A
União Europeia tem-se deparado, na sequência dos conflitos na Síria provocados
pelo radicalismo do auto-proclamado Estado Islâmico, com um cenário de
migrações intensas no seu território. A denominada Crise dos Refugiados, a maior crise humanitária desde a II Guerra
Mundial, desencadeou na europa uma série de opiniões e posições, muitas vezes
antagónicas, por parte dos Estados-membros da U.E. A chegada de refugiados
sírios ao território da União Europeia começou a dar-se em grande escala, sendo
que as preocupações começaram a falar mais alto. Inicialmente a União Europeia
abriu os braços para receber aqueles que fugiam da guerra na Síria,
demonstrando assim os seus princípios de solidariedade e de defesa dos direitos
humanos. Contudo, esta realidade não durou. As consequências do alojamento dos
refugiados começaram a dar-se e a União Europeia começou a sentir dificuldades
no processo de tomada de decisões face a esta questão tão problemática.
Sob
proposta do presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker, a introdução
do sistema de cotas foi a primeira medida adoptada pela União Europeia, dada a
pesada invasão de que a Grécia foi alvo, tendo como objectivo a distribuição dos
migrantes pelos países membros. Mostrando-se insuficiente visto que a chegada
de migrantes ilegais ao território grego se manteve a União Europeia debateu-se
com a necessidade de estudar uma nova estratégia que estivesse de acordo com a
lei internacional e comunitária das Nações Unidas. Além disso, as diferentes
posições dos Estados-membros relativamente a esta problemática tornou este
processo mais complexo.
A
Alemanha recebeu mais de um milhão de refugiados e a Merkel afirmou a
necessidade da prossecução de uma política de solidariedade pelos parceiros
europeus, continuando a acolher refugiados. Já a Bélgica defende a construção
de campos de refugiados nas ilhas gregas para ser possível a triagem dos
migrantes, tendo já acolhido milhares de refugiados, facto que tem vindo a
destabilizar a sua política interna. Por outro lado, a Grécia cumpriu todos os
compromissos assumidos com Bruxelas, exigindo agora o apoio dos seus parceiros
europeus na recolocação dos milhares de refugiados que se encontram nas ilhas
gregas, tendo afirmado o ministro-adjunto da Defesa, Dimitris Vitsas que “A Grécia honrou os seus compromissos,
esperamos que os outros façam o mesmo. Vamos ver se a Europa quer manter a
solidariedade ou passar a ser um espaço em que cada um se fecha no seu castelo”.
Perante
este cenário os países da União Europeia viram-se obrigados a chegar a um
acordo, na tentativa de encontrar uma solução comum. Em Fevereiro do presente
ano a crise dos refugiados marcou o debate do Conselho Europeu em Bruxelas. Assim,
apesar de difícil, a viu-se na Turquia uma potencial solução para bloquear a
chegada dos migrantes às fronteiras externas da União Europeia, impedindo assim
o aumento extraordinário do número de refugiados no território europeu e
tentando conter o fluxo migratório no Mediterrâneo.
Desta
forma, foi encontrado um acordo entre a Turquia e a União Europeia assente no
principio de que todos os refugiados que entrarem ilegalmente na Grécia regressam
à Turquia, segundo o comunicado divulgado pelo Conselho Europeu, onde se pode
também ler que “Todos os novos migrantes
ilegais que chegarem à Grécia da Turquia para as ilhas gregas, a partir de 20
de março de 2016, serão devolvidos à Turquia. Tal [será feito] em plena
conformidade com a legislação comunitária e internacional, excluindo, assim, qualquer
tipo de expulsão coletiva. No entanto, para confirmar tal acordo a União Europeia aumentou a ajuda
financeira para os refugiados sírios e a Turquia deverá evitar a abertura de
rotas ilegais de imigração e cumprir as leis internacionais.
Assim,
o acordo realizado faz com que se estabeleça uma relação de compromisso entre a
União Europeia e a Turquia. A União Europeia encontrou no território turco um
local pertinente para serem recebidos os migrantes ilegais salvaguardando assim
os interesses dos seus Estados-membros. Para a Turquia este compromisso pode
significar alguma espécie de aproximação dos interesses e princípios da União
Europeia. As negociações entre a União Europeia e a Turquia são, de facto, um
momento único na história. Apesar de estar longe de ser concretizada a adesão
da Turquia à União Europeia, este acordo pode representar um novo estímulo nas
negociações relativas a essa adesão. Apesar do acordo relativo aos refugiados e
as negociações sobre a adesão serem questões distintas podem muito bem
influenciar-se mutuamente.
Esta
estratégia adoptada pela U.E ainda suscita dúvidas a muitos Estados-membros
dada a complexidade do problema em causa. Contudo, os primeiros refugiados
ilegais que chegaram às ilhas gregas já foram recambiados para a Turquia de
forma pacífica. Assim, a Turquia apresenta-se agora como uma espécie de
depósito de migrantes que a União Europeia não pode acolher.
Duas
questões permanecem: Será esta uma solução apropriada para a dimensão do
problema? E será que tal estratégia respeita as leis dos direitos humanitários
das Nações Unidas? No que diz respeito à primeira questão, apenas o tempo
poderá responder. No entanto, parece-me pouco provável que esta seja uma
solução duradoura e adequada, tendo em conta a posição estratégica da Turquia e
o perigo que tal posição pode representar para a União Europeia. Além disso,
Maria
João Rodrigues, eurodeputada socialista, defende que apenas a Europa pode
fornecer uma solução para a crise dos refugiados e que “A solução turca não é uma solução consistente, a prazo. A Europa não
pode transferir para a Turquia, uma solução que só a Europa pode fornecer.
Trata-se de assumirmos de uma vez por todas aquilo a que se deve chamar
soberania europeia. Estamos a falar de uma verdadeira fronteira europeia, capaz
de proteger Schengen, com padrões humanitários”, defendendo assim que a
União Europeia tem capacidade para acolher os refugiados sírios, não havendo
necessidade de os deportar para a Turquia.
Já
no que respeita ao cumprimento dos direitos humanos muitos analistas defendem
que esta solução não é válida e que viola os princípios de direitos humanos da
ONU: “a expulsão colectiva de
estrangeiros é proibida pela convenção europeia dos direitos humanos”.
Desta forma, também o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados,
Filippo Grandi afirmou que a solução adoptada pela União Europeia viola os
preceitos da lei internacional e humanitária.
Já
para não falar da ameaça à dignidade, à vida, à integridade dos migrantes que fogem
da guerra, da perseguição e da perversidade das acções do Estado-Islâmico! A
União Europeia tem capacidade de resposta para este problema, basta que se organize
perante uma solução comum, dando voz aos princípios de cooperação e
solidariedade em que se baseia e ao respeito pelos direitos humanos.
Mariana Dinis
- Falcão, Catarina – “União
Europeia. Quem quer o quê para resolver a crise dos refugiados?”- (2016)
Disponível em http://observador.pt/especiais/uniao-europeia-quer-resolver-crise-dos-refugiados/.
(Data de Acesso 5 de Abril de 2016)
- Martins, Nuno André –
“União Europeia chega a acordo com a Turquia sobre o mecanismo de refugiados” –
(2016) Disponível em http://observador.pt/2016/03/18/europa-chega-acordo-turquia/.
(Data de Acesso 5 de Abril de 2016)
- Siza, Rita - “Acordo sobre fluxo de refugiados entre
a UE e a Turquia é ‘uma não solução’” – (2016) Disponível em https://www.publico.pt/mundo/noticia/ue-e-turquia-mais-perto-de-um-acordo-sobre-fluxo-de-refugiados-1725513.
(Data de Acesso 5 de Abril de 2016)
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