quarta-feira, 27 de abril de 2016

A União Europeia pode estar metida em sarilhos. Mas Obama elogia.

A Europa não passava por uma crise humanitária desta dimensão desde o século passado. De facto, a instabilidade vivida na Síria provocada pelas constantes guerras civis e pela acção do auto-denominado Estado Islâmico têm obrigado muitos muçulmanos a fugirem da sua terra para encontrarem melhores condições na Europa. Muitos têm sido os esforços dos países da União Europeia para controlarem a chegada intensiva de refugiados ao território europeu. No entanto, não tem sido suficientemente bem pensada e estruturada a solução para esta problemática por parte da União Europeia. Neste sentido, a U.E. chegou a um acordo com a Turquia que visa que todos os refugiados que entrarem ilegalmente na Grécia - um dos países que mais tem sofrido com o cenário estonteante de migrações - sejam enviados para a Turquia.
Esta “solução” apresenta-se para muitos críticos como uma solução a curto prazo, que realça as fragilidades da União Europeia, constituindo desta forma uma alternativa que poderá ter graves repercussões tanto para os refugiados como para a própria União Europeia. O acordo com a Turquia não passa, à vista de muitos críticos, de um plano de última hora que futuramente se pode apresentar perigoso.
Contudo, o presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, elogiou a chanceler alemã, Angela Merkel, por esta ter conseguido enfrentar a maior crise humanitária da Europa desde a II Guerra Mundial. É certo que houve por parte da chanceler alemã um esforço para encontrar a melhor solução para o problema em causa. Mas a discrepância de opiniões entre os países membros da União Europeia perante esta problemática causou dificuldades no encontro de uma posição comum. Em primeiro lugar, porque alguns países da União Europeia, dos qual se destacam a Grécia e Portugal, ultrapassam actualmente uma grave crise económico-financeira; em segundo lugar, as diferenças culturais entre muçulmanos e europeus e em terceiro lugar o medo das possíveis ligações que os migrantes possam ter com o grupo terrorista que tem devastado a Síria.
O acordo realizado com a Turquia por parte da U.E. pode ser visto como uma forma de recambiar o problema para a Turquia, mesmo tendo em conta o sentido de compromisso assumido por ambas as partes. A realidade é que a União Europeia não conseguiu responder às necessidades de uma vaga tão grande de migrantes, pois teve como impulso reagir e não agir. Isto é, ao invés de construir uma solução válida e duradoura para o problema, antecipou-se e tentou responder a todos aqueles que apelavam pela sua ajuda, fora das suas possibilidades.
Desta forma, o elogio de Barack Obama ao comportamento de Angela Merkel relativamente à questão da Crise dos Refugiados, afirmando que esta dá “voz aos princípios que aproximam as pessoas em vez de as dividir” e que “Num mundo global, a solução não é construir muros” surge talvez como um mero elogio resultante das necessárias políticas diplomáticas, tendo como objectivo a manutenção das relações entre os Estados Unidos da América e a União Europeia. Isto porque, de facto, por mais esforços que se tenham reunido em torno da crise dos refugiados, a resposta da U.E. ao problema tem-se apresentado muito pouco consistente.
É certo que o acordo realizado com a Turquia, hoje, pode ter sido a melhor decisão a tomar. No entanto, melhor teria sido pensar e estruturar-se uma solução sólida e viável antes de se começar a abrir os braços aos milhares de refugiados. Assim, o elogio de Obama surge como uma “obrigação” assente nas relações diplomáticas, tendo como objectivo enaltecer o papel da União Europeia, que curiosamente, ou não, é uma das maiores potências comerciais e económicas do mundo, juntamente com os EUA.
Apesar de ter construído um número considerável de campos para acolher os refugiados sírios, a Turquia tem tido dificuldades em encontrar lugar para os milhões de refugiados estimados. A solução tem sido o seu abrigo em ruas, parques, mesquitas e em campos improvisados. Recentemente foi aberto o maior campo com capacidade para 35 mil pessoas, e mais estarão para construir, nomeadamente na fronteira com a Síria. Mas a questão aqui em causa prende-se à capacidade da Turquia para acolher um número tão elevado de refugiado. Se nem a União Europeia conseguiu responder firmemente a este problema, será que a Turquia conseguirá? O maior problema é que os refugiados estão a ser acolhidos, mas não estão a encontrar as condições que esperavam para seguirem em frente e construírem uma nova vida, livre de conflitos. Muitos deles vivem em situações muito precárias, sem qualquer apoio e sem poder trabalhar, enfrentando igualmente dificuldades para aceder a cuidados de saúde e, mesmo tenho dinheiro, têm dificuldades em alugar uma casa.
Este é um sério problema. Esquecemo-nos muitas vezes de que quando falamos em “refugiados” referimo-nos a pessoas. E estas pessoas vêm ainda o seu equilíbrio e bem-estar bem ao longe das suas expectativas. A União Europeia não respondeu devidamente a este problema. A “batata-quente” foi passada para a Turquia. Veremos o resultado. Mas certamente que elogiar o papel da chanceler alemã ou da União Europeia não se enquadra no cenário actual, pois o facto é que, indirectamente, se têm construído muros e se tem dividido as pessoas e que, infelizmente, ainda estamos longe de enfrentar a maior crise humanitária da Europa desde a II Guerra Mundial.

Mariana Dinis

Fontes:
Obama elogia Merkel na crise dos refugiados – Disponível em http://www.dn.pt/mundo/interior/obama-elogia-merkel-na-crise-dos-refugiados-5142022.html Data de Acesso 27 de Abril de 2016
Crise dos Refugiados na Europa – Disponível em http://vestibular.brasilescola.uol.com.br/atualidades/crise-dos-refugiados-na-europa.htm. Data de Acesso 27 de Abril de 2016
Turquia abre o maior campo de refugiados para sírios – Disponível em https://www.publico.pt/mundo/noticia/turquia-abre-o-maior-campo-de-refugiados-para-sirios-1683461. Data de Acesso 27 de Abril de 2016


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