domingo, 17 de abril de 2016

União Europeia e Irão: We’ll always have Tehran

No passado dia 16 de Abril, Federica Mogherini, a Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e para a Política de Segurança, e outros Comissários Europeus iniciaram uma visita à República Islâmica do Irão, num contexto de levantamento das sanções à economia Iraniana em Janeiro de 2016, após a Agência Internacional para a Energia Atómica ter dado luz verde nas disposições relativas ao Irão presentes no histórico Acordo Nuclear E3+3. Assim, a potência regional que é o Irão, o mercado com mais de 70 milhões de consumidores e das maiores reservas de petróleo e gás do mundo, está aberto à UE.
O isolamento internacional do Irão (pelo menos, parcial, o era) terminou. E a UE tem aqui uma grande oportunidade, em especial na área económica e na área de política externa.
Na área económica, a UE tem uma oportunidade muito grande: Em 2011 (numa altura em que a UE já tinha sanções aplicadas ao Irão há alguns anos) as trocas comerciais entre ambas as partes eram muito significativas. Hoje, o Irão tem vários desequilíbrios na economia que tem de corrigir, como por exemplo, a infraestrutura antiquada e decadente. Para isso, o Irão precisará de competências técnicas que a UE pode oferecer, por exemplo, para a infraestrutura da rede eléctrica. Além desses desequilíbrios, construtores europeus de carros e aviões (apenas para dar o exemplo), podem aqui ter um destino para a exportação uma vez que as frotas aéreas e rodoviárias Iranianas estão muito velhas em necessitam de renovação: algumas construtoras europeias de carros já anunciaram o seu regresso ao Irão e o Governo Iraniano anunciou a compra de 114 aviões da Airbus e 40 da ATR (ambos fabricantes europeus) - estima-se que o Irão vá gastar 50 mil milhões de dólares na compra de aviões – é uma oportunidade que não se pode deixar passar. Além dos benefícios económicos mais “óbvios”, há o da questão do petróleo e do gás. A UE tem todo o interesse em importar mais gás e mais petróleo do Irão. E isto não é uma questão apenas económica mas sim uma questão de geopolítica. Com o Irão, a UE pode libertar-se da dependência energética que tem face à Rússia e que tantos problemas já criou e que tantos condicionalismos ainda impõe. Isto é extremamente importante.
Já no campo da política externa, o Irão é crítico para que se possa resolver o conflito na Síria, devido ao seu apoio incondicional a Bashar al-Assad, algo que nem a Rússia dá (aliás, a Rússia e o Irão estão separados no que toca à resolução da guerra na Síria, com a Rússia a preferir uma solução política e o Irão a preferir uma solução militar que mantenha Assad no poder). E quem fala na Síria, fala nos outros conflitos, como o do Iémene, em que a guerra por procuração Arábia Saudita contra Irão se verifica. A UE pode aqui ter um papel essencial na resolução desses conflitos, tal como o teve no Acordo E3+3.
Uma nova etapa nas relações entre a União Europeia e o Irão começa a ganhar forma. Ambas as partes têm muito a ganhar, seja no plano económico e externo como vimos, seja noutros como o humanitário, o de desenvolvimento humano (aqui mais o Irão) ou cultural. UE e Irão já tiveram boas relações até azedarem devido ao nuclear. Com esse assunto resolvido, a UE consegue dizer “We’ll always have Tehran”.

Gustavo Gomes Nº 216302

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