O
mundo assistiu mais uma vez chocado quando há alguns dias foi revelado pelo
Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação que milhares de
multimilionários de 200 países (totalizando quase todos os países do mundo),
entre eles, banqueiros, políticos, criminosos e estrelas mundiais, escondiam
milhares de milhões de dólares, chegando possivelmente à casa dos biliões de
dólares, em paraísos fiscais e tudo por intermédio de uma empresa de advogados,
de nome Mossack Fonseca, com sede no
Panamá, sendo este país um conhecido paraíso fiscal. No total foram divulgados
11,5 milhões de documentos confidenciais referentes a mais de 214.000 contas offshores, por um funcionário da
referida empresa, que se auto-intitulou de Jane Doe (anónimo), a um jornal
alemão, que por sua vez, pela quantidade de documentos que estavam envolvidos,
decidiu pedir ajuda ao consórcio internacional de jornalistas de investigação, denunciante
agora de toda a situação.
Envolvidos
neste escândalo internacional estão os chefes de estado e/ou de governo actuais
da Argentina, dos Emirados Árabes Unidos, da Ucrânia, do Paquistão e da Arábia
Saudita, para além de ex-governantes e ex-políticos e suas famílias e
conhecidos de, como referido anteriormente, quase todos os países do mundo. A
que se soma um número indeterminado de banqueiros, accionistas de grandes
bancos multinacionais, alguns dos quais envolvidos na crise económica mundial
que se assiste desde 2008. Fazem ainda parte deste escândalo estrelas mundiais da
televisão, do cinema, do teatro, da música e do desporto, assim como
responsáveis da FIFA e da UEFA e ainda outras figuras de relevo ligadas a estas
áreas. Há também nesta lista criminosos, alguns mundiais, ligados a crime
organizado, terrorismo, tráfico humano, tráfico de droga, tráfico de armas,
lavagem de dinheiro, homicídio, roubos, etc.
O
escândalo da Mossack Fonseca atinge
proporções épicas e vem juntar-se a um mega escândalo de proporções
inimagináveis, porque para além de ser o maior de sempre envolvendo contas offshores, é apenas mais um de entre todos
os outros que antes dele foram divulgados, como o Luxembourg Leaks ou o Swiss
Leaks (ambos paraísos fiscais) e que no futuro se lhe juntará muitos outros, pois
se os Panama Papers estão apenas ligados a uma empresa, há que se extrapolar a
ideia de que muitas outras empresas em todo o mundo o fazem e das quais ainda nada
se sabe ou foi divulgado.
O
grande problema que está por de trás das contas offshores e dos paraísos fiscais, para além da possibilidade do
dinheiro envolvido em atos criminosos, é a massiva fuga aos impostos, porque
mesmo sendo uma das maiores chatices que as pessoas têm todos os anos, os
impostos não são dinheiro que as pessoas perdem, mas sim dinheiro que as
pessoas investem, num investimento a longo prazo, na sociedade, isto é, é com
esse dinheiro que são pagas, a educação, a saúde, a segurança social, a
segurança pública, os investimentos em infraestruturas públicas, que depois
todos usufruem, levando ao desenvolvimento da mesma (sociedade). No fundo é uma
troca, nos damos o dinheiro ao estado e o estado gasta esse mesmo dinheiro para
que nós, os cidadãos tenhamos os mais variados serviços e para que haja esse
tal desenvolvimento.
A
sociedade é baseada nisto, todos os cidadãos têm direitos, mas também têm
deveres, por isso é que é chocante assistir a um escândalo como este, em que os
mais ricos de uma sociedade, neste caso os mais ricos de toda a humanidade (a
elite mundial) não pagam impostos, sempre ou maioritariamente com a desculpa de
que não usufruem dos serviços públicos, porque podem pagar os mesmos serviços a
privados, com maior qualidade e em menor espaço de tempo (o que não é verdade,
pois uma premissa não explica a outra). Um dos problemas disso é que muitas
vezes acabam por usufruir muito mais do que os cidadãos das classes média e
baixa tendo em conta o que pagam, porque se tivermos apenas em atenção os
perdões fiscais, que os cidadãos das outras classes não têm direito e depois
formos ver as regalias que têm, nomeadamente e apenas ao nível das reformas,
que no caso português, chegam às centenas de milhares e que para muitas dessas
pessoas não lhes faz falta, porque já têm dinheiro que sobra, claramente todas
as outras classes pagam muito mais do que as classes mais ricas.
E
é ai que todo o sistema desmorona, porque se uns pagam e outros não, se as
classes média e baixa pagam e a classe rica não, o dinheiro que o estado
arrecada é menor e como consequência disso, os serviços degradam-se e se os
serviços públicos gratuitos deixam de existir com qualidade, está a criar-se uma
sociedade de ricos e outra de pobres, em que uns podem pagar tudo e outros por
não poderem pagar nada, têm de utilizar os serviços públicos degradados,
deixando de ter a qualidade de vida que todos merecem. Mas a maior hipocrisia
disto tudo, juntando-se já a toda a hipocrisia da situação, é que as mesmas
pessoas (políticos, banqueiros, economistas, advogados, etc.) que cometem estes
actos deploráveis são parte daquelas que vem dizer as classes média e baixa que
têm de deixar de ter tantos serviços, porque são esses serviços que estão a
sobreendividar os estados e não o facto, de entre outras questões, de a maioria
das pessoas que têm um rendimento de dezenas e centenas de milhares ou de
milhões não pagarem impostos, como todos os outros cidadãos fazem.
Diogo
Estudante
Fontes:
https://panamapapers.icij.org/
(Data de Acesso - 12 de Abril de 2016)
http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-04-03-Fuga-de-informacao-gigante-revela-esquemas-de-crime-e-corrupcao-no-mundo-inteiro-1
(Data de Acesso - 12 de Abril de 2016)
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