segunda-feira, 4 de abril de 2016

As relações Cuba-E.U.A. e o possível fim do embargo

A República de Cuba, país insular situado no Mar das Caraíbas, tem sido alvo daquele que é considerado um dos mais longos embargos económicos da História, tendo sido declarado em 1960 e durando até à actualidade apesar da abertura em Dezembro de 2014 de um processo negocial para o restabelecimentos das relações diplomáticas entre os países envolvidos, Cuba e os E.U.A. A escalada na utilização dos intrumentos de execução da política externa levou a esta situação, com a crise dos misseis nucleares soviéticos instalados na ilha e a invasão frustrada da Baía dos Porcos em Abril de 1961. Esta invasão financiada e incentivada por autoridades dos E.U.A. pretendia derrubar o regime socialista instaurado por Fidel Castro após a tomada do poder e derrube de Fulgêncio Batista. A relação entre os dois países, desde a vitória em 1898 dos E.U.A. sobre a Espanha na Guerra Hispano-Americano, foi  de influência Norte-Americana sobre o território, tendo o exército dos E.U.A. ocupado Cuba entre 1899 e 1902 e tendo sido estipulado na Emenda Platt, as condições pelas quais passaria a saída das tropas norte-americanas presentes na ilha, que consistiam na salvaguarda dos interesses norte-americanos no território, na limitação de celebrar tratados internacionais com outros Estados e de condução de política externa e de relações comerciais. Também ficou acordado a concessão de certa parte do território de forma a que o exército dos E.U.A. pudesse garantir o disposto na Emenda e no posterior Tratado Cubano-Norte-Americano de 1903, sendo assim que se estabeleceu a base naval norte-americana da Baía de Guantanamo e as disposições legais que permitiam a posse por parte dos E.U.A. destas porções de território. Com a Revolução Cubana de 1959 o país rompeu com esta posição de preponderância dos E.U.A., passando a alinhar pelo bloco soviético. Em Fevereiro de 1960, Cuba e a U.R.S.S. assinam um acordo de comércio em que a U.R.S.S. concorda em comprar açucar e outros produtos de Cuba e a fornecer petróleo. O Departamento de Estado dos E.U.A. aconselha as empresas norte-americanas de refinação de petróleo operantes na ilha a não refinarem o petróleo comprado à U.R.S.S., pelo que o governo cubano leva a cabo uma nacionalização dessas refinarias. Em seguida o Presidente Dwight D. Eisenhower cancela grande parte da importação norte-americana de açucar o que leva à expropriação por parte do governo cubano de toda a propriedade detida por norte-americanos. No dia 19 de Outubro de 1960 os E.U.A. impõem um embargo às exportações para Cuba, expecto nas áreas da saúde e alimentar, embargo esse que se estendia às subsidiárias estrangeiras de empresas norte-americanas. No dia 7 de Abril de 1962, por proclamação presidencial, os E.U.A. banem todas as importações de Cuba. No dia 1 de Agosto de 1962, o Congresso dos E.U.A. aprova o Acto de Assistência Internacional, que inclui uma cláusula em que se afirma a impossibilidade de conceder ajuda internacional a qualquer Estado que preste apoio ao governo cubano. No dia 14 de Maio de 1964, o Departamento de Comércio dos E.U.A. revoga a licença geral que permitia a exportação de bens alimentares e de saúde para Cuba, tendo esta de passar por aprovação prévia e sendo a política a seguir a de negar a licença a pedidos de transacções comerciais e aprovar apenas doações humanitárias. Em Dezembro de 1991 e após o colapso da União Soviética, a Rússia termina toda a assistência económica prestada a Cuba, incluindo a remessas de petróleo subsidiadas. No dia 28 de Novembro de 1992, a Assembleia Geral da O.N.U. vota no sentido de levantar as sanções económicas a Cuba tendo apenas Israel e a Roménia votado contra a medida ao lado dos E.U.A. Em Julho de 1993 e de acordo com o Cuban Democracy Act, a Administração Clinton anuncia que vai passar a permitir o investimento no melhoramento dos serviços telefónicos entre Cuba e os E.U.A.. No dia 9 de Setembro de 1994 Cuba e os E.U.A. assinam um acordo de imigração no sentido de diminuir o afluxo de cubanos que procuravam os E.U.A., sendo que não seriam aceites migrantes que viessem através do mar porém comprometia-se a conceder 20000 vistos de imigração por ano. Em Outubro de 1995 o presidente Bill Clinton diminui as restrições de viagar para Cuba por motivos educacionais, religiosos e humanos. Esta decisão é fortemente criticada pelos menbros anti-Castro do Congresso que afirmam que vão redobrar os esforços no sentido de impor sanções mais restrictivas a Cuba. O Helms-Burton Act é aprovado em Março de 1996, estando disposto nesta legislação que os cidadãos ou empresas dos E.U.A. que tenham sido expropriados pelo governo cubano podem processar as empresas ou indivíduos que trafiquem tal propriedade. É negado o acesso em solo dos E.U.A. aos executivos e maiores accionistas, e respectivas famílias, dessas empresas que supostamente traficariam propriedade expropriada a empresas e cidadãos norte-americanos. Também procura garantir a restrição de ajuda norte-americana aos Estados independentes que anteriormente compunham a U.R.S.S. se estes fornecerem apoio às instalações dos serviços de informação russos localizadas em Lourdes ou à conclusão da central nuclear de Jaraguá. Posteriormente tanto o Parlamento canadiano como o Congresso mexicano aprovam legislação para fazer face ao Helms-Burton Act, penalizando as empresas que agissem em conformidade com o disposto na legislação norte-americana. Em Maio do mesmo ano a União Europeia suspende as discussões com Havana acerca de um acordo de cooperação económica devido à falha de Cuba na implementação de reformas políticas e no sentido da liberalização económica. No dia 10 de Janeiro de 1997 o governo cubano aprova uma lei que permite aos cidadãos cubanos processar os E.U.A. pelos danos causados pelo embargo. Em Outubro de 1998 um grupo de senadores e ex-responsáveis pelas relações externas norte-americanos, incluindo Henry Kissinger manifestam-se no sentido de autorizar uma comissão bipartidária que reveja a política entre os E.U.A. e Cuba. No dia 5 de Janeiro de 1999, o Presidente Clinton rejeita a proposta de criação dessa comissão bipartidária mas permite o serviço postal directo e a venda, numa lógica de decisão caso-a-caso, de bens alimentares a privados e a organizações não governamentais. No dia 28 de Outubro de 2000, o Congresso norte-americano aprova o Trade Sanctions Reform and Export Enhancement Act que permite a concessão de licenças anuais de exportação de produtos alimentares e de saúde para Cuba. Esta teria de passar pelo pagamentos adiantado dos valores ou através do financiamento de um país terceiro. A lei também cria uma licença específica para as viagens de negócios relacionadas com as áreas tratadas. No dia 26 de Julho de 2007, Raul Castro declara que Cuba está a considerar abrir-se a mais investimento externo internacional de forma a captar capital, tecnologia e mercados. No dia 24 de Outubro do mesmo ano o Presidente Bush declara que a política norte-americana relacionada com Cuba iria-se manter numa lógica de confronto enquando ocupasse o cargo até que os governantes cubanos garantissem a liberdade política. No dia 31 do mesmo mês a Assembleia Geral da O.N.U. votou pelo 16º ano consecutivo no sentido de levantar o embargo, tendo o ministro dos negócios estrangeiros de Cuba, Felipe Perez Roque argumentado que era responsabilidade dos E.U.A. a falta de progresso que assolava o país. No dia 13 de Abril de 2009 numa grande mudança tendo em conta as políticas antecessoras, o presidente Barack Obama rejeita as restricções a viagens entre Cuba e os E.U.A., bem como as restricções ao envio de presentes e dinheiro para a ilha. A visita história de Barack Obama a Cuba no mês passado marcou uma viragem substancial nas relações entre os E.U.A. e Cuba e demonstrou assim a possibilidade efectiva de acabar com o embargo que durante décadas afectou a economia e sociedade cubana. A efectivação desta possibilidade trará novas perspectivas e crescimento à economia cubana, porém não se poderá esquecer a necessidade do país cumprir com os direitos humanos fundamentais e a possível falta de maioria necessária no Congresso norte-americano para aprovar o fim do embargo.


Bernardo Lopes Faria


Fontes:

http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/obama_preve_que_levantamento_do_embargo_a_cuba_aconteca_na_proxima_legislatura.html

http://www.iie.com/publications/papers/sanctions-cuba-60-3.pdf

https://en.wikipedia.org/wiki/Platt_Amendment

http://www.nytimes.com/1994/06/12/books/backing-the-wrong-tyrant.html

https://en.wikipedia.org/wiki/United_States_embargo_against_Cuba

Sem comentários:

Enviar um comentário