e
económicas do mundo, juntamente com os EUA.
Apesar
de ter construído um número considerável de campos para acolher os refugiados
sírios, a Turquia tem tido dificuldades em encontrar lugar para os milhões de
refugiados estimados. A solução tem sido o seu abrigo em ruas, parques,
mesquitas e em campos improvisados. Recentemente foi aberto o maior campo com
capacidade para 35 mil pessoas, e mais estarão para construir, nomeadamente na
fronteira com a Síria. Mas a questão aqui em causa prende-se à capacidade da
Turquia para acolher um número tão elevado de refugiado. Se nem a União
Europeia conseguiu responder firmemente a este problema, será que a Turquia
conseguirá? O maior problema é que os refugiados estão a ser acolhidos, mas não
estão a encontrar as condições que esperavam para seguirem em frente e construírem
uma nova vida, livre de conflitos. Muitos deles vivem em situações muito
precárias, sem qualquer apoio e sem poder trabalhar, enfrentando igualmente
dificuldades para aceder a cuidados de saúde e, mesmo tenho dinheiro, têm
dificuldades em alugar uma casa.
Este
é um sério problema. Esquecemo-nos muitas vezes de que quando falamos em “refugiados”
referimo-nos a pessoas. E estas pessoas vêm ainda o seu equilíbrio e bem-estar
bem ao longe das suas expectativas. A União Europeia não respondeu devidamente
a este problema. A “batata-quente” foi passada para a Turquia. Veremos o
resultado. Mas certamente que elogiar o papel da chanceler alemã ou da União
Europeia não se enquadra no cenário actual, pois o facto é que, indirectamente,
se têm construído muros e se tem dividido as pessoas e que, infelizmente, ainda
estamos longe de enfrentar a maior crise humanitária da Europa desde a II
Guerra Mundial.
Mariana
Dinis
Fontes:
Obama
elogia Merkel na crise dos refugiados – Disponível em http://www.dn.pt/mundo/interior/obama-elogia-merkel-na-crise-dos-refugiados-5142022.html
Data de Acesso 27 de Abril de 2016
Crise
dos Refugiados na Europa – Disponível em http://vestibular.brasilescola.uol.com.br/atualidades/crise-dos-refugiados-na-europa.htm.
Data de Acesso 27 de Abril de 2016
Turquia
abre o maior campo de refugiados para sírios – Disponível em https://www.publico.pt/mundo/noticia/turquia-abre-o-maior-campo-de-refugiados-para-sirios-1683461. Data de Acesso 27 de Abril de 2016
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