sexta-feira, 15 de abril de 2016

Efeitos colaterais de um conflito mal resolvido

     Desde o início de Março de 2011, altura em que se assistiu aos primeiros protestos pró-democracia levadas a cabo por grupos de estudantes sírios que exigiam a demissão do governo de Assad e que foram violentamente reprimidos por parte das autoridades e levaram á prisão destes estudantes, que se verifica neste país uma onda de propagação da violência que conduziu a uma guerra civil. Esta situação foi provocada pelos meios de repressão utilizados pelas das forças do regime e agravou o cenário de tensão social que provocou uma guerra civil que atingiu o seu pico em 2012, altura em que chegou a Damasco e Alepo.
     A ONU tem relatado situações de violação dos direitos humanos no decorrer do conflito entre os rebeldes e as forças do regime, situações que estão bem expressas nos relatórios elaborados por comissões especializadas desta organização que evidenciam situações de violação dos direitos humanos realizadas por ambas as partes. Entre elas encontram-se assassinatos, torturas e sequestros, bem como a utilização de restrições ao acesso a alimentos e serviços médicos às populações como método de guerra.
   Segundo recentes normas de direito internacional, a situação de desrespeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos que se verifica na Síria atribuí o direito a que forças eternas possam realizar intervenções militares para garantir a protecção dos mesmos. Tal tem vindo a ser feito pelos exércitos de numerosos estados-membros da UE, num conflito que se prolonga até aos dias de hoje e que não parece ter um fim próximo tendo em conta a distribuição da correlação de forças entre os aliados de Assad e as forças que se lhe opõem, visto que a Rússia neste momento tem apoiado o regime sírio na guerra, fornecendo recursos militares par a defesa de posições estratégicas e tem alinhado no discurso de responsabilizar os rebeldes por todas as acções militares que têm imposto sofrimento á população civil.
     Neste momento, tendo em conta que a solução para o conflito se afigura cada vez mais difícil devido ao extremar de posições por parte da EU e da Rússia relativamente á solução política a seguir para a Síria. Assim, pode-se explicar facilmente a razão pela qual as conversações diplomáticas que foram realizadas até hoje entre as partes fracassaram no seu objectivo de alcançar a paz na Síria. O apoio russo á luta do exército sírio tem conduzido á aplicação de sanções restritivas da circulação de capitais e da cooperação económica com este país e este factor tem contribuído para dificultar a resolução deste conflito, numa altura em que o estado islâmico já ocupou várias cidades do país, fazendo uma autêntica “ Guerra dentro da Guerra”, combatendo os próprios rebeldes e os curdos por quererem impor novas tácticas de guerra.
    A questão central consiste no facto de a União Europeia já se ter apercebido de que precisa da Rússia para impor uma solução para o conflito sírio que passe por um governo de transição, mas este cenário está bloqueado pela exigência Russa de que esta renovação política deve incluir a figura de Assad, o que tem bloqueado as negociações.
     Dando continuidade à sua política externa de alianças estratégicas com o Médio Oriente, a Rússia tem mantido uma posição nas conversações com o Conselho de Segurança da ONU que reitera o respeito pela soberania e integridade territorial da Síria, posição essa que tem sido muitas vezes expressa pela voz do Ministro da Defesa russo que tem pressionado as instituições internacionais alegando que os acordos de cessar-fogo que foram celebrados tinham sido constantemente violados pela Turquia. Os EUA vetaram a resolução proposta pela Rússia com a intenção de não deixar o sinal de que estavam a criticar a actuação de um membro da NATO com quem possuem relações diplomáticas privilegiadas.
     Desta forma, o a solução para o conflito na Síria dependerá da forma como for possível ajustar as posições entre os diversos membros da sociedade internacional de forma a garantir a protecção dos respectivos interesses económicos, sendo que me parece que a Rússia optará por uma diversificação das conversações com os EUA e as instituições europeias no sentido de tentar protelar o máximo tempo possível esta situação, o que já tem vindo a dar frutos uma vez que foi possível incluir o acordo de cessação das hostilidades na Síria, que inicialmente só vinculava Russos e Americanos, passasse a fazer parte do direito internacional. Tudo isto tem reforçado a posição Russa no conflito, que tanto acusava a Turquia de apoiar rebeldes sírios com ligações a organizações terroristas, o que tinha sido inicialmente usado por Putin para justificar os ataques aéreos ao país.

Tomás Simão 

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