terça-feira, 3 de maio de 2016

A Situação Política Angolana: Oportunidades para a Política Externa Portuguesa

A política externa portuguesa apresenta como principais directrizes a sua vocação universalista e humanista, baseada numa aposta forte no multilateralismo nas relações internacionais. Esta estratégia passa também por valorizar a promoção da língua portuguesa no mundo, assumindo relações privilegiadas bilaterais com várias regiões do mundo, assentes na cooperação económica e social que possibilite uma difusão de conhecimentos e culturas.
Esta linha de acção tem sido bastante privilegiada nas relações de Portugal com Angola, verificando-se um crescente incremento do comércio e encontros diplomáticos nos últimos anos, sendo que, desde 2013 ao volume de trocas comerciais entre os dois países atingiu os cinco mil milhões de euros, sendo de referir que a maior fatia de exportações portuguesas incidiu no campo da maquinaria e dos aparelhos industriais.
Assim, podemos afirmar que surgem novas oportunidades de negócio para as empresas portuguesas, particularmente no campo das infra-estruturas, tecnologias de informação educação. No que toca ao último sector referido, e tendo em conta que é uma das prerrogativas do governo português a definição das grandes linhas orientadores e prioridades da política externa portuguesa, a aposta na facilitação de transferências de capitais e de equipamentos tecnológicos, aliada á situação de crise económica que se verifica em Angola que obriga o país a uma reforma institucional profunda que facilite a instalação de empresários portugueses, pode constituir um importante marco de afirmação dos interesses portugueses na região.
Neste sentido, a capacidade de reforçar a presença cultural portuguesa em Angola poderá ser garantida com a formação de quadros angolanos nos mais diversos sectores de actividade como a agricultura, o comércio ou a saúde, num país que se confronta com enormes desafios que colocam sérios entraves ao seu progresso económico e social, tais como a falta de mão-de-obra qualificada, infra-estruturas tecnológicas degradadas, escassez de bens alimentares e fala de condições para atrair economias externas.
No que toca ao ensino da língua portuguesa nas escolas deste país, trata-se de afirmar a cultura portuguesa e os seus respectivos valores na comunidade dos PALOP, um objectivo central da nossa política externa.
Os constrangimentos impostos pela participação de Portugal na EU, associados ao cumprimento de regras económicas que decorrem da integração no Mercado Único não prevêem quaisquer obstáculos à cooperação empresarial entre os dois país no que diz respeito à diversificação das relações económicas e ao investimento estrangeiro com o objectivo de recuperar os sectores produtivos Angolanos, o que traria vantagens evidentes no que toca ao apoio da internacionalização da economia portuguesa.
O reforço dos laços de cooperação entre os dois países implica um esforço colectivo que deve envolver todos os agentes sociais, como as universidades, as empresas, os hospitais, institutos, as autarquias e outros órgãos da administração pública. Desta forma, abre-se o caminho para a construção de uma relação diplomática fraterna e douradora, que passa também pela promoção da defesa da democracia e do respeito pelos direitos humanos com o recurso ao reforço das instituições políticas que deve contar com o apoio de toda a comunidade internacional, tendo em vista a reconstrução da estabilidade política e social depois de um período conturbado do pós-guerra que se vive desde o início do século e que conheceu uma das suas situações mais visíveis com o recente caso de Luaty Beirão.
Chegou o tempo de por termo á ingerência política que se tem verificado em alguns momentos na política externa portuguesa, na qual os responsáveis políticos tecem considerações sobre a forma como se deve organizar o poder político angolano e também sobre o funcionamento da justiça neste país, o que só contribui para manchar a imagem externa e a honra das nossas instituições e do nosso país. Assim, os responsáveis diplomáticos deverão focar-se no que realmente é importante, a construção de uma relação diplomática sólida e madura entre as duas partes, que contribua para a afirmação da lusofonia e dos interesses de Portugal na região e que esqueça definitivamente as querelas ideológicas que estão por detrás de conspirações que apenas servem para aumentar a crispação entre os responsáveis políticos de cada um dos países.

Tomás Simão

Fontes:
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/a-politica-externa-portuguesa-e-angola-3478880.html
http://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/1725/1/NeD64_RuiAlbertoVDRodriguesMingas.pdf

http://www.pmeportugal.pt/PME-NA-HORA/Conhecimento/Internacionaliza%C3%A7%C3%A3o/ANGOLA-%E2%80%93-Um-mercado-de-Oportunidades.aspx

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