Terça-feira negra
O tema do terrorismo cada vez mais
está na ordem do dia quer pela sua presença internacional quer pelo facto de
falarmos de expressões violentas que ultrapassam fronteiras e atingem o mundo
inteiro inesperadamente. Perante a continuação do fenómeno do terrorismo era só
uma questão de tempo até que a Europa passasse para o primeiro plano.
O
terrorismo é um ato político e instrumental, cuja intenção é provocar o pânico,
espalhar o medo, criar um sentimento de incapacidade das massas, através de um
grupo que nunca chegaria ao poder com o recurso aos métodos democráticos,
dialogando com o Estado e decretando as suas condições, chegando mesmo a
substituir o Estado na sua sede do poder político. Trata-se de um arma viciosa
e utilizada contra as democracias, contra os interesses políticos e contra
pessoas inocentes.
A
União Europeia definiu o terrorismo como um ato intencional suscetível de
abalar gravemente um país ou uma Organização Internacional através da
intimidação da população, impondo todo o de tipo de imponderáveis,
desestabilizando ou acabando com as estruturas fundamentais, constitucionais,
sociais e económicas.
As
atividades terroristas podem ser classificadas das mais diversas formas. O
terrorismo indiscriminado inclui os atentados que visam a criação de um dano a
um agente paciente indefinido ou irrelevante, tendo em vista o estabelecimento
de uma coação psicológica sobre a população com o intuito de gerar um clima de
medo, de instabilidade ou de cedência, apta a facilitar ações de chantagem
sobre as forças regulares, civis ou militares. E o terrorismo seletivo procura
afetar uma dada entidade, recorrendo à prática de chantagem, vingança ou
eliminação de uma barreira considerada significativa, na perspetiva da
estratégia subversiva.
A
natureza e o grau de ameaça do terrorismo mudaram devido à globalização, a qual
facilitou a circulação de pessoas e de informação, dando origem à perceção de
disparidades económicas e o antagonismo ideológico e a ascensão do
fundamentalismo religioso e o uso da Internet de alta
velocidade e comunicação por satélite tornou possível a criação de estruturas
de controlo e comando virtuais.
Tendo
em conta o que foi dito anteriormente vejamos o exemplo de um dos mais recentes
atentados terrorista. Portanto, no passado dia 22 de março, Bruxelas acordou
sobressaltada com dois atentados terroristas, onde uma hora bastou para
transformar a Bruxelas que “sonhava”, como cantou Jacques Brel, na Bruxelas
atingida pelo terrorismo.
Pelas
oito horas do mesmo dia, duas explosões semearam o medo e a morte no aeroporto de
Bruxelas, sendo que o outro engenho explosivo não deflagrou e foi desativado
pelas autoridades. Mais tarde, as autoridades divulgaram imagens das câmaras de
vigilância do aeroporto com três homens a empurrar trolleys com malas, em que dois ter-se-ão feito explodir e o
terceiro encontra-se em fuga. Passada uma hora, na estação de metro de
Maelbeek, mesmo no centro de Bruxelas e perto das Instituições Europeias, uma
bomba deflagrou numa carruagem. Destaque-se que os ataques aconteceram dias
após Salah Abdeslam, principal responsável pelos atentados de Paris, ter sido
capturado em Bruxelas. Entretanto, a rede metropolitana foi encerrada, os
edifícios circundantes foram evacuados, os transportes condicionados e as
forças de segurança foram reforçadas. A partir daqui, a Bélgica entrou em
estado de alerta máximo.
A
bomba do metro foi detonada por Khalid El Bakraoui e as do aeroporto foram
detonadas pelo seu irmão Ibrahum El Bakraoui e Najim Laachraoui. O Presidente
da Turquia anunciou que Ibrahim já havia sido detido e deportado pelas
autoridades turcas em 2015, após ter sido apanhado junto à fronteira com a
Síria. Mas como se tratava de um cidadão belga pôde escolher para que país
queria ser enviado, tendo o terrorista escolhido a Holanda. Erdogan afirmou que
as autoridades belgas e holandesas foram informadas que este podia ser um
jihadista do Estado Islâmico, mas que este tinha sido libertado por falta de
provas que o ligassem a atividades terroristas. O Ministro da Justiça belga
rejeitou as afirmações de Erdogan quanto aos avisos emitidos pela Turquia
relativamente a Ibrahim.
À
medida que as investigações prosseguem, as autoridades belgas enfrentam acusações
de leniência e por falharem em desenvolver uma rede de fontes no seio das
comunidades onde os terroristas florescem.
Longe
das ideias terroristas, alguns elementos da comunidade muçulmana fizeram
questão de se mostrar indignados com os ataques terroristas, afirmando que a
religião que professam é pacífica e que os que realizaram tal ato não são
muçulmanos. O Imã da Mesquita de Bruxelas, Mohamed Galaye Ndiaye, fez questão
de tornar pública a sua posição de repúdio face aos ataques cometidos em nome
do Islão.
A Câmara Municipal de Paris prestou homenagem às vítimas dos
atentados, com um minuto de silêncio na abertura de uma sessão solene, na
presença do presidente da Câmara da capital belga. Yvan Mayeur foi à capital
francesa para conhecer as medidas tomadas pela autarquia na sequência dos
ataques de 13 de novembro em Paris. Para Mayeur estamos numa era distinta e
precisamos de viver nesta dimensão, mas também temos de continuar a acreditar
que o nosso modelo multicultural, como se verifica em Paris, Bruxelas, Londres
ou Nova Iorque, é aquilo que pretendemos ser.
A França e a Europa fecharam os olhos à
radicalização islâmica, disse o Primeiro-Ministro francês Manuel Valls. O chefe do governo francês admite que as
autoridades francesas ignoraram a expansão do movimento Salafista, essencialmente
nos bairros onde a combinação do tráfico de droga com o radicalismo islâmico
perverteram uma parte da juventude. Trata-se de outra guerra, porque o terrorismo, este
terrorismo, o Estado Islâmico, quer destruir-nos, quer destruir os homens e mulheres
que somos, o nosso modelo de vida, declarou Valls. Os atentados em Paris como
em Bruxelas foram ataques contra o que somos, contra as pessoas que estão nas
esplanadas dos cafés, que apanham o avião ou o metro.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini,
não conteve as lágrimas quando abordou os atentados, mas afirmou com toda a
clareza que será a ação e a real cooperação entre as forças de segurança à
escala global que se domará o monstro do terrorismo.
Para terminar este assunto, os ministros do Interior dos 28 membros da União Europeia discutiram
as respostas a dar ao ataque islamita. Tratou-se de uma discussão sobre as
mesmas medidas discutidas há pouco mais de quatro meses, após os atentados de
13 de novembro em Paris. Mais uma vez está em questão o controlo das fronteiras
externas da UE, a partilha de informações entre os Estados membros e a adoção
de um sistema de controlo de dados dos utilizadores dos transportes aéreos,
conhecido como PNR (Passenger Name Record),
que permite a recolha de dados de viajantes de fora da UE para a UE e
vice-versa, assim como dos passageiros de voos no espaço europeu, ainda que,
neste último aspeto, sem caráter obrigatório.
Sara
Correia, n.º 216287
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