Rape
is a weapon even more powerful than a bomb or a bullet.
Jeanna Mukuninwa
Seria
possível imaginar crimes mais horrendos do que aqueles com que diariamente
somos confrontados nas redes sociais e nos telejornais? A resposta a esta
pergunta, por um puro ocidental, seria tão automática como “não”. Este “não”,
pode não ser formado, necessariamente, por estupidez ou pela ilusão de que
todas as comunidades existentes no planeta vivem consoante os nossos parâmetros
culturais, mas sim, pelo simples desconhecimento de uma realidade que muitos de
nós nem imaginamos existir ou que tentamos ignorar da nossa vida confortável e
“desafogada” do mundo desenvolvido.
A
prática de agressões sexuais contra as mulheres não se revela uma novidade na
sociedade atual, porém, o que a maioria de nós talvez não tenha consciência é
de que, este tipo de crime é visto de forma distinta conforme a cultura a que
se pertence. Se na nossa cultura a violação ou a violência doméstica são
encarados como crimes puníveis por lei, onde o seu praticante deve ser julgado
pelo seu delito e é oferecida ajuda a diversos níveis às mulheres ou homens
vítimas deste abuso, paralelamente, num mundo onde as mulheres nem conhecem os
seus direitos tal não se verifica.
No
Congo, por exemplo, o ato de violação é
praticado como “arma de guerra”, deixando um longo rasto de aldeias devastadas,
mulheres traumatizadas, famílias fraturadas, maridos envergonhados e crianças indesejadas,
acabando por afetar longas gerações. “Só
no Congo, estima-se que mais de 200 mil mulheres e crianças tenham sido
violadas em contexto de guerra. Nesse país, nos últimos 20 anos nasceram mais
de 50 mil crianças resultantes destes crimes. Como não têm nome de pai, não
podem ter um cartão de identificação e serão vítimas do estigma toda a vida.”[1] Em resultado, e também, muito devido à elevação dos
homens relativamente às mulheres, o Congo veio a ser apelidado como “the rape
capital of the world” and “the world’s worst place to be a woman”, segundo os
altos funcionários das Nações Unidas.
Todavia, a prática deste crime de
guerra não se limita às fronteiras congolesas, o Iraque
e a Síria revelam-se, outros dois países bastante vulneráveis a este
comportamento, assistindo-se ao estabelecimento de um sistema codificado de
escravidão sexual pela ISIS (Islamic State of Iraq and Syria).
A constante objetificação das mulheres nestas
sociedades permite que este tipo de crimes se perpetue ao longo dos tempos,
sendo que só através da consciencialização e mudança de mentalidades se pode
por fim a tais monstruosidades. São diversos os programas e associações que
reúnem esforços para dar assistência na recuperação das vítimas de violação,
passando pela educação e elucidação dos direitos das mulheres, fazendo-lhes
transparecer que a violação não é o fim de uma vida.
Este crime que, só em 1998 foi
reconhecido como um crime contra a humanidade, pelo Tribunal Internacional para
a antiga Jugoslávia, permanece, ainda, em muitos dos recantos do planeta ileso,
sendo que a maioria prefere ignorá-lo do que colocar em prática as medidas
necessárias para lhe por termo. “Mas as violações em
massa, o abuso de poder e a exploração sexual em contexto de guerra não é
novidade na história mundial. Aliás, é um cliché, daqueles que todos sabem, mas
ninguém quer falar. Basta olharmos para os últimos 100 anos da história da
humanidade e perdemos conta às situações em tanto semelhantes ao que se passa
na Síria. Durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados japoneses raptavam
mulheres e meninas sul-coreanas e punham-nas em bordéis para que os soldados
pudessem “aliviar a tensão” […] Na
mesma época, os russos fizeram o mesmo às alemãs, por exemplo, e os alemães
fizeram-no às russas, às polacas e por aí fora.”[2]
Mary
e Mukuninwa, conseguiram reunir a
coragem necessária para relatar o crime de que foram alvo no seio das suas
aldeias e lares. Ausentes e acompanhadas pelos seus demónios, estas duas
mulheres contam em pormenor o que aconteceu no dia em que as suas aldeias foram
atacadas, onde todos os homens e filhos foram mortos e torturados, ficando
apenas para trás mulheres e jovens crianças, dispostas à mercê dos soldados
como se de uma simples mercadoria se tratasse. A entrevista publicada pela
revista Time não é, claramente, para as almas mais sensíveis, os relatos são
verdadeiramente arrepiantes, mas têm a capacidade de nos colocar perante uma
realidade que muitos nós ignoramos, pois na maioria das vezes esta é desconhecida
e colocada de parte a quando da seleção de informação a ser noticiada.
Ana Leite nº
216283
Fontes:
[1]
Baseado em, Pinto, Paula, 2016. “Violações em tempos de guerra: o crime que
ninguém quer ver”. Disponível em http://expresso.sapo.pt/blogues/bloguet_lifestyle/Avidadesaltosaltos/2016-03-31-Violacoes-em-tempos-de-guerra-o-crime-que-ninguem-quer-ver.
Consultado a 4 de Abril de 2016.
[2] Idem,
Ibidem.
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